É com muita tristeza
no coração que acompanho as efusivas manifestações dos Guineenses em torno das
eleições Legislativas e Presidenciais marcadas para este domingo, como se
fossem representar uma mudança positiva no paradigma da governação para o
desenvolvimento sustentável do nosso atormentado País. E mostro o meu total
desagrado não só por este entusiamo generalizado das pessoas, como também pelas
falsas promessas eleitorais do costume, que têm sido proliferadas pelos
respectivos partidos e candidatos, aventurando-se em inúmeros plácitos
irrealistas que objectivamente serão difíceis de concretizar, à luz do nosso
híbrido e controverso contexto sócio-político.
A maioria dos
partidos e candidatos que agora estão na corrida eleitoral, que se proclamam
arautos da vontade popular e amantes da Democracia Participativa, serão, sem
margem de dúvida, os primeiros (em caso dos resultados do sufrágio serem a seu
desfavor) a pôr em causa a suprema e soberana decisão do povo Guineense,
através de mecanismos fraudulentos, que consubstanciam flagrantes e graves
atentados ao Estado de Direito Democrático. São pessoas desprovidas de
escrúpulos ético-morais, que não sabem conviver minimamente com as regras
estabelecidas da Democracia, que fazem de tudo para adulterar o conceito da
Justiça e do Direito a seu favor, fazendo-nos crer, falaciosamente, que são
democratas. O pior de tudo, têm uma enorme capacidade persuasiva de arrastar
consigo os militares, para juntos (num conluio atroz) atingirem rapidamente aos
seus maléficos intentos.
Não sejamos
ingénuos, estimados irmãos: estas eleições não vão trazer nenhum benefício em
concreto para o nosso povo sofredor, antes pelo contrário, poderão vir a
contribuir, decisivamente, para agravar ainda mais a frágil situação política
que actualmente temos no País e que continua ainda a inspirar cuidados
redobrados. Ademais, estou em crer, para infelicidade nossa, que os resultados
finais das mesmas já foram totalmente cozinhados nos bastidores pelos temíveis suspeitos
de sempre – os "donos da Guiné-Bissau" – para, a todo custo, lá colocarem as
pessoas que bem lhes convém, a fim de servirem os seus egocêntricos e insaciáveis
caprichos. Espero estar equivocado nas minhas previsões, no entanto a nossa
história eleitoral recente tem demonstrado, infelizmente, que as coisas
funcionam assim na Guiné-Bissau. Não é preciso ser Politólogo ou uma pessoa
douta para compreender tal facto, basta estar apenas atento à realidade prática
do quotidiano de Bissau-guineense.
Por mim, vou
vibrando com as coisas simples da minha juventude e cumprindo o meu dever
cívico e patriótico como tenho vindo a fazer, esquecendo-me desses alaridos de "Guineendadi" e da “democracia de conveniência” que não resultam praticamente em
nada, acabando apenas em rotatividade de golpes de estado e contra-golpes, ou
seja, na alternância de cabos partidários e suas clientelas, coadjuvados pelos biltres
militares, num eterno retorno sem muita erosão ou mudança diferencial de forma
e de substancia na linha orientadora da política governativa.
Prefiro ser céptico
do que ter expectativas frustradas; adoptar a postura de "ver para crer" do que
sentir-me depois traído; estar já prevenido e mentalizado com atitudes anormais
dos urubus políticos que abundam as nossas praças públicas do que almejar
esperanças infundadas que jamais se concretizarão em termos práticos; ser
realista na forma de encarar os reais problemas e desafios, que se colocam à
Guiné-Bissau como País, do que cegamente resvalar-se numa pura ilusão. Roubem-me
o esforço e a tranquilidade; a saúde e a consciência, é que não.