«Se pretendes afligir aquele
que te odeia, não o qualifiques como homem degenerado nem cobarde, nem
libertino, nem palhaço, nem ignóbil, mas sê tu mesmo um homem. Age com
moderação, sinceridade e trata com amabilidade e justiça todos os que lidam
contigo. (…) Se o acusas de ser mal-educado, aumenta em intensidade o teu amor
ao estudo e ao trabalho; se o acusas de ser cobarde, mostra mais a tua valentia
e audácia; se o acusas de ser libertino e desesperado, apaga da tua alma
qualquer vestígio de amor pelo prazer que tenha passado despercebido. Pois não
há nada mais vergonhoso nem doloroso do que a blasfémia que se volta contra
aquele que blasfemou, a não ser que, assim como parece que a reverberação da
luz fere mais os olhos enfermos, também ferem mais as censuras que se viram,
por causa da verdade, contra quem as emite. Pois, assim como o vento de
nordeste arrasta as nuvens, também a má vida arrasta sobre si mesma as
censuras.»
(Plutarco, in Como Tirar Proveito
dos Inimigos, Coisas do Ser, Lisboa, 2008, p. 17,18).