Matutava com os meus neurónios a respeito do império de
futilidade que predomina triunfalmente na Guiné-Bissau (LER), especialmente na sua vertente de
banalização da responsabilidade governativa dos titulares de cargos públicos, que tem vindo a ganhar
contornos preocupantes ao nível do regular funcionamento das instituições
democráticas. O Presidente da República não se dá bem com o Parlamento e está
com avidez de apear com o Governo a todo o custo. Este, por sua vez destituído
da autoridade politico-moral requerida para conduzir os destinos do país a bom
porto e ainda um Parlamento praticamente inoperante que congrega no seu seio um rol
infindável de pessoas corruptas que já conhecemos de outros carnavais, somando
a completa nulidade do Poder Judiciário que, mesmo neste papel de insignificância jurídica, se deixa
facilmente instrumentalizar por interesses obscuros.
Toda esta reflexão sobre a deriva nacional e consequente
desnorte a que a Guiné-Bissau está impotentemente submetida, remeteu-me para
uma outra oportuna questão, que é a da qualificação entre políticos e
politiqueiros. À primeira vista poderá parecer a mesma coisa, contudo há uma
diferença assinalável entre ambos. Aqueles são desprovidos de interesses
egocêntricos e assumem na íntegra a finalidade última que se espera da acção
governativa e, com isso, melhorando positivamente a vida dos governados. Ao passo
que estes não passam de gatunos disfarçados e patronos de fraude. Não têm mínimos
escrúpulos e são uns autênticos sofistas. Não obstante a sua total ignorância
em assuntos políticos, em consequência de recorrerem a expedientes ilícitos para atingir os seus egocêntricos interesses, consideram-se os mais esclarecidos para desempenhar as
nobres funções de Estado.
O único critério válido para classificar quem quer que
seja como genuíno político, escrevia Platão, é a posse da ciência política e
não o ocupar um cargo de governo. Acontece que, na Guiné-Bissau, há uma
completa inversão de valores devido ao défice extremo de políticos e grassa
proliferação de politiqueiros que minam e obstam ao progresso do país: usurpam
os cargos públicos para os seus proveitos e dos seus familiares, amigos e
conhecidos. Um nepotismo que excede todos os limites da razoabilidade.
É isto que espelha a Guiné-Bissau, infelizmente. Os flagelos
dos nossos desassossegos que condicionam decisivamente o nosso futuro colectivo (LER). O epiteto de "Mon na Lama" e "Terra Ranka" teorizado pelo senhor Presidente da República e Governo, respectivamente, não
passa de uma astúcia utópica para ludibriar a opinião pública e o bom senso do
sofredor Povo Guineense e continuar a perpetuar as tremendas desigualdades
sociais e a pobreza. O país não pode avançar para o progresso enquanto não dispensar os
urubus políticos que o capturam, e fazem-no com todo o tipo de esmagamento
metódico. Neste momento a Guiné-Bissau está num impasse político-governativo com
custos imprevisíveis a curto, médio e longo prazo. Estamos novamente a adiar o
nosso futuro por causa dos arbítrios perigosos dos responsáveis políticos. Tudo por culpa da proeminência desnecessária dada
aos politiqueiros que ocupam lugares cimeiros na nossa Res Publica.