«Eu fiquei
reduzida a mim própria. Não tenho mais filhos, não tenho marido, não tenho
nenhum companheiro. Era eu e o meu filho. E tendo desaparecido o meu filho, o
que é que me resta? O trabalho. Não trabalhar significaria desistir da vida.
Quando se instala o vazio e não temos âncoras, podemos ter 20, 30 ou 40 amigos
que não há consolo – perante a morte de um filho a palavra consolo perde todo o
sentido. Quando eu disse: “só o trabalho nos salva” quis dizer: a mim só o
trabalho me pode salvar. Se não voltasse, significaria que tinha desistido de viver. Obviamente, bati no fundo [emociona-se] mas ainda não desisti de
viver. Também quis transmitir uma mensagem a outros pais e mães que perderam os
filhos, quis dizer-lhes que as pessoas têm de ter força para seguir com a vida.
Quais são as alternativas? O suicídio? Depressões profundas que nos põem numa cama?
Temos de nos agarrar àquilo que temos e aquilo que justifica a minha
existência, neste momento, é o meu trabalho.»
(Judite Fernanda
Jesus da Rocha Sousa, in Revista Sábado, nº541-11 a 17 de Setembro de 2014, pág.
36).