Um Dia Hei-de Voltar


Às vezes sou proustiano. Outras vezes não. Depende do estado de alma em que me encontro. O passado será sempre presente quando recordamo-lo, máxime aquele passado aprazível que encerra marcas profundíssimas e indeléveis que jamais conseguiremos extinguir da comunhão da memória. Quando lembro da minha feliz e saudosa infância em Bissau (ALI) (AQUI) desperta-me sempre um sentimento de gozo indescritível. É como um verdadeiro regresso ao “espírito do tempo”. Uma momentânea redenção soteriológica que inunda o meu pobre ser. 

A vida é feita de nostalgias e antinomias, desdobrando-se em infindáveis histórias agradáveis e desagradáveis, de escolhas certas e erradas, de altos e baixos, de encontros e desencontros, de alegria e tristeza, de amor e desamor, de passado e presente, de felicidade e infelicidade. Há, nestes transcendentes antagonismos antropológico-existenciais, tempo para todo o propósito debaixo do céu, dizia inspiradamente o rei Salomão (Eclesiastes 3:1)O que nos vale realmente é a faculdade peculiar que dispomos unilateralmente de nos podermos reencontrar no registo temporal e extrair com ele a parte mais marcante da nossa efémera crónica de felicidade, projectando melhor um futuro ditoso para a nossa vida neste “Vale de Lágrimas”

Nunca fui de efusivas manifestações nacionalistas, tal como a generalidade dos meus conterrâneos guineenses. E tanto que, por esta razão, sou aleivosamente acusado por alguns deles de ser antipatriótico (LER). Apesar de encarnar esclarecidamente uma mundividência universalista da vida na sua multiforme configuração antropológica, amo profunda e incondicionalmente a Guiné-Bissau. Reduto último de tudo aquilo que sou em termos humano-sociais. Acontece que, por força do destino, digamos assim de forma abreviada, tenho estado ausente da minha querida pátria, peregrinando freneticamente por outras circunscrições territoriais, praticamente “impedido” provisoriamente de corresponder ao adágio crioulo-guineense de “fidju di tchon na si tchon”. 

Hei-de voltar um dia a minha querida terra natal Bissau, querendo o Todo-poderoso DEUS. Cedo ou tarde concretizarei este nobre e legítimo intento pátrio. Voltarei na plenitude do tempo pré-determinado e na primavera dos sonhos; no calendário dos vivos e na alvorada dos recomeços; no tintinábulo das reminiscências e no silêncio dos ausentes. Voltarei, sim, com a preciosíssima ajuda Divina, para reencontrar definitivamente com o longínquo passado que está visceralmente arraigado no meu substrato identitário.