Génesis e Etimologia do Etnónimo Bijagó


«Os Bijagós habitam no arquipélago com o mesmo nome, cuja denominação mais antiga é a das ilhas de Buam, assinalado na cartografia antiga a partir do século XV. Na sua língua, eles chamam-se Bidjigó (Odjógó, Odjokó), o que designa uma pessoa que possui duas dezenas de dedos, ou seja, uma pessoa inteira. De acordo com Carreira, o etnónimo Bidjógô, Budjógô em crioulo, seria derivado do termo Odjógô. Luís Álvares de Almada fala de Bigichos, termo que Dinis Dias retoma em Budjago ou Bidjágo e que ele afilia ao nome atual desta população. 

A origem dos Bijagós ainda hoje é muito controversa. Confrontam-se duas versões: uma mais antiga, apoia uma origem a partir do continente, de onde eles teriam sido expulsos pelos Biafadas (Francisco de Lemos Coelho [1943] e Domingos António Gomes) enquanto a outra versão vê neles os parentes próximos dos Biafadas ou dos Nalus (João Faria Leitão). Segundo o etnólogo Marcelino Marques de Barros, os Bijagós são o resultado da mestiçagem entre três grupos: 1) os Papeis de Bissau, instalados na ilha de Entoman ou Entomak (a “ilha dos suicídios”); 2) os escravos de origem diversa e 3) os Biafadas de Guínala. António Carreira parte da hipótese de uma origem do Fouta Djalon, de onde os Bijagós teriam fugido por razões políticas. Existem várias hipóteses, difíceis de verificar, em relação ao povoamento do conjunto do arquipélago. Adolf Ramos afirma que a população do Orango Grande é aparentada com a dos Pepeis de Bandim (um território de Bissau). A população das ilhas da Formosa e de Uno teria vindo do Orango Grande; a das Ilhas Eguba e Uracane de Uno e Orango; as ilhas de Ponta e de Maio seriam povoadas por povos da ilhas de Carache e Caravela, enviados pelos seus chefes (Carreira); os originários da ilha de Canhabaque são supostos serem parentes dos Tandas, que os fulas e os Biafadas teriam repelido para esta ilha. Tudo isto ilustra a extrema dificuldade em determinar a verdadeira origem dos Bijagós que, aliás, se consideram a eles próprios como Xangani (raça mista). 

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(Tcherno Djaló, in O Mestiço e o Poder [Identidades, Dominações e Resistências na Guiné-Bissau], Veja, 2012, Lisboa, p. 50).