“A
invocação da «qualidade de vida» remete para um cálculo objectivo que em última
instância faz apelo à reciprocidade de sentimentos: seguimos o critério que
quereríamos que nos fosse aplicado se estivéssemos na iminência de competir, em
condições extremas, por recursos escassos na criação ou preservação da nossa
própria vida. É um resultado, afinal, da nossa sociabilidade, da nossa
necessidade de cedermos perante o interesse comum e a liberdade alheia, numa
mutualidade de serviços que não consente a experiência absoluta da consumação
dos nossos interesses, a qual só existiria num reduto de isolamento total. Uma
sociabilidade que, juntamente com a consideração pelos pontos de vista do
médico e do paciente, pode entender-se como um dos parâmetros de legitimação da
própria intervenção médica; ou, pela negativa, como um dos redutos defensivos
contra alegações de «futilidade» dessa intervenção.” (LER).