A vinda do Senhor Jesus Cristo ao mundo foi a forma mais
sublime que DEUS preferiu para se reconciliar com a raça humana pecadora (Génesis
2:16-17; 3:1-7; 2 Coríntios 5:18-19). Contrariamente ao que seria de
supor, de uma recepção positiva, a mensagem do Evangelho encarnada pelo Messias
acabou por ser motivo de escândalo entre os homens, tal como ficou patente na
inspirada afirmação do Profeta Simeão, "que esperava a consolação de
Israel”, depois de se ter encontrado com o menino Jesus, que tinha
sido levado pelos pais pela primeira vez ao templo para ser apresentado de
acordo com a tradição judaica (Lucas 2:25).
Para o servo de DEUS, Jesus Cristo seria "a
luz de revelação para os pagãos e glória para Israel; e para muitos em Israel
motivo de ruína ou salvação" e, por fim, "sinal de
divisão entre os homens, para revelar os pensamentos escondidos de muitos"
(Lucas 2:32; 34:35). Sobressai, nesta profecia, a manifesta
dicotomia que assistirá o Senhor Jesus Cristo ao longo de todo o Seu ministério
terreno: vai influenciar decisivamente o curso da história Humana, não apenas
do ponto de vista secular mas também do ponto de vista espiritual, dando início
ao cumprimento da tão aguardada promessa abraâmica e davídica (Génesis
12:3; 2 Samuel 7:1-16), estabelecendo assim o Pacto da Nova Aliança de
DEUS, através do Seu nascimento virginal, morte, ressurreição e ascensão aos
céus. Voltará segunda vez ao mundo para julgar os vivos e os mortos (Actos
1.9-11; coríntios 1:7; 1 Tessalonicenses 4:13-18; Apocalipse 22:20).
A implicação da encarnação do Senhor Jesus não é algo indiferente
a nenhuma criatura – tanto no bom como no mau sentido. Por isso, Natal começou
com uma liminar rejeição por parte dos homens que não queriam recebê-Lo como
Messias e, consequentemente, abrigá-lo em suas casas. O evangelista Lucas,
realçando esta situação, considera que “enquanto estavam em Belém,
chegou o momento de Maria dar à luz. Nasceu-lhe então o menino, que era o seu
primeiro filho. Envolveu-o em panos e deitou-o numa manjedoura, por não
conseguirem arranjar lugar na casa”. (Lucas 2:6-7). Todos têm sítio
para morar e estarem bem aconchegados, "mas o Filho do Homem não tem
onde encostar a cabeça” (Mateus 8:20). "Ele veio para o seu próprio
povo e o seu povo não o recebeu", encerrava o Evangelista (João 1:1-11).
Esta teima em rejeitá-Lo vai tendo o seu clímax nas
constantes oposições que a Sua mensagem suscitaria perante os seus ouvintes,
persistindo a mesma realidade até aos nossos dias. Isto para concluir que, de
facto, Jesus Cristo nunca foi bem-recebido, como era de esperar. Talvez fosse
por esta mesma razão que o próprio, no auge do Seu ministério terreno, admitiu
o antagonismo que a Sua vinda ao mundo envolveria, uma vez que não pensem,
disse Ele em tom de advertência, “que vim trazer a paz à Terra. Não vim
trazer a paz, mas a guerra. Vim, de facto, trazer a divisão entre filho e pai,
filha e mãe, nora e sogra: os inimigos de uma pessoa serão os da sua própria
família" (Evangelho s. Mateus 10:34-36; Lucas 12:49-53).
Evidencia-se aqui, nestas fortes e misteriosas palavras, o
verdadeiro significado do discipulado Cristão, que consiste sobretudo na
renúncia total de tudo aquilo que são os valores mundanais reiteradamente
apregoados na nossa decadente sociedade, mas que contrastam completamente com
os impolutos princípios e valores bíblico-sagrados. A partir do momento da
conversão de uma pessoa ela, para todos os efeitos, coloca-se definitivamente
em inimizade e guerra espiritual com o mundo. É um processo natural à luz
das Escrituras Sagradas, porque ninguém pode servir a dois
senhores: ou não gosta de um deles e estima o outro, ou há-de ser leal para um
e desprezar o outro (Mateus 6:24). Não podem servir a Deus e ao
Diabo em simultâneo. Daí a urgente necessidade do crente procurar estar
revestido de todas as armaduras de DEUS, para poder defender-se das setas
incendiárias do Diabo (Efésios 6:14-18).
O crente, conhecendo de antemão o significado de ser um
autêntico Cristão, passa a ter cuidados espirituais especiais, visto que “ninguém
que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o Reino de Deus”
(Lucas 9:59-62; Mateus 8:21). Por outras palavras, o Senhor Jesus
Cristo passa automaticamente a ser a única prioridade na sua vida; não já a
família, como é praticamente a tendência natural, ou qualquer outra realidade
exterior que possa minar a sua genuína fé. Estou crucificado com Cristo,
escrevia convictamente o Apóstolo Paulo, "por isso, já não sou eu que
vivo; é Cristo que vive em mim. E a minha vida presente vivo-a por meio da fé
no Filho de Deus que me amou e deu a sua vida por mim” (Gálatas 2:19-20).
Pondo em prática esta grande verdade soteriológica, o
crente no Senhor Jesus não tem outra alternativa viável senão entrar mesmo em
rota de colisão com aqueles que lhe rodeiam e que continuam a resistir à graça
salvífica de DEUS. E tais pessoas podem ser os nossos conhecidos ou
desconhecidos, bem como amigos e até mesmo os elementos da família. A mensagem
da cruz é só por si sinónimo de humilhação, sofrimento, traição, inimizade,
ódio, perseguição e a morte em última instância (Salmo 14:4-6; Mateus
10:22-25; 24:9-13; Marcos 13:13; Lucas 21-17; João 15:18-21; Hebreus 11:35-38). Apesar
desta dura realidade, a vitória do crente continua inteiramente assegurada
sobre todos estes elevados desafios espirituais (Romanos 8:37), porque
Cristo venceu e nós também venceremos na força do Seu Poder (João
16:33). Foi por este motivo que ELE e os demais Apóstolos foram
injustamente condenados à morte, e a maioria dos nossos estimados irmãos na fé,
ao longo dos primórdios do Cristianismo.
A divisão que a encarnação de Jesus Cristo representa não
se limita apenas à dualidade de aceitação e/ou rejeição. Tal facto vai ganhando
contornos completamente imprevisíveis no decorrer de todo o Seu ministério
terreno. Isto porque muitos ouvem a Sua Santa Palavra e reagem com total
descrença, como é o caso bem representado pelo rei Herodes e os demais incrédulos (Lucas
2. 3-6; 2:13); outros ouvem-na de bom agrado e procuram vivamente
fazê-la corresponder à sua vida prática, tal como é o caso bem representado
pelos pastores de Belém, os Magos do Oriente e todos os seus fiéis seguidores
ao longo dos tempos (Lucas 2:1-2; 11).
Esta dicotomia sobre a pessoa do Filho de DEUS incorporará
várias adjectivações bíblicas, nomeadamente (I) a “Videira Verdadeira” onde
Jeová é descrito como sendo o agricultor. Ele corta todos os ramos que em Jesus
não produzem frutos, e limpa os que dão fruto para que dêem ainda mais (João 15:1-3; Isaías 5:1-4); (II) à "Pedra
de Sião" (Actos 4:11) que servirá para a salvação de todos
os que nela crêem e, concomitantemente, à perdição daqueles que a
rejeitarão (Isaías 28:16; Romanos 9:33;
1Pedro 2:6-8); (III) a "Porta Estreita" e
a "Porta Larga" que estão sempre em oposição uma com
a outra. A primeira traduz o caminho que vai dar à vida eterna, e são poucas as
pessoas que a encontrarão. Ao passo que a segunda representa o caminho
espaçoso, que a princípio poderá parecer o mais viável aos olhos humanos, mas
que vai dar à perdição eterna. São, infelizmente, muitas as pessoas que para
ali se encaminharão (Mateus 7:13-14). Os que andam na "Porta
Estreita" são os que têm a marca indelével de Cristo nas suas
vidas, e vivem com Ele eternamente. Os da "Porta Larga" são
os desregrados que pertencem ao Diabo e aos seus demónios, que jamais aceitarão
a graça redentora do Evangelho. São os mesmos que no Julgamento Final vão
ser apelidados de "cabras" e postas à esquerda de Jesus,
enquanto as "ovelhas" ficarão à Sua direita. Dirá o
Senhor Jesus para eles: “Venham, abençoados de meu Pai! Venham receber
por herança o reino que está preparado desde a criação do mundo”. E para
aqueles que estiveram à Sua mão esquerda, as ditas "cabras",
dirá o Senhor para eles: “vão para o fogo eterno que foi preparado para
o Diabo e para os seus anjos". Todos eles serão enviados para o
castigo eterno, contrariamente aos que aceitaram em vida o Senhor Jesus (Mateus
25:31-46).
O único propósito da vinda de Jesus Cristo ao mundo
prende-se com o Seu incondicional amor para com a Humanidade perdida,
independentemente daquilo que outrora éramos (João 3:16). Se não
fosse essa razão jamais teríamos o Natal, e permaneceríamos mortos nos nossos
deleites e pecados que nos sentenciariam à morte eterna, porque "o
salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por
Cristo Jesus, nosso Senhor" (Romanos 6:23). Com efeito, DEUS no
Seu infinito amor entendeu que não deveria desamparar o Homem, concedendo-lhe a
Graça, o Perdão e a Reconciliação com Ele, mediante o nascimento virginal de
Jesus Cristo e Sua morte expiatória na cruz do Calvário (Romanos
5.10.11, 11.15; II Coríntios 5:18).
A História da encarnação de Jesus Cristo é a história da
redenção da Humanidade depravada, e do confronto directo com a sua miserável
condição do pecado. Ela é também, em última instância de divisão.
Interiorizando esta verdade teológica, o papa Bento XVI sustenta que "Cristo
é sinal de uma contradição que, em última análise, tem em vista o próprio Deus.
Sempre de novo, o próprio Deus é visto como a limitação da nossa liberdade, uma
limitação que tem de ser eliminada para que o homem possa ser completamente ele
mesmo. Deus, com a sua verdade, opõe-Se à múltipla mentira do homem, ao seu
egoísmo e à sua soberba. (…) Redenção não é bem-estar, um mergulho na
autocomplacência, mas libertação do autofechamento no próprio eu. Essa
libertação tem como preço o sofrimento da Cruz. A profecia sobre a luz e a
afirmação acerca da Cruz caminham juntas" (in Jesus de Nazaré
[A Infância de Jesus], p. 74,75, Principia, 2012).
Por isso, meus caros amigos, em suma, é importante
ponderarmos seriamente nestas grandes verdades da salvação e não nos deixarmos
enganar com as astúcias e artimanhas dos homens, a que assistimos sempre que
estamos nesta quadra, que não reflectem o real significado do nascimento de
Jesus Cristo. Somos todos convocados a procurar corresponder à verdadeira
essência da mensagem de Natal nas nossas vidas. E tudo isto passa, acima de
tudo, em confiarmos inteiramente as nossas vidas a Jesus Cristo e à Sua
Preciosa Palavra. Só assim poderemos usufruir na íntegra da dádiva da salvação
concedida, com o Seu nascimento, ao mundo – que é a salvação de todo aquele que
Nele crer como a Bíblia Sagrada nos insta a proceder (Actos
16:31; João 3:16; Apocalipse 3:20). Que assim seja, hoje e
eternamente!