Não compreendo a indignação de algumas almas sobre a
transigência da União Europeia (UE) em conferir ao Reino Unido "um
estatuto especial" no seu seio (LER).
Na minha modesta opinião, julgo sensata a unânime decisão dos líderes europeus
em "assegurar" a permanência dos ingleses na UE, não
obstante a chantagem do referendo que decidiram arbitrariamente inventar para
este verão (LER),
máxime as exigências oportunistas que obrigaram os parceiros europeus a
sufragar, pondo em causa os princípios basilares da construção da UE. Mesmo
assim, continuo a entender que a Europa tem mais a ganhar tendo o Reino Unido
dentro do seu espaço do que propriamente fora dele. E mais, o mal não se deve
pagar com outro mal. Ele combate-se fazendo o bem e não vice-versa.
Só quem não conhece bem a História e o peso político que o
Reino Unido sempre teve no mundo é que avalia, com leviandade, a sua definitiva
saída da UE. Desde logo foram os ingleses os grandes precursores e
impulsionadores da valorização da Pessoa Humana no século XIII, com a reformadora Magna Carta, em 1215, que acabou por influenciar
decisivamente a Europa Continental, ganhando eco forte na Revolução Francesa no
séc. XVIII. Foram os ingleses que inventaram a máquina a vapor, dando início à
Revolução Industrial, em 1760, transformando radicalmente os meios de trabalho
e de produção. Foram, igualmente, os ingleses uma das destacadas nações que
lutaram incansavelmente para travar o intento maléfico do regime nazi de
instaurar uma nova ordem mundial, juntamente com os países Aliados.
O Reino Unido esteve sempre na vanguarda da Modernidade,
razão pela é um dos países mais poderosos do mundo, desdobrando a sua
influência em várias regiões do planeta, fruto da sua mundividência
expansionista desde os seus primórdios. Integra o grupo restrito e privilegiado
de membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, estatuto
especial detido apenas por cinco influentes países que não se alternam, nomeadamente
EUA, China, Rússia e França, com o poder de veto em matérias de grande
relevância na ordem internacional, diferentemente dos dez membros que são
eleitos pela Assembleia Geral para mandatos de dois anos, rotativamente. Ocupa
lugares cimeiros a nível da ciência, inovação tecnológica, economia, cultura,
desporto, literatura, política, música, artes plásticas, qualidade de vida e
valorização dos Direitos Humanos. Dispõe de uma economia robusta, tendo uma
moeda, a libra, mais valorizada do que qualquer outra, isto somado ao facto de
ter a quarta maior Bolsa de Valores e ser o sétimo país mais rico do planeta,
bem como o inglês ser a língua mais falada pelos humanos.
Todos estes inquestionáveis façanhas servem apenas para
elucidar as mentes alheadas com a realidade, e, sobretudo, demonstrar a
importância geoestratégica do Reino Unido na dignificação e afirmação da UE a
nível global. Consolidei, felizmente, a compreensão sobre a influência
histórico-política dos ingleses no mundo aquando da minha extraordinária aventura,
em 2013, no Parlamento do país, The Houses of Parliament, em
Londres, onde pude constatar in loco muitas histórias e feitos
do país ao longo dos séculos. Pude assim também compreender a forma de estar
dos ingleses e as características distintivas que evidenciam em comparação com
os outros europeus, mormente o seu peculiar orgulho nacionalista (LER).
Uma coisa é questionar a inoportunidade do "estatuto
especial" que o Reino Unido reclama a todo o custo na UE, e do
referendo populista que marcou para o mês de Junho que se avizinha, outra bem
diferente, é a Europa ficar irredutível na sua convicção de autossuficiência e
precipitar prematuramente a saída definitiva do país da UE. Ora, isto
consubstanciaria uma falta de discernimento político e visão redutora daquilo
que deveria ser o papel determinante da UE no mundo. E este papel preponderante
só se alcança e reforça tendo no seu interior o Reino Unido.
Por isso, em suma, julgo irrepreensível a posição unânime
da União Europeia com o Reino Unido. Agora resta aos governantes deste cumprir
com o acordo assinado e fazer tudo o que estiver ao seu alcance para convencer
os seus conterrâneos a permanecerem no clube da UE para o supremo bem de
todos (LER).
Assim espero.