O que se passa na Guiné-Bissau desde a história da independência nacional é profundamente de lamentar. Cada vez mais reforço a minha convicção de que a referida luta, desencadeada pelo Partido Africano para Independência da Guiné e Cabo-Verde (PAIGC), não passa mais de autêntico fracasso político pois que não prossegue a concretização dos ideais firmados por Amílcar Lopes Cabral, constantes do "Programa Maior", e que se traduzem na construção e no desenvolvimento sustentável da Guiné-Bissau.
Dito por outras palavras, os custos e benefícios que advêm da sangrenta luta de libertação do país foram manifestamente desproporcionais, com a supremacia abismal do primeiro sobre o segundo na vida dos guineenses, razão pela qual considero extremamente inconveniente e inoportuno, até mesmo uma opção política gravíssima, o facto de Amílcar Cabral ter conduzido a Guiné-Bissau para uma guerra colonial que aparentemente o país não estava ainda preparado para fazer.
Não obstante o grande vexame e tortura que o nosso povo foi submetido perante o jugo colonial português, continuo a entender que a colonização (mais cedo ou mais tarde) estava prestes a terminar devido às mudanças políticas que estavam em curso em Portugal como mais tarde a realidade política confirmou através da revolução de 25 de Abril de 1974, que põe termo à ditadura do regime de Estado Novo e, consequentemente, leva ao abandono da colonização em África (nos próximos artigos procurarei pormenorizar com mais detalhes esta minha afirmação).
Não tenho a mínima dúvida de que se tivéssemos conquistado a nossa independência de forma ordeira e pacífica como, felizmente, muitos países africanos optaram por fazer, talvez a nossa sorte fosse outra. Não estaríamos hoje em constantes ziguezagues políticos como aqueles em que estamos mergulhados. A nossa independência certamente seria muito bem acompanhada e todos nós, guineenses e portugueses, sairíamos a ganhar com isso, poupando-se inclusive muitas vidas que se perderam em vão, sem quaisquer tipos de melhorias na vida dos guineenses em particular.
Mas como vemos a guerra colonial acabou por deixar sequelas profundas nos nossos Antigos Combatentes, que acabaram por entrar em grandes contradições com os princípios e valores fundamentais que outrora serviram de pretexto para desencadear a maldita luta armada, passando a ser os primeiros obstáculos no desenvolvimento do nosso país ao longo da sua autodeterminação, que se traduziu, e ainda traduz, em rivalidades desnecessárias, ganância do poder, tráfico de drogas, censura em várias ordens, perseguições, assassinatos de pessoas e de altas figuras de Estado, desvios de fundos públicos, abuso e usurpação de poder, ajustes de contas, constantes atentados ao Estado de Direito Democrático e de toda a sorte de iniquidades sem fim à vista…