A Visão de Deus, Nicolau de Cusa


 “Jesus, fim do universo, em que repousa, como na última perfeição, toda a criatura, tu és completamente desconhecido de todos os sábios deste mundo, porque afirmamos que em relação a ti são sumariamente verdadeiros os contraditórios, sendo simultaneamente criador e criatura, o que atraí e o que é atraído, finito e infinito. Afirmam que é loucura acreditar que isto seja possível. Por isso, recusam o teu nome e não captam a tua luz com a qual nos iluminaste. Mas, embora se julguem sábios, permanecem eternamente loucos, ignorantes e cegos. Mas se acreditassem que tu és o Cristo, Deus e homem, se recebessem e discorressem sobre as palavras do Evangelho como de um mestre tão grande, veriam, enfim, com clareza que todas as coisas, em comparação com a luz oculta na simplicidade das tuas palavras, são completamente trevas densíssimas e ignorância. Por isso, só os crentes humildes conseguem esta revelação vivificante e cheia de graça. Com efeito, é no teu sacratíssimo Evangelho, que é alimento celestial, que está escondida, como no maná, toda a doçura do desejo, a qual não pode ser saboreada senão por quem a crê e a toma por alimento. Mas, se alguém a crê e a recebe, experiencia, com toda a verdade, que desceste do céu e só tu és o mestre da verdade.

Ó bom Jesus, tu és a árvore da vida no paraíso das delícias. Com efeito, ninguém poderia alimentar-se com a vida desejável senão através do teu fruto. És, ó Jesus, o alimento proibido a todos os filhos de Adão, que, expulsos do Paraíso, procuram de que viver na terra em que trabalham. Por isso, é necessário que todo o homem se dispa do homem velho da presunção e se revista do homem novo da humildade, que está de acordo contigo, se espera saborear o alimento da vida dentro do Paraíso das delícias”.

(Trad. João Maria André, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Editora, pág. 225 , 226).