Onde Está o Espírito do Senhor Há liberdade



Qualquer Cristão Protestante que veio dos bancos da Escola Bíblica Dominical (EBD), desde a mais tenra idade, seguramente conhece esta linda música infantil. É um clássico Evangélico que encerra uma profundíssima mensagem de louvor e adoração. Aprendi-a ainda no longínquo tempo da classe primária da minha Igreja, em Bissau, e até hoje continuo saudosamente a cantá-la. A generalidade das crianças das nossas Igrejas conhecem-na perfeitamente. Enquanto o Senhor Jesus Cristo não voltar as próximas gerações vão certamente aprendê-la e entoá-la de forma sucessiva nos seus devocionais Cristãos. É um cântico que nos remete indubitavelmente para a liberdade plena que os crentes no Senhor Jesus têm de manifestarem, sem qualquer tipo de reserva ou inibição, o seu louvor e adoração diante do Altíssimo DEUS. Onde está o Espírito do Senhor, formulava o Apóstolo Paulo em tom exortativo, aí há liberdade (2 Co 3:17). Foi, aliás, a postura espiritual que o salmista David adoptou durante todo o seu percurso de vida (2 Sm 6:16; Sl 103:122; 145:1-21), assim como inúmeros heróis da fé ao longo da milenar história do Cristianismo. 

Nos finais do século XIX, mais precisamente com o advento do movimento pentecostal, tem surgido insanáveis querelas doutrinárias entre os biblistas protestantes sobre o modelo ideal de uma liturgia Cristã à luz das Escrituras Sagradas, levando as igrejas tradicionais a censurarem todas as manifestações que rotulam preconceituosamente de “ostentação” nos cultos públicos, tendo em conta a ênfase exacerbada que os movimentos carismáticos dão à espiritualidade de exposição. 

Há, a nosso ver, nestas duas leituras antagónicas, um défice bastante acentuado de interpretação das Escrituras Sagradas sobre o decoro cultual que se espera dos autênticos Cristãos no seu louvor e adoração ao Eterno DEUS. As igrejas tradicionais pecam pelo excesso de zelo neste ponto, bem como os pentecostais por defeito. Os primeiros traçam inflexivelmente um padrão universal de louvor e adoração para todas os países, culturas, sociedades e civilizações, reprimindo depois qualquer tipo de peculiaridade que possa eventualmente surgir nos cultos. E nesta visão ultra puritana e autoritária, despedida de qualquer fundamento bíblico, descuram factores sociológicos e da própria personalidade de cada um na forma de encarar a Fé e consequentemente manifestar a sua espiritualidade. Os segundos, de forma exagerada e desordeira, transformam os cultos, em determinadas situações, em autênticos espectáculos degradantes com vista alimentar a carnalidade e legitimação de uma falsa espiritualidade. Nem oito nem oitenta, diz a sabedoria popular. O pressuposto aferidor para um louvor e adoração ser aceite aos olhos do nosso Eterno DEUS é um espírito quebrantado e contrito (Sl 51:17), uma vez que DEUS “é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4:24). 

É o Espírito Santo que, em última instância, deve ser o arbítrio do nosso louvor e adoração em qualquer circunstância, razão pela qual se sentimos por parte do mesmo Espírito de DEUS motivação para dançar, pular, gritar, bater palmas, levantar as mãos e fazer qualquer outra coisa temos toda a liberdade de fazê-lo, sem quaisquer tipos de constrangimentos da Igreja e de terceiros, contando que tudo seja feita com decência e moderação, tal como requerem ordeiramente as Escrituras Sagradas (1 Co 14:26-40). Não podemos reduzir, em circunstância alguma, a nossa espiritualidade às convenções e preceitos polutos dos homens, sob pena de cairmos em vários riscos espirituais. Assim concebo. Assim entendo. Assim, acima de tudo, que penso. 

Que o nosso Todo-poderoso DEUS nos ajude a não cairmos nestes condicionalismos denominacionais e tradições dos homens que, em última instância, consubstancia uma falsa adoração. Que, de facto, possamos ser instrumentos nas Suas poderosíssimas mãos para Glória do Seu Grande Nome. Que assim seja.