De Tarde

Naquele pic-nic de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas
Em todo o caso dava uma aguarela,

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas,

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, ainda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas! (Cesário Verde 1887)