A Guiné-Bissau é um país de paradoxos. Encerra
paradoxos praticamente em tudo: desde a política, a constituição social, e até
mesmo a nível de hábitos e costumes do seu miscigenado povo. É uma
terra com pessoas boas, civilizadas, simples, alegres, simpáticas, amáveis, altruístas e bastante
acolhedora, da mesma sorte abundam no seu seio gente oportunista, pretensiosa,
materialista, traidora, despótica, sanguinária. Tem inúmeras carências nas mais
diversas áreas sociais, que despertam a atenção especial de qualquer ser
humano, bem como está repleta de enormes riquezas que ultrapassam todas as
estimativas, mormente as de ordem natural, e ainda com promissoras potencialidades
para o futuro. É um país ricamente abençoado e concomitantemente amaldiçoado,
razão pela qual gera santos e demónios em simultâneo, com manifesta proeminência destes
últimos na esfera do poder.
Vem todo este longo intróito a propósito da lamentável
situação política que se vive neste momento em Bissau. Alguém consegue conceber
um estado democrático onde o Presidente da República não se dá bem com o
Presidente do Parlamento e aquele com o Presidente do partido vencedor das
eleições, e este com o seu terceiro Vice-presidente? Do país estar inactivo aproximadamente dois meses sem ter um governo por uma guerrilha interna meramente
insignificante no PAIGC? De ter um Primeiro-ministro de 84 anos de idade,
quando há muitas pessoas novas e altamente qualificadas que podiam exercer, da
melhor forma possível, tão exigente e desgastante função governativa? Do
partido vencedor das eleições, com maioria absoluta, não conseguir formar governo
sozinho, sujeitando-se à chantagem do maior partido da oposição (PRS)? É tudo
isto a querida "mamã" Guiné-Bissau, infelizmente. Os flagelos dos nossos
desassossegos (LER), que vão continuar a perseguir-nos enquanto não colocarmos os superiores interesses do país em primeiro lugar.