O paradoxo e a manifesta hipocrisia do conservadorismo
caduco da sociedade saudita, sobretudo a recusa incompreensível de permitir as
mulheres conduzirem em pleno século XXI (AQUI).
Vale a pena ler infra a intrépida denuncia feita pela activista
Akram Khoja sobre este assunto.
«Ora, estamos em 2016, num
mundo em que as mulheres, apesar dos obstáculos que a sociedade lhes coloca,
têm marcado presença em todos os campos: científico, económico, político,
desportivo, da comunicação social. Não entendo porque se arrasta o debate sobre
esta questão. Ainda não há muito tempo, os defensores do conservadorismo
recusavam dar estudos às raparigas; exactamente os mesmos que, hoje, põem as
filhas nas melhores escolas, para assegurarem o seu futuro. Combateram a
instalação de antenas parabólicas [acusadas de levar a imoralidade para dentro
de casa]; hoje, servem-se dos canais por satélite para transmitir os seus
discursos pelo mundo. Advertiram contra os efeitos nocivos dos telemóveis; a
maioria usa-os. São as mesmas pessoas que persistem em manter na lista negra
[os defensores da permissão de condução às mulheres], usando argumentos
religiosos e alegando que isso levará a família saudita à destruição e a
sociedade à perda. Segundo eles é uma heresia um homem e uma mulher sem
vínculos de casamento ou de família ficarem sozinhos. Isso não os impede de
empregar um motorista [frequentemente paquistanês] para levar a esposa ou as
filhas à escola, à faculdade, ao emprego, a visitar parentes ou as compras…
Quando um estrangeiro me pergunta a razão pela qual no meu país as mulheres não
têm o direito de conduzir, não sei que dizer».
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(in Revista Courrier
Internacional, Lisboa, p. 36, Edição, Julho 2016, Número 245).