A Falsa Supremacia Espiritual dos Protestantes Para Com os Católicos


“Não agimos tão fanaticamente quanto os Schwärmer. Não rejeitamos tudo que esteja sob o domínio do papa. Porque assim deveríamos rejeitar também a igreja cristã. Muito do património cristão pode-se encontrar no papado e dele descende”. (Martinho Lutero, em “Teologia dos Reformadores”, de Timothy George, Editora: Vida Nova, São Paulo - SP, 2004).
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De facto, é preciso concordar em parte com a citação de Martinho Lutero. Nem tudo é mau na Igreja Católica, razão pela qual temos tido uma postura de quase completa abertura e de sintonia para com as novidades que vão surgindo no seio dos doutrinadores católicos (temos mais livros de teólogos Católicos do que propriamente de teólogos Protestantes; há um toque muito especial em ler os pensadores Católicos, afinal de contas, procedemos da Igreja Católica).

Contrariamente a esta nossa postura de abertura para com a Igreja Católica, traduzido no brocardo do Apóstolo Paulo de “examinar tudo e retende o bem” (1 Tessalonicenses 5:21) de tudo que vemos, lemos e ouvimos, os anti-católicos e protestantes radicais, na qual se destaca Gordon Rupp, conferiu John Wycliffe o título de “o Kierkegaard da baixa idade Média”. Levantou um causticante ataque contra aquilo que ele denomina de "cristandade de seus dias". Vai mesmo ao ponto de denunciar os sacerdotes católicos, chamando-os de “ladrões (…) raposas malignas (…) glutões (…) demónios (…) macacos” e os curas de “rebentos estranhos, não arraigados à vinha da igreja”. O papa era “o vigário principal do demónio”, e os mosteiros, “antros de ladrões, ninhos de serpentes, lares de demónios vivos” (Timothy George, in “Teologia dos Reformadores”, Editora: Vida Nova, pág. 38, São Paulo-SP, 2004.

E nós, na qualidade de cristãos Evangélicos Baptistas que somos (sem prejuízo da nossa clara e firme posição sobre a Igreja Católica, e, sobretudo, no que toca ao profundo desvio doutrinário pelo qual ela se deixou enveredar ao longo dos séculos) não subscrevemos na íntegra estes desproporcionados ataques, por entendermos que excederam manifestamente os limites que deviam acompanhar uma crítica saudável, até porque de acordo com a Escrituras Sagradas, DEUS não nos conferiu o título de juízes para julgarmos qualquer que seja a pessoa, muito menos, as Instituições (Romanos 14:4;10), antes pelo contrário, o papel que nos cabe é o de ajudar tais pessoas a reconhecer o seu próprio erro.

Todas as heresias e incongruências bíblicas que a Igreja Católica tem revelado ao longo da sua história não passam despercebidas a qualquer pessoa com a mínima sensibilidade e cultura bíblica. Mesmo assim, consideramos que todas essas incongruências e desvios doutrinários, são também praticados no seio das igrejas Evangélico-protestantes por ditos cristãos que assumem papel de verdadeiros crentes, mas que não passam no fundo de "falsos profetas que vêm disfarçados em ovelhas, mas interiormente são autênticos lobos devoradores" (JESUS CRISTO, em Evangelho s. Mateus 5:15).

Vejamos: se há confusão e heresias dentro da Igreja Católica, tal como os Evangélicos constantemente costumam invocar, as Igrejas Protestantes não são de todo imunes a essas mesmas heresias e adulteração da Palavra de DEUS; se há escândalos sexuais, corrupção, luta pelo poder e roubos de várias ordens (o termo correcto é furto) dentro do Catolicismo, também esses flagelos não deixam de afectar significativamente o nosso meio Protestante, com apenas uma única diferença: aqui, esses atentados bíblicos têm pouca projecção mediática perante os média, contrariamente ali, e tudo isso acaba por contribuir decisivamente  para o abafamento dessas horrendas infracções espirituais no círculo Protestante

É preciso reconhecer que o meio Evangélico-Protestante já não é o que era em termos da vivência prática irrepreensível da sã doutrina, que outrora demonstrou vivamente, fruto da herança recebida pelos grandes reformadores do séc. XVI, com excepção de algumas poucas denominações que ainda hoje continuam a ter a Bíblia Sagrada como a única regra de fé e prática, procurando, na medida do possível, correspondê-la espontaneamente na sua vivência quotidiana.

O mundo Evangélico-Protestante vive uma tremenda confusão doutrinária (de múltiplas ordens), como nunca antes visto desde a Reforma Protestante, que por sua vez vai reflectindo seriamente na superficialidade daqueles que um dia intitulam ser verdadeiros crentes, principalmente na forma de encarar a vida cristã em termos práticos. Estamos a caminhar lentamente para uma cegueira espiritual se não nos consciencializarmos rapidamente dos nossos erros e apelarmos para um avivamento espiritual, com vista a pedir a milagrosa intervenção divina nas nossas vidas.

Obviamente que a Igreja Católica sofre de imensos defeitos e desvios doutrinários que vão contra a Palavra de DEUS. Não obstante, nós os Evangélico-Protestantes não estamos tão distantes dessa mesma realidade. E para termos a moral de criticar os vícios da Igreja Católica, precisamos, em primeiro lugar, de reavaliar correctamente a nossa condição espiritual, para assim podermos emitir credíveis juízos de valores sobre as más práticas cometidas no catolicismo. Sem reunir estes requisitos indispensáveis as nossas críticas certamente não revestirão nenhuma autoridade.

Importa salientar que, apesar da ausência de um testemunho sério (em termos bíblicos) na Igreja Católica, ela tem demonstrado ao longo dos séculos coerência e consistência na sua linha doutrinária, contrariando assim os ventos e mares da modernidade e, sobretudo, os lobbys poderosos que se têm levantado no sentido de fazê-la mudar a todo custo da sua rígida orientação teológica, infelizmente facto que não se verifica em muitas das denominações Protestantes, que tão facilmente deixam levar por artimanhas dos homens, ajustando-se o modelo e à mentalidade do presente século.

Perante tudo o que ficou dito, e de uma forma resumida: Os Evangélicos deviam cultivar mais a postura de humildade para com os Católicos, no sentido de aproveitar aquilo que é de bom no meio deles e enriquecer o nosso meio (que infelizmente continua ainda pobre em certas áreas) ao invés de termos constantemente uma postura preconceituosa e de supremacia espiritual para com eles. Só assim conseguiremos enriquecer o nosso meio, e, em consequência disso, reforçar ainda melhor a nossa estratégia missionaria, que é continuar a ganhar muitas almas para JESUS CRISTO.