Piroga Fantasma (9): Os Flagelos dos Nossos Desassossegos



A nobreza de carácter está na forma como se resiste aos abusos e à tirania do poder. Lutar por uma boa causa é apenas dos espíritos que jamais se conformam com quaisquer práticas de injustiça cometidas pelos malfeitores. Estão permanentemente ao lado da Verdade e na defesa intransigente dos Princípios Democráticos que assentam no incondicional respeito pela Dignidade da Pessoa Humana e no respeito escrupuloso pelas Regras estabelecidas. Uma das melhores condutas que uma pessoa pode abraçar, enquanto forasteiro neste "vale de lágrimas", é procurar encarnar inabalavelmente as tais elevadas virtudes morais e distanciar-se de tudo aquilo que contribui decisivamente para degradar a alma no seu substrato. 



Para nossa infelicidade, a maioria das autoridades que temos além de serem demasiado incompetentes no exercício das nobres funções que desempenham são, ao mesmo tempo, bastantes corruptas. A Guiné-Bissau é um país onde a generalidade dos responsáveis políticos não tem o mínimo de escrúpulos necessários para ocupar funções governativas. São capazes de uma momentânea volúpia para venderem de imediato a sua convicção ético-ideológica, sem medirem as eventuais consequências de tal ignóbil postura. Deslumbram-se tão facilmente pelo encanto do poder e dos benefícios egocêntricos que dele podem retirar que acabam, de forma incongruente, por renegar a sua verdadeira condição humana. É uma sociedade onde impera o anarquismo, a inveja, o ódio, a vingança, a violência, a impunidade e o crime de sangue entre os próprios patrícios, visando a todo custo usurpar o poleiro governativo. 



A Guiné-Bissau não merece gente desta estirpe apelidada de filhos e, muito menos, estes hediondos actos. Não merece a pacóvia classe política e castrense que tem. Não merece ser tomada de assalto pelos trapaceiros e traidores da própria pátria que, sistematicamente, se autoproclamam debalde amá-la. Não merece ser condenada a um estado de desgraça ininterrupta, tal como tem sido ao longo da sua história de autodeterminação, com consequências nefastas na vida do nosso marginalizado povo. Não merece, da mesma sorte, ser reduzida na arena internacional a um Estado falhado ou narco-estado onde apenas abundam todas as espécies de flagelos humano-sociais cognoscíveis. Precisa sim de Mulheres e Homens valentes que estão plenamente predispostos a lutar incansavelmente, inclusive correr riscos de vida em prol da "guinendadi", com vista a resgatá-la definitivamente da subjugação em que está impotentemente aprisionada pelos urubus de "bissausinho”; de governantes irrepreensíveis a todos os níveis e dotados do sentido patriótico para devolvê-la à Paz que tanto precisa, à Estabilidade que merece, à Reconciliação que tem direito, ao Respeito Internacional e ao Desenvolvimento Sustentável como sempre ansiaram a generalidade do nosso povo.