A Mulher e o Amor


«A máscara da noite vela-me o rosto; se não fosse isso, nas minhas faces virginais verias o rubor que as palavras que eu há pouco proferi, causaram. Bem queria eu guardar as conveniências; bem desejaria negar o que disse, mas, adeus, acabaram-se as cerimónias. Amas-me? sei que me vais dizer que sim: ficas preso por essa palavra; contudo, se juras podes tornar-te em perjuro. Dizem que Júpiter acha muita graça aos perjúrios dos amantes. Querido Romeu, se me amas, declara-mo lealmente; se pensas que fui fácil de conquistar, serei cruel, carregarei o meu sobrecenho, dir-te-ei não, para te dar ensejo a que me conquistes; de outro modo por nada deste mundo o farei. A verdade, belo Montecchio, é que estou muitíssimo apaixonada por ti; portanto, podes julgar o meu comportamento leviano, mas acredita que mostro-me sincera, porque não sou como as outras que usam de artifícios para serem reservadas. É possível que fosse mais reservada, confesso-a, se, há pouco, não tivesses surpreendido as expressões apaixonadas do meu sincero amor. Perdoa-me, não interpretes esta facilidade como leviandade deste amor, que esta tenebrosa noite assim te revelou». 

(William Shakespeare, in Romeu e Julieta, pág. 79-80, Mel Editores, Estarreja, 2009).