O Ministério do Púlpito (6): Saber Discernir o Tempo


Estivemos no passado domingo a pregar no culto da manhã da nossa igreja, a Evangélica Baptista da Amadora. O título da mensagem foi “Saber Discernir o Tempo” (LER), tendo como texto de apoio Mateus 24:1-14. Este capítulo, segundo alguns reputados biblistas, é um dos mais difíceis de interpretar do Novo Testamento, tal como o livro de Apocalipse, visto que envolve complexos temas escatológicos. Mesmo assim, procurámos não entrar demasiadamente em especulações teológicas e atermo-nos apenas aos aspectos práticos de cada um dos versículos em apreço. 

Talvez o texto mais decisivo para compreendermos holisticamente toda a teologia por detrás das afirmações proféticas do Senhor Jesus Cristo foi o facto d`Ele ter livremente saído do templo (Mateus 24:1). Esta saída coincidiu com a Nova Aliança pré-estabelecida por DEUS, desde os primórdios do mundo, e revelado no Antigo Testamento. Por isso, não foi uma saída qualquer como Ele fez em outras ocasiões do Seu ministério terreno. O Filho do Homem retirou-se definitivamente do templo para nunca mais voltar a entrar nele. Abandonou-o triste com a adulteração do culto a que ele foi infelizmente reduzido pelas polutas autoridades judaicas, permitindo assim o sacrilégio dos vendilhões dentro dele (LER), somando a incredulidade do povo em relação à Sua pessoa, não obstante as inúmeras tentativas do Senhor Jesus em congregá-los como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas. No entanto, eles deliberadamente não quiseram (Mateus 23:37), confirmando-se as palavras do Evangelista João sobre o Messias que “veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (João 1:11). São factores determinantes que condicionaram esta inevitável saída do Filho de DEUS do templo, máxime a concretização plena do Seu Reino na Terra. Podemos extrair, de forma cristalina, esta conclusão nos últimos dois versículos do capítulo anterior que expressamente diz: “eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta; porque eu vos digo que, desde agora, me não vereis mais” (Mateus 23:38-39). A Glória do Senhor foi-se embora do pomposo templo (Marcos 13:1-2). O outrora espaço sagrado de “shekiná” ficou irreversivelmente desabitado pelo Eterno Jeová. Já não é mais a casa do Todo-Poderoso DEUS, tal como inúmeras vezes foi apelidado nas Escrituras Sagradas, mas sim “a vossa casa”, isto é, dos incrédulos judeus e as suas ímpias autoridades. Em consequência disso, o anátema templo foi completamente destruído nos anos 70 d. C pelo império romano. 

E tal como sustenta o agora emérito papa Bento XVI: “Jesus amara o templo como propriedade do Pai (cf. 2, 49) e comprazera-Se em ensinar nele. Defendera-o como casa de oração para todas as nações e tinha procurado prepará-lo para tal fim. Mas sabia também que o período desse templo terminara e que algo de novo chegaria, relacionado com a sua morte e ressurreição” (in Jesus de Nazaré [Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição], Principia, Cascais, p. 39, 2011). Com efeitoeste algo novo é a instauração da “era dos gentios”, que se traduz na universalidade do Evangelho para todos os povos à face da Terra e a inauguração espiritual do novo templo (não feito pelas mãos humanas) no coração dos eleitos filhos de DEUS. O judaísmo passaria assim para um estado de desuso religioso em detrimento da ascensão universal do Cristianismo. 

Os discípulos, de acordo com o texto sagrado, perguntaram-Lhe: “dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo?” (Mateus 24:3). Fazia-lhes imensa confusão a sentença do Senhor Jesus sobre o templo, pois tal sentença advém da sequência imediata dos discípulos lhe chamarem a atenção para a beleza da construção do templo (Mateus 24:1). Extraímos aqui, nesta curiosidade dos discípulos, três importantíssimas perguntas feitas ao Senhor Jesus, diferentemente de alguns biblistas que têm outra leitura. A primeira pergunta prende-se com os acontecimentos anunciados pelo Senhor Jesus sobre a destruição do templo; a segunda que sinal haverá da Sua vinda e, a última, o tempo exacto do fim do mundo. Aliás, os discípulos voltaram a interrogá-Lo sobre esta mesma temática momentos antes da Sua ascensão aos céus (Actos 1: 6). Apesar de toda esta natural curiosidade humana sobre os mistérios ocultos, o Senhor Jesus não revelou com total precisão o dia e a hora em que Ele há-de vir (Mateus 25:13), porque ninguém mesmo sabe: nem os anjos no céu, nem o Filho. Só o Pai é que conhece este recôndito mistério (Mateus 24:36)

O Senhor Jesus Cristo, sentado no Monte das Oliveiras com autoridade divina para ensinar, e não como a dos doutores da lei (Mateus 7:29), respondeu sabiamente às referidas questões com as seguintes advertências: “acautelai-vos, que ninguém vos engane” (Mateus 24:4). A constante vigilância espiritual é fundamental para o sucesso da vida Cristã. Ela é, sem margem para dúvida, o antídoto para discernirmos correctamente os pseudo-messias e concomitantemente saber compreender plenamente em que tempo estamos de facto a viver (Mateus 24:42; Romanos 13:11), bem como detectar os dissimulados profetas. Isto porque surgirão falsos cristos e profetas e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos de DEUS (Mateus 24:24; Marcos 13:7; 22; 2 Tessalonicenses 2:9-11). E, de seguida, o palco será de guerras e rumores de guerras ao redor do mundo, mormente a implacável perseguição e o martírio dos Cristãos. Por aumentar, de forma rápida e implacável, a iniquidade o amor de muitos esfriará. Nesta altura inúmeras pessoas apostatarão a fé. A galopante traição, o ódio, a heresia, o escândalo, a falsidade, as guerras, serão comuns no seio dos seres humanos, inclusive dentro das igrejas. Podemos constatar essas inequívocas verdades na pandemia que o mal exercerá na vida das pessoas, através dos versículos 5, 10, 11 e 12 do mesmo capítulo. A palavra “muitos” vai-se repetindo seis vezes nos primeiros doze versículos, sempre com a conotação pejorativa, com intuito de dar ênfase as calamidades daqueles tenebrosos dias. Os autênticos Cristãos sentirão na pele o preço de ser o testemunho fiel do Senhor Jesus Cristo. Mesmo assim, a Igreja triunfará e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mateus 16:18;2 Tessalonicenses 2:8)

O discurso escatológico do Senhor Jesus já se cumpriu parcialmente. Nos anos 70, tal como supra mencionado, Jerusalém foi conquistada pelos romanos, e, consequentemente, o templo profanado e destruído. Segundo o historiador judaico Flávio Josefo, mais de 1 100 000 pessoas perderam a vida com a estrondosa queda de Jerusalém. Outros historiadores entenderam que o número dos mortos é um pouco inferior relativamente ao que Josefo registou. De qualquer das maneiras, não deixa de ser uma autêntica carnificina. Por conseguinte, tudo isto configura apenas “o princípio das dores”, que terá o seu ápice com o grande acontecimento da Segunda Vinda do Senhor Jesus e do fim do mundo. O cenário geral será tremendamente catastrófico. A Humanidade assistirá ainda aos piores horrores, que cairão sobre a face da Terra. A começar, desde logo, com fomes, pestes e terramotos em vários lugares (Mateus 24:7). As potências dos céus serão profundamente abaladas (Mateus 24:29). O livro de Apocalipse relata-nos, com maior alcance prático-teológico, esta monstruosa situação, sendo óbvio que tudo procederá com a soberana permissão Divina. E se o Senhor não abreviasse aqueles dias, escrevia inspiradamente o Evangelista Marcos, nenhuma carne se salvaria; mas, por causa dos escolhidos, que escolheu, abreviou aqueles dias (Marcos 13:20).  Neste cenário maquiavélico, da era dos gentios, próximo já do fim do mundo, coincidirá também com a predestinada salvação dos judeus, pois todo o Israel será salvo (Romanos 11:26-27; Isaías 59:20-21). O povo hebreu acabará por converter-se ao Cristianismo e reconhecerá o Messias como “bendito o que vem em nome do Senhor” (Mateus 23:39). 

Uma outra pertinente questão que se levanta neste importante discurso escatológico prende-se, sobretudo, com a forma como vai acontecer a Segunda Vinda do Senhor Jesus Cristo. Dito por outras palavras, quando e como será a volta do Messias? Poderá Ele, porventura, voltar a qualquer momento? Sobre estas difíceis perguntas tem havido profundas divergências doutrinárias no meio dos teólogos de várias denominações dentro do Cristianismo. Uns entendem que o Senhor Jesus não pode voltar a qualquer momento, porque faltam ainda cumprir determinados sinais preditos nas Escrituras Sagradas, nomeadamente a pregação do Evangelho a todas as nações (Mateus 24:1-14; Marcos 13:10), os abalos dos céus (Mateus 24:29-30; Marcos 13:24-26; Lucas 21:25-27), o aparecimento visível do anticristo (1 João 2:18; 2Tessaloninceses 2:1-10), a grande tribulação (Mateus 24:15-22; Marcos 13:7-8; Lucas 21:20-24), a salvação de Israel (Romanos 11:12; 25-26). Outros, de forma peremptória, discordam deste entendimento, invocando que os referidos sinais já ocorreram, razão pela qual apelam aos crentes a permanente vigilância no sentido que o Senhor Jesus poderá voltar a qualquer momento. 

De facto, à luz das Escrituras Sagradas, há passagens bíblicas que concorrem para sustentar as duas posições em simultâneo. Como, então, harmonizar as duas apologias teológicas? Julgamos que, para um maior engajamento espiritual, devemos estar mentalizados todos os dias que o Senhor Jesus poderá voltar a qualquer momento. Ademais, somos inteiramente da opinião que dificilmente os crentes estarão completamente cientes da concretização plena dos eventos futuros que precederão a Segunda Vinda do Senhor Jesus, razão pela qual a nossa ignorância nesta matéria não invalida o regresso repentino do Filho do Homem. Desde logo, não se pode refugiar nos sinais supra invocados para objectar a vinda momentânea do Senhor Jesus, nomeadamente o facto do Evangelho ainda não ter sido pregado a todas as nações, uma vez que o Apóstolo Paulo vai ao ponto mesmo de sustentar que o referido Evangelho “já chegou a vós, como também está em todo o mundo; e já vai frutificando, como também entre vós, desde o dia em que ouvistes e conhecestes a graça de Deus em verdade” (Colossenses 1:5-6). E no versículo 23 do mesmo capítulo foi ainda mais categórico em afirmar que o “evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda a criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro”. O caro leitor, perguntar-se-á: como é possível o Evangelho já ter chegado a todo o mundo e a toda a criatura logo no início do primeiro século? A resposta prende-se com o facto dos céus manifestarem a glória de DEUS e o firmamento anunciar a obra das suas mãos, fazendo com que a sua proclamação chegasse até ao fim do mundo e a sua mensagem fosse ouvida nos confins da Terra (Salmos 19:1-4). É a própria revelação universal de DEUS que acaba por ser a portadora fiel do Evangelho para toda a criatura, razão pela qual os homens são manifestamente indesculpáveis diante do Todo-poderoso DEUS (Romanos 1:18-21)

A nossa segunda objecção em relação ao cepticismo sobre a ocorrência da grande tribulação, é entendermos que jamais conseguiremos conceber na íntegra a medida proporcional deste sinal. Descortinar as linhas divisoras entre a tribulação e a grande tribulação não é, de todo, tarefa de somenos. No entanto, não será grande tribulação a constante e feroz perseguição que a Igreja de Cristo tem sofrido ao longo dos tempos por parte de alguns imperadores romanos e, posteriormente, pela União Soviética, os países muçulmanos e a China? Como é que o leitor qualificaria esta implacável hostilização dos Cristãos, inclusive de um inúmero incontável que vão sendo martirizados todos os dias pelo seu nobre testemunho do Evangelho? 

Quanto aos abalos literais das potências dos céus temos, em abono da verdade, algumas dúvidas sobre a sua ocorrência. Com efeito, somos da opinião que este sinal não será obstáculo à vinda repentina do Senhor Jesus, no sentido que ele poderá possivelmente ocorrer num curto espaço do tempo da Segunda Vinda do Filho de DEUS. Chegámos a esta conclusão em analogia com a forma como os céus foram drasticamente afectados aquando da crucificação do Senhor Jesus. A partir do meio-dia, escrevia o evangelista Mateus, “toda a terra ficou na escuridão até às três horas da tarde (…) A terra tremeu a as rochas estalaram. Os túmulos abriram-se e muitos dos justos falecidos ressuscitaram. Saíram dos seus túmulos e, depois da ressurreição de Jesus, entraram na Cidade Santa, onde muita gente os viu” (Mateus 27:45; 51-53). Este abalo cósmico durou apenas três horas até à morte do Senhor Jesus. Por que razão, caro leitor, não podem os sinais assombrosos no céu durar igualmente pouco tempo de intervalo com a Segunda Vinda do Senhor Jesus Cristo? Já parou para pensar nisso? 

Entrando no sinal concernente à manifestação visível do homem da iniquidade, o filho da perdição, o anticristo (1 João 2:18; 2 Tessalonicenses 2:1-10), não temos margem para dúvidas que tem havido vários anticristos ao longo da História. No entanto, não são estes a que as passagens bíblicas especificamente se referem. É a rebelião em pessoa, o último e pior da série de anticristos, a besta relatada no capítulo treze do Apocalipse. Muitos distintos teólogos e Cristãos não hesitaram em considerar os antigos imperadores romanos, principalmente Nero, Domiciano, como sendo autênticas figuras de anti-cristo, uma vez que autoproclamaram-se DEUS e exigiram culto aos seus súbditos. Outros julgaram que poderá ter sido Adolf Hitler, Joseph Stalin e até mesmo um dos papas da igreja católica, tendo em conta a perseguição que esta infringiu severamente aos Cristãos Evangélicos com a Reforma Protestante e a forma como o papa é venerado por muitos fiéis católicos, sem este pôr em causa tal flagrante idolatria. E a pertinente questão que se levanta é a seguinte: será, de facto, que uma dessas figuras poderá ser mesmo o anti-cristo? Eis o mistério que nos interpela. 

E, por fim, o sinal da salvação de Israel. Não entraremos nas várias especulações de que este sinal tem sido objecto pelos vários teólogos ao longo dos tempos, contudo comungamos inteiramente da opinião expressa nas Escrituras Sagradas que “todo Israel será salvo” (Romanos 11:26). E entendemos ainda este “todo Israel será salvo” como os eleitos judeus, que DEUS decretou soberanamente para a salvação – tanto os que foram salvos no passado como nos dias de hoje, ou os que vão sendo salvos depois da plenitude da “era dos gentios”, que acima destacamos. Depois disso, o povo judeu, reconhecerá definitivamente o Senhor Jesus como “bendito o que vem em nome do Senhor!” (Mateus 23:39). E, assim, confirmar-se-ão as inspiradas palavras do Apóstolo Paulo sobre esta realidade: “se o pecado dos judeus foi para proveito do mundo e a sua perda serviu para riqueza dos outros povos, quanto maior não será a bênção de Deus quando os judeus se converterem” (Romanos 11:12). A expressão “todo Israel será salvo” não deve ser entendida literalmente, visto que “nem todos os descendentes de Israel são o povo de Israel. Nem todos os descendentes de Abraão são seus verdadeiros filhos (…) Quer isto dizer que não são filhos de Deus os que nascem segundo a natureza. Apenas os que nascem conforme a promessa de Deus é que são considerados como seus verdadeiros filhos (Romanos 9:6-8). É nesta óptica espiritual que se deve entender e encarar a expressão “todo Israel será salvo”, isto é, apenas os judeus que fazem parte da promessa de DEUS para a salvação. Isto porque muitos judeus não passam de filhos do diabo, estando ao serviço dele, tal como o Senhor Jesus vai intrepidamente denunciar (João 8:41-44). Em suma, não entendemos a frase “todo Israel será salvo” como sendo todas as pessoas eleitas para a salvação (judeus e os gentios), nem tão pouco uma conversão em massa dos judeus no futuro, tal como muitos teólogos acerrimamente alegam, mas sim como os judeus que o Eterno DEUS predestinou para a salvação – podem ser poucos ou muitos. Podem, igualmente, vir a converter em massa muitos judeus no futuro como poderão ser um número bastante reduzido. Tudo dependerá da eleição de DEUS para com este povo. Por isso, a nosso ver, julgamos que este sinal não deve servir de pretexto para concluirmos que ele ainda não se concretizou; e que o Senhor Jesus não poderá ainda vir a qualquer momento. É uma realidade que transcende os nossos horizontes de conhecimentos. 

Partindo dos argumentos e contra-argumentos expostos, reiteramos a nossa humilde convicção que a Segunda Vinda do Senhor Jesus poderá acontecer a qualquer momento, não somente alicerçamos em inúmeros textos sagrados que apontam nesse sentido, mas também porque “sabemos em que tempo estamos a viver. Sabemos que já são horas de despertarmos do sono. A nossa salvação está agora mais próxima do que na altura em que recebemos a fé. A noite já vai longa e o dia está próximo” (Romanos 13: 11-12). Portanto, “Saber Discernir o Tempo”, de acordo com a Santa Palavra de DEUS, é o melhor antídoto para se triunfar espiritualmente. E isto passa por nos consciencializarmos das oposições, lutas, tribulações, perseguições, inclusive mortes, que muitos de nós poderemos sofrer por amor ao Evangelho. Mesmo assim, tais forças do mal não poderão pôr em causa a nossa já garantida salvação, bem como obstaculizar a propagação do Evangelho até aos confins do mundo. Ele, o Evangelho, de acordo com a Santa Palavra de DEUS, será poderosamente “pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim” (Mateus 24:14). Louvado seja DEUS agora e para todo o sempre. Que assim seja. E assim sempre será.