O Tribalismo Encapotado na Guiné-Bissau


A Guiné-Bissau é um íman que atrai todas as desgraças mundanais. E convive pacificamente com elas, sem praticamente oposição social. Incorpora ainda o fatalismo como sendo uma realidade intrínseca da vida (LER). Sob o aforismo de "djitu ka tem" legitima comportamentos repugnantes e altamente corrosivos à sociedade. Por isso alberga impunemente no seu seio políticos corruptos, assassinos, golpistas, pedófilos, traficantes, patronos de fraude e toda a espécie de criminosos. O tribalismo é só apenas um dos inúmeros flagelos dos nossos desassossegos (LER). É nele também que reside a chave da resolução da maioria dos problemas que nos afectam dramaticamente como povo. O tribalismo é um facto indesmentível na Guiné-Bissau – por mais que possam surgir objecções em sentido contrário para camuflá-lo e negá-lo de forma deliberada. Está profundamente enraizado nas aldeias, nas cidades e em Bissausinho. Abrange, da mesma sorte, todas as esferas da sociedade – tanto as pessoas ricas como as pobres, doutas e indoutas. É uma realidade transversal no nosso país, infelizmente. 

Sempre houve, desde os primórdios, tribalismo na Guiné-Bissau. Embora nunca assumido publicamente pelas nossas autoridades. Não ganhava proporções preocupantes no país, tal como nos dias de hoje. Circunscrevia-se apenas às camadas mais analfabetas da população e um número bastante reduzido dos ditos "djintis di praça". Não era assim tão notório na agenda geopolítica e geostratégica dos partidos políticos, e tão pouco institucionalizado, ao ponto de minar completamente o aparelho do Estado e a coesão nacional. O responsável número um, que contribuiu decisivamente para agravar esse revés colectivo foi o populista Koumba Yalá e o seu batoteiro partido PRS, aquando da sua esmagadora vitória nas eleições legislativas e presidenciais de 1999 e 2000. A partir daí a Guiné-Bissau mudou ainda para pior, máxime a nível do preconceito rácico, fazendo com que os balantas fossem hostilizados pelas outras raças devido à demasiada primazia que Koumba Yalá deliberadamente lhes votava durante o seu avassalador mandato em detrimento das demais. 

Compreende-se quando um analfabeto vota num partido ou apoia um determinado político unicamente por pertencerem à mesma "raça". A generalidade dessas pessoas adoptam esta incorrecta postura por apedeutismo cultural, razão pela qual a parcela significativa da culpa é também do Estado, que não lhes proporciona a oportunidade para estudarem e consequentemente aculturarem-se. Caso diferente são as pessoas que estudaram, alguns até tiraram um curso superior, e mesmo assim continuam reféns e devotos aos ideais tribalistas. Limitam a sua ideologia com base no tribalismo, independentemente das claras evidências em sentido oposto das suas fanáticas convicções. 

Digo isto porque conheço razoavelmente os guineenses. O pigmeuzinho de José Mário Vaz está a enveredar o país para um regime absolutista, porque tem o apoio de alguns incautos guineenses (LER). Neste momento praticamente a generalidade dos manjacos estão incondicionalmente a apoiá-lo, somando aos balantas devido ao facto do batoteiro PRS fazer parte do actual governo que ele patrocina, e ainda inúmeros muçulmanos por estarem a defender Baciro Djá em virtude de professarem a mesma religião e concomitantemente, através dele, José Mário Vaz. O mais triste disso tudo é ver os manjacos, balantas, fulas e muçulmanos letrados a apoiarem cegamente este maléfico triunvirato no país – o despótico de Jomav, o incompetente de Baciro Djá e o oportunista do PRS – unicamente por afinidades tribais e religiosas. Estes letrados" não chegaram a evoluir literalmente em nada. Estudaram e continuam limitados nas suas retrogradas mundividências. Não dispõem dos valores civilizacionais e de modernidade. São uns autênticos atrasados e pobres do ponto de vista intelectual. Contentam-se meramente com as políticas minimalistas dos seus ditos "parentes" no poder, mesmo sendo bastante ruinosas como têm sido para o país. 

Se o Presidente José Mário Vaz não tivesse tido o apoio dos manjacos, balantas, fulas e parte significativa dos muçulmanos há muito que teria sido alvo de um golpe de Estado, tendo em conta os abismais retrocessos a que conduziu a Guiné-Bissau neste curto período de tempo do seu mandato. Isto porque os guineenses não estão habituados a conviver com a legalidade democrática. O exemplo manifesto disso extrai-se na forma desordeira e autoritária como o país está a ser governado neste momento. A começar com os constantes abusos de poder pelas autoridades, intimidações sem precedentes e flagrantes atropelos à Constituição da República.  O pigmeuzinho de Jomav, sabendo a priori de tal situação, fez todos os possíveis para ter o inequívoco apoio do PRS e, deste modo, poder concretizar o seu maléfico intento, uma vez que o PRS é o único partido com grande influência nas forças armadas capaz de precipitar uma sublevação militar e conduzir ao seu derrube. Por isso, comprou o importante apoio do PRS e colocou-o ao seu lado e, de arrasto, a classe castrense. 

É tudo isto a "Guiné di bom bardadi" que de verdade não tem absolutamente nada. Mas que assenta, sobretudo, no tribalismo, intrigas, calúnias, mentiras, invejas, violações, abusos, ódios, traições, vinganças, maldades e derramamento de sangue. O império de futilidades (LER), que nos direcciona para um precipício social irreversível. 

Enquanto não pararmos para fazermos uma auto-avaliação colectiva e reconhecermos humildemente todos os nossos defeitos como nação que somos, e procurarmos libertar definitivamente deles, inclusive o cancro do tribalismo que nos separa uns dos outros, jamais experimentaremos a unidade, a paz e o progresso nacional que a maioria dos guineenses tanto almeja.