“Jesus, fim
do universo, em que repousa, como na última perfeição, toda a criatura, tu és
completamente desconhecido de todos os sábios deste mundo, porque afirmamos que
em relação a ti são sumariamente verdadeiros os contraditórios, sendo
simultaneamente criador e criatura, o que atraí e o que é atraído, finito e
infinito. Afirmam que é loucura acreditar que isto seja possível. Por isso,
recusam o teu nome e não captam a tua luz com a qual nos iluminaste. Mas,
embora se julguem sábios, permanecem eternamente loucos, ignorantes e cegos.
Mas se acreditassem que tu és o Cristo, Deus e homem, se recebessem e
discorressem sobre as palavras do Evangelho como de um mestre tão grande,
veriam, enfim, com clareza que todas as coisas, em comparação com a luz oculta
na simplicidade das tuas palavras, são completamente trevas densíssimas e
ignorância. Por isso, só os crentes humildes conseguem esta revelação
vivificante e cheia de graça. Com efeito, é no teu sacratíssimo Evangelho, que
é alimento celestial, que está escondida, como no maná, toda a doçura do
desejo, a qual não pode ser saboreada senão por quem a crê e a toma por
alimento. Mas, se alguém a crê e a recebe, experiencia, com toda a verdade, que
desceste do céu e só tu és o mestre da verdade.
Ó bom Jesus,
tu és a árvore da vida no paraíso das delícias. Com efeito, ninguém poderia
alimentar-se com a vida desejável senão através do teu fruto. És, ó Jesus, o alimento
proibido a todos os filhos de Adão, que, expulsos do Paraíso, procuram de que
viver na terra em que trabalham. Por isso, é necessário que todo o homem se
dispa do homem velho da presunção e se revista do homem novo da humildade, que
está de acordo contigo, se espera saborear o alimento da vida dentro do Paraíso
das delícias”.
(Trad. João
Maria André, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Editora, pág. 225 , 226).