“Eu quero revolução sem ódio, revolução de amor – mas revolução. «Não
posso mais» - é o grito que eu sinto na minha alma; não posso aguentar a dor
dos outros – a minha sim, sei até onde vão as minhas forças – mas a dos outros,
Senhor! A dos que choram em barracas imundas, feitas lamaçal, a dos que gemem,
doentes, sem uma cama onde se deitem, a dos que desesperam e têm fome e têm
frio e ouvem os filhos lamentar-se a seu lado. Parece-me ouvi-los, ouvir esse
doloroso lamento humano, misturado à chuva e ao vento, contra a minha janela,
dentro do meu coração. Senhor, ensinai-nos a amar com o Vosso Infinito Amor,
mesmo que para tal seja preciso dilatar a nossa alma até que se rasgue aos
pedaços, até que fique toda ensopada em sangue.”
(António de Azavedo Pires, in O que as Almas são por Dentro [99
Testemunhos], Lisboa, 1968).