O Testemunho da Terra Santa (1): Nós, Os Evangélicos Baptistas


No domingo de Páscoa recente dirigi-me a uma igreja Baptista em Jerusalém, juntamente com os meus dois amigos de viagem (Dénis da Graça Andrade e o Hugo Silva que integrou posteriormente a nossa comitiva no decorrer do culto, bem como saindo antes do mesmo ter chegado o fim), para celebrar a morte e ressurreição de Jesus Cristo, depois de termos passado em duas Igrejas Evangélicas de Nazareno – a primeira no norte de Israel, cidade de Nazareh, e a segunda, na sexta-feira Santa, em Jerusalém nas proximidades do hotel onde nos encontrávamos hospedados. Sem qualquer surpresa, nas duas igrejas que passámos fomos calorosamente bem recebidos, sem quaisquer tipos de preconceito ou desconfiança. E eu até nem sou Nazareno, embora o seja um dos meus amigos de viagem, o Dénis da Graça Andrade. No entanto, tal facto não minimizou em nada a forma como fui recebido e tratado nas duas congregações, não obstante ter revelado ser da denominação Baptista.

Mal chegamos à referida igreja Baptista (que é uma congregação americana), fomos logo abordados por um senhor que nos perguntou de onde erámos, e logo depois nos informou sobre os trabalhos da igreja naquele dia especial. De seguida, entrámos no templo (que fora adaptado para o café-convívio dos membros que tinham estado no culto de alvorada no Monte das Oliveiras, celebrando a morte e a ressurreição de Jesus Cristo; também erámos para ir o culto de madrugada, numa outra localidade, que é no Santo Sepulcro [lugar onde Jesus Cristo foi sepultado e ressuscitado no terceiro dia], com um amigo Padre católico português que estava na nossa companhia em Jerusalém, mas infelizmente, por vicissitudes várias, acabámos por falhar a nossa presença no célebre evento, não obstante hospedamos escassos metros do sítio). Mal nos sentámos no templo a tomar o café no salão (o pequeno almoço que se costuma normalmente preparar nessas ocasiões para oferecer os irmãos presentes no culto de alvorada), um outro senhor, diácono da igreja, perguntou-me: – você é crente? – Respondi simpaticamente que sim, e que era membro de uma igreja evangélica Baptista em Lisboa/Amadora. Mesmo com esta minha esclarecedora resposta, o senhor não tinha ainda ficado convencido e voltou a questionar-me nestes termos: – Você acredita na Palavra de DEUS (como se estivesse perante um Baptista meramente nominacional e não praticante)? Mesmo assim, voltei a responder pacientemente e de forma mais detalhada, dizendo: – sim, acredito plenamente na Palavra de DEUS e tenho a Bíblia Sagrada como a minha única regra de fé e prática (uma quase citação do Credo Baptista, que o senhor certamente conhece muito bem). Depois desta minha repetida profissão de fé, o senhor sorridentemente apertou-me a mão e disse-me convictamente: – afinal de contas, você não é um Cristão liberal; e por sua vez retorqui-o de imediato, dizendo que sou inteiramente um homem conservador na doutrina bíblica.

Já depois de ultrapassar as suspeitas criadas em torno da minha identidade Cristã, o senhor voltou novamente a interrogar-me, agora em jeito de conversa entre dois irmãos em Cristo: – Como é que consegui localizar a igreja? Eu disse que foi através da internet. O senhor para me demonstrar que era uma pessoa altamente conservadora, confessou-me que ele nem sequer tem a internet em casa, muito menos a televisão e o telemóvel; mas mesmo assim sente-se feliz com Jesus no seu coração. Registei o surpreendente testemunho invulgar do senhor e, logo de imediato, demonstrei que eu era um adepto da internet, da televisão e usava permanentemente o telemóvel e, apesar de tudo isto, me considero também uma pessoa bastante feliz por pertencer à família de Jesus e confessá-lo como meu único Senhor e Salvador da minha vida. Foi assim que finalizámos a nossa meiga conversa com duas grandes afirmações de fé e com um aperto fraterno de mãos e separámo-nos um do outro. De seguida, tive ainda a oportunidade de conversar com muitos outros irmãos da igreja, inclusive o Pastor que foi impecável para connosco.

Posteriormente, assistimos aos trabalhos da igreja (do início até ao fim). Fomos simpaticamente apresentados no decorrer do culto como sendo irmãos provenientes de Portugal, concretamente da cidade de Lisboa. Sentimo-nos de facto acarinhados e confortáveis por estar ali no meio daqueles irmãos, ouvindo a Palavra de DEUS, ainda por mais num culto de extrema importância no calendário Cristão, que assinala a morte e ressurreição do nosso Senhor Jesus Cristo. Foi mesmo muito bom. No final, fomos ainda convidados pelo Pastor da igreja a estar com eles à noite, principalmente com os jovens da igreja e juntos louvar a DEUS.

Tudo isto para concluir que a maioria dos Baptistas são pessoas muito pragmáticas e completamente fechadas no seu mundo teológico, procurando, na medida do possível, não se desconectarem com a sua realidade puramente tradicional, manifestando sempre reservas quando a ocasião assim o exige. É principalmente por esta razão que os Baptistas são vistos e considerados por outras denominações Evangélico-protestantes como sendo antipáticos para com os desconhecidos, sobretudo na maneira menos cordial de receber os visitantes. Os Baptistas são ainda preconceituosos e orgulhosos da sua velha tradição, arrogando-se como profundos conhecedores das Sagradas Escrituras (não me colocando eu de fora, obviamente). Apesar de tudo, os Baptistas são também, e principalmente, pessoas afáveis, simpáticas, amáveis, confiáveis e humanistas, contando para tal que a pessoa passe no rígido “teste” que eles colocam inicialmente com vista a decifrar o trigo do joio, para tornar automaticamente num eterno irmão em Cristo Jesus. 

O mistério reside no facto de sermos autênticos Baptistas, e nada que nos possa diminuir daquilo que verdadeiramente somos e, especialmente, a nossa particular maneira de estar e de viver intensamente a fé Cristã.