PIROGA FANTASMA (20): O Verdadeiro Político e os Politiqueiros


Matutava com os meus neurónios a respeito do império de futilidade que predomina triunfalmente na Guiné-Bissau (LER), especialmente na sua vertente de banalização da responsabilidade governativa dos titulares de cargos públicos, que tem vindo a ganhar contornos preocupantes ao nível do regular funcionamento das instituições democráticas. O Presidente da República não se dá bem com o Parlamento e está com avidez de apear com o Governo a todo o custo. Este, por sua vez destituído da autoridade politico-moral requerida para conduzir os destinos do país a bom porto e ainda um Parlamento praticamente inoperante que congrega no seu seio um rol infindável de pessoas corruptas que já conhecemos de outros carnavais, somando a completa nulidade do Poder Judiciário que, mesmo neste papel de insignificância jurídica, se deixa facilmente instrumentalizar por interesses obscuros. 

Toda esta reflexão sobre a deriva nacional e consequente desnorte a que a Guiné-Bissau está impotentemente submetida, remeteu-me para uma outra oportuna questão, que é a da qualificação entre políticos e politiqueiros. À primeira vista poderá parecer a mesma coisa, contudo há uma diferença assinalável entre ambos. Aqueles são desprovidos de interesses egocêntricos e assumem na íntegra a finalidade última que se espera da acção governativa e, com isso, melhorando positivamente a vida dos governados. Ao passo que estes não passam de gatunos disfarçados e patronos de fraude. Não têm mínimos escrúpulos e são uns autênticos sofistas. Não obstante a sua total ignorância em assuntos políticos, em consequência de recorrerem a expedientes ilícitos para atingir os seus egocêntricos interesses, consideram-se os mais esclarecidos para desempenhar as nobres funções de Estado. 

O único critério válido para classificar quem quer que seja como genuíno político, escrevia Platão, é a posse da ciência política e não o ocupar um cargo de governo. Acontece que, na Guiné-Bissau, há uma completa inversão de valores devido ao défice extremo de políticos e grassa proliferação de politiqueiros que minam e obstam ao progresso do país: usurpam os cargos públicos para os seus proveitos e dos seus familiares, amigos e conhecidos. Um nepotismo que excede todos os limites da razoabilidade. 

É isto que espelha a Guiné-Bissau, infelizmente. Os flagelos dos nossos desassossegos que condicionam decisivamente o nosso futuro colectivo (LER). O epiteto de "Mon na Lama" e "Terra Ranka" teorizado pelo senhor Presidente da República e Governo, respectivamente, não passa de uma astúcia utópica para ludibriar a opinião pública e o bom senso do sofredor Povo Guineense e continuar a perpetuar as tremendas desigualdades sociais e a pobreza. O país não pode avançar para o progresso enquanto não dispensar os urubus políticos que o capturam, e fazem-no com todo o tipo de esmagamento metódico. Neste momento a Guiné-Bissau está num impasse político-governativo com custos imprevisíveis a curto, médio e longo prazo. Estamos novamente a adiar o nosso futuro por causa dos arbítrios perigosos dos responsáveis políticos. Tudo por culpa da proeminência desnecessária dada aos politiqueiros que ocupam lugares cimeiros na nossa Res Publica.