Depois
de termos reportado minuciosamente sobre «A Mulher Guineense: Uma Análise Crítica da Sua
Integração em Vários Quadrantes da Sociedade» (LER), sentimo-nos, agora, da mesma sorte, compelidos
a manifestar a nossa singela homenagem a todas as mulheres guineenses
emigrantes, tendo como ponto de partida a realidade portuguesa.
Nos
últimos anos, mais precisamente a partir dos anos oitenta, tem vindo a crescer
paulatinamente o êxodo massivo dos guineenses para o exterior, inclusive da
camada feminina, na busca de melhores condições de vida que são extremamente
difíceis de alcançar na Guiné-Bissau, devido à má política de gestão da Res publica por parte dos sucessivos
governos que se têm verificado ininterruptamente no país ao longo da sua
história de autodeterminação.
A
generalidade das mulheres guineenses na diáspora, tal como um número bastante
significativo dos homens, está radicada na Europa e particularmente em
Portugal. Este livre-arbítrio prende-se acima de tudo com razões de ordem
cultural, que se traduz nos fortes laços cultivados aquando da colonização dos
portugueses no nosso país durante cinco séculos, proporcionando posteriormente convivências
próximas entre os dois povos, que por sua vez vai influenciando
determinadamente alguns substratos identitários dos guineenses. Tais factores por
conseguinte acabam por permitir uma melhor e mais rápida integração em
Portugal, comparativamente com qualquer outro país do mundo, sendo a língua
portuguesa um factor de suma importância no critério dessa decisão.
As
mulheres guineenses em Portugal, apesar dos factores favoráveis acabados de se
mencionar para a sua eficaz adaptação em território lusitano, continuam ainda a
confrontar-se com prementes problemas, tais como o desemprego, a falta de
acompanhamento dos maridos/companheiros na educação dos filhos, a precariedade
laboral, a burocracia na legalização dos documentos e, em determinados casos,
as barreiras linguísticas. Todas estas agravantes sociais vão dificultam-lhes a
vida na consolidação plena da sua real integração, retirando-lhes a paz
interior imprescindível para fazer face aos desgastantes desafios quotidianos,
que a vida lhes impõe em Portugal.
Não
obstante este fardo pesado, que elas carregam na sua convivência diária, e
acrescentando ao facto de viverem num país com hábitos e costumes um pouco
diferentes dos nossos, as mulheres guineenses em Portugal, têm conseguido dar
uma resposta satisfatória às adversidades fruto da garra e persistência tenaz que
lhes foram incutidas desde a mais tenra idade (bom criaçon!). Para realçar, de forma sumária e específica,
algumas dessas serventias que lhes enformam, que certamente são motivos de
orgulho para qualquer cidadão do nosso país, desde logo o testemunho ímpar que
transportam e inspiram em diferentes contextos das suas sociabilidades,
destacando-se sempre como pessoas de bem e batalhadoras; o auspicioso
investimento na educação dos filhos, possibilitando-lhes a formação académica –
se a generalidade das mulheres guineenses são desprovidas de alta cultura
literária, a mesma sorte já não se verifica tanto com os seus filhos que têm
ganho cada vez mais relevo e projecção a nível de instrução idêntica à dos
portugueses. Tudo isto ilustra muito bem o empenho e a não conformação "di nô padiduris" com a sua
humilde condição sociocultural, oferecendo aos seus rebentos e paraninfos a
formação superior que elas mesmas não tiveram a oportunidade de possuir.
Uma
outra grande virtude que poderá ser trazida aqui à colação tem que ver com o
facto de as mulheres guineenses, apesar da onda de crise que se tem abatido
fortemente sobre Portugal conduzindo inúmeras pessoas e famílias para o flagelo
do desemprego e da miséria extrema, não se terem resignado com a situação.
Antes pelo contrário, desdobram-se diariamente em diferentes frentes de
trabalho para ganhar o sustento diário, apoiando concomitantemente os restantes
familiares na Guiné-Bissau através das "remessas
dos emigrantes". São autênticas heroínas e mulheres dos "sete ofícios", levantando-se
de manhã cedo e trabalhando nas mais diversas actividades, desde limpezas,
cuidados domésticos, educação, fábricas, restauração, empresas, hospitais,
escritórios, escolas, lares de crianças e idosos, centros comercias,
universidades, etecetera, só regressando a casa ao cair da noite,
ultrapassando, em muitos casos, a barreira de oito horas diárias considerada o
limite máximo de uma jornada laboral.
A
realidade da mulher guineense na diáspora não se circunscreve meramente a
Portugal, não obstante ser um país mais acolhedor e representativo da nossa
comunidade no exterior. Ela vai muito além disso, havendo uma expressão
significativa de mulheres guineenses localizadas nos quatros cantos do mundo e,
seguramente, que elas acabam por confrontar-se com os mesmos dilemas,
dissabores, lutas e desafios, quiçá, ainda piores do que os das mulheres
guineenses residentes em Portugal. Por isso, queremos lembrá-las e inclui-las
também nesta nossa sentida homenagem.
Importa
ainda salientar que temos ainda um número expressivo das nossas pobres mulheres
que, por vicissitudes várias e supervenientes, viram-se atraiçoadas por motivos
de saúde ficando retidas nas camas dos hospitais pela enfermidade. Assim, com
esta limitação físico-psicológica,
acabam por ficar impossibilitadas de exercer qualquer tipo de actividade
laboral ou de poder regressar à Guiné-Bissau para estarem com a família, tal
como poderia bem ser o anseio daqueles que foram especialmente contemplados com
a Junta Médica, a fim de realizarem tratamentos médicos das doenças que
padecem, tendo em conta a falta de recursos e meios técnicos disponíveis nos
nossos carentes hospitais para sarar determinados tipos de patologias.
Queremos,
outrossim, lembrar as nossas jovens mulheres que estão a estudar nos mais
diversos ciclos de ensino por esse mundo fora. A começar, desde logo, nos
Cursos Profissionalizantes até ao Ensino Secundário, abarcando ainda a Licenciatura,
o Mestrado e o Doutoramento, sendo certo que daqui a mais alguns anos serão
peças chaves e catalisadoras no motor do desenvolvimento sustentável e
sustentado da Guiné-Bissau, que tanto carece dos seus bons filhos para fazê-la
definitivamente avançar.
Perante
tudo o que ficou exposto, desejamos, do fundo do coração, as maiores
felicidades e realizações do mundo a todas as mulheres guineenses na diáspora,
fazendo votos que DEUS rica e poderosamente as abençoe e as protege em todos os
domínios das suas vivencias para o bem-estar da nossa sofrida nação.