Piroga Fantasma (8): Os Mesmos Vícios de Sempre


Os meus detractores acusam-me aleivosamente de ser antipatriótico como se eu andasse constantemente a lançar anátemas sobre a Guiné-Bissau. Confundem o exercício cívico da cidadania com o nacionalismo exacerbado, os interesses egocêntricos com os supremos interesses colectivos do País. 

Não tenho nenhum complexo em assumir publicamente, como já tenho manifestado em inúmeras ocasiões e também aqui neste espaço, que não sou patriota. Recuso liminarmente esta conotação em todo o seu sentido etimológico. Embora tal não signifique que não me considere Guineense, e muito menos que a causa da “Guineendadi” me é indiferente, ao ponto de ficar alheio a ela. Se tal correspondesse à verdade não teria certamente dedicado bastante do meu tempo a debater e a escrever ininterruptamente, durante vários anos, sobre os mais diversos assuntos que afligem, de forma significativa, o nosso País e povo em particular. 

Rendo-me definitivamente à evidência do que a maioria dos guineenses não se enxerga. Além desta miopia sociocultural que afecta praticamente a sociedade em geral, o guineense típico é, por natureza, um autêntico problemático (djintis difícil di lida ku el), o que influencia decisivamente o foro analítico, comportamental e relacional das pessoas umas com as outras, acentuando assim as rivalidades já existentes. Há ainda um desmérito subjacente ao ADN dos Guineenses, que consiste sobretudo numa cultura de "confrontação" (di mostra ntru machundadi!), o que por sua vez vai atraindo toda a sorte de falsidade, bisbilhotices, ingratidão, traição, calúnia, intriga, inveja, ódio, vingança, revoltas e tudo que é vil e que não se deva esperar de uma verdadeira sociedade. Infelizmente estes maléficos vícios comportamentais estão completamente enraizados, de forma irremediável, nos vários matizes e pressupostos valorativos da nossa sociedade. Um autêntico império de futilidades que urge rapidamente mudar. 

Por isso, quando ouço estes bacocos nacionalistas a arrogarem-se de um protagonismo patriota e bastante orgulhosos com a deplorável condição político-social em que a Guiné-Bissau se encontra resignadamente mergulhada, apetece-me mesmo é rir, uma vez que não têm a mínima noção do ridículo que estão a ser, por via da falsidade, pelos terceiros; só não o faço por uma questão de boa educação, e, sobretudo, de solidariedade para com os nossos patrícios que verdadeiramente foram e continuam a ser directamente vítimas do sistema opressor e corrupto que tem vigorado no País ao longo dos tempos. 

Prefiro ser  atacado de todos os lados, inclusive ser ostracizado, do que rebaixar o meu decoro moral e coadunar cegamente com o nepotismo e a demagogia reinante na Guiné-Bissau. Pensando melhor, e tal como referiu O Jansenista, nem sequer tenho que preferir coisa nenhuma – nesse ponto dispenso companhia, muito obrigado.