Piroga Fantasma (10): Lamentar o Óbvio


É com muita tristeza no coração que acompanho as efusivas manifestações dos Guineenses em torno das eleições Legislativas e Presidenciais marcadas para este domingo, como se fossem representar uma mudança positiva no paradigma da governação para o desenvolvimento sustentável do nosso atormentado País. E mostro o meu total desagrado não só por este entusiamo generalizado das pessoas, como também pelas falsas promessas eleitorais do costume, que têm sido proliferadas pelos respectivos partidos e candidatos, aventurando-se em inúmeros plácitos irrealistas que objectivamente serão difíceis de concretizar, à luz do nosso híbrido e controverso contexto sócio-político. 

A maioria dos partidos e candidatos que agora estão na corrida eleitoral, que se proclamam arautos da vontade popular e amantes da Democracia Participativa, serão, sem margem de dúvida, os primeiros (em caso dos resultados do sufrágio serem a seu desfavor) a pôr em causa a suprema e soberana decisão do povo Guineense, através de mecanismos fraudulentos, que consubstanciam flagrantes e graves atentados ao Estado de Direito Democrático. São pessoas desprovidas de escrúpulos ético-morais, que não sabem conviver minimamente com as regras estabelecidas da Democracia, que fazem de tudo para adulterar o conceito da Justiça e do Direito a seu favor, fazendo-nos crer, falaciosamente, que são democratas. O pior de tudo, têm uma enorme capacidade persuasiva de arrastar consigo os militares, para juntos (num conluio atroz) atingirem rapidamente aos seus maléficos intentos. 

Não sejamos ingénuos, estimados irmãos: estas eleições não vão trazer nenhum benefício em concreto para o nosso povo sofredor, antes pelo contrário, poderão vir a contribuir, decisivamente, para agravar ainda mais a frágil situação política que actualmente temos no País e que continua ainda a inspirar cuidados redobrados. Ademais, estou em crer, para infelicidade nossa, que os resultados finais das mesmas já foram totalmente cozinhados nos bastidores pelos temíveis suspeitos de sempre – os "donos da Guiné-Bissau" – para, a todo custo, lá colocarem as pessoas que bem lhes convém, a fim de servirem os seus egocêntricos e insaciáveis caprichos. Espero estar equivocado nas minhas previsões, no entanto a nossa história eleitoral recente tem demonstrado, infelizmente, que as coisas funcionam assim na Guiné-Bissau. Não é preciso ser Politólogo ou uma pessoa douta para compreender tal facto, basta estar apenas atento à realidade prática do quotidiano de Bissau-guineense. 

Por mim, vou vibrando com as coisas simples da minha juventude e cumprindo o meu dever cívico e patriótico como tenho vindo a fazer, esquecendo-me desses alaridos de "Guineendadi" e da “democracia de conveniência” que não resultam praticamente em nada, acabando apenas em rotatividade de golpes de estado e contra-golpes, ou seja, na alternância de cabos partidários e suas clientelas, coadjuvados pelos biltres militares, num eterno retorno sem muita erosão ou mudança diferencial de forma e de substancia na linha orientadora da política governativa. 

Prefiro ser céptico do que ter expectativas frustradas; adoptar a postura de "ver para crer" do que sentir-me depois traído; estar já prevenido e mentalizado com atitudes anormais dos urubus políticos que abundam as nossas praças públicas do que almejar esperanças infundadas que jamais se concretizarão em termos práticos; ser realista na forma de encarar os reais problemas e desafios, que se colocam à Guiné-Bissau como País, do que cegamente resvalar-se numa pura ilusão. Roubem-me o esforço e a tranquilidade; a saúde e a consciência, é que não.