“Os luteranos ensinam e
acreditam que a fé salva por si só, sem nenhum acompanhamento de obras. Eles
enfatizam essa doutrina de modo que dão a impressão de que as obras não são nem
mesmo necessárias; sim, que a fé é de uma natureza tal que não pode tolerar
nenhuma obra a seu lado. E, assim, a importante e séria epístola de Tiago é
avaliada e tratada como “epístola insignificante”. Que tolice atrevida! Se a
doutrina é insignificante, então o apóstolo escolhido, o servo e testemunha
fiel de Cristo, que a escreveu e ensinou, também deve ter sido um homem
insignificante; isso é tão claro como o sol do meio-dia. Porque a doutrina
mostra o carácter do homem.
(...) Eles começam a cantar
um salmo, Der Strick ist entzwei und wir sind frei, etc. (“a corda foi rompida
agora somos livres”), enquanto cerveja e vinho verdadeiramente escorrem de suas
bocas e narizes bêbados. Qualquer um que mal saiba recitar isso, não importa
quão carnalmente viva, é um bom homem evangélico e um irmão precioso.”[1]
Para Timothy George, Menno Simons estava perturbado com as
tendências antinomistas que sentia estarem latentes na doutrina luterana da
justificação, ao menos no modo que essa doutrina fora apropriada por muitos
luteranos com os quais ele teve contacto.
Importa ainda salientar que, por razões doutrinarias, Martinho
Lutero não reconhecia a carta aos Hebreus, Judas, Apocalipse e Tiago como sendo
dos cânones sagrados. Esta última chega mesmo a qualificá-la equivocadamente como
sendo "carta de palha". A razão principal dessa manifesta desconsideração,
segundo alguns reputados Teólogos, provavelmente deve ser visto na importância
que, nessa carta, têm as obras de fé, isto é, a caridade, que contrasta,
segundo ele, com o princípio da "só a fé" (Sola fides). E Menno
Simons teve a intrepidez de refutar tal desnecessária postura).
[1] Teólogo
Anabatista e Reformador da Igreja, Menno Simons, in “Teologia dos Reformadores”
de Timothy George, p.268, Vida Nova, São Paulo, 2004).