Era Uma Vez no Médio Oriente


Faz hoje precisamente um ano em que decidi, juntamente com dois amigos, o Dénis da Graça Andrade e o Hugo Silva, aventurar-me numa tremenda viagem ao Médio Oriente, concretamente a Israel e à Cisjordânia/Palestina, com intuito de conhecer, de perto, a realidade viva e concreta da cultura Judaico-cristã e, consequentemente, experimentar a sensação única, enquanto crente no Senhor Jesus Cristo, de estar na Terra Santa onde Ele nasceu e exerceu o Seu incontornável Ministério Messiânico como Salvador da Humanidade. 

Foi, sem margem de dúvida, a melhor viagem que alguma vez realizei na minha vida. Saímos de Lisboa ao final da tarde do dia 20 de Março, em direcção, primeiramente, a Barcelona, onde fizemos uma rápida escala de duas horas. Por volta das 22:00h do mesmo dia deixamos Barcelona rumo a Telavive. Depois de aproximadamente 5 horas de intenso voo a atravessar o mediterrâneo chegámos, finalmente, ao nosso pretendido destino. Por vicissitudes várias, completamente alheias a nós, tivemos que passar por um controlo extremamente rigoroso no aeroporto de Ben Gurion, em Telavive, feito em nome da inquestionável “segurança nacional”, como se estivéssemos ali com duvidosas intenções. 

Mal saímos do avião já estavam alguns elementos da polícia da contra-inteligência militar com os nossos respectivos dados de viagem, a aguardar-nos serenamente – nem sequer nos deixaram entrar na camioneta que estava à nossa espera para nos conduzir ao sítio do controlo, onde verdadeiramente se costuma averiguar, até à exaustão, a documentação dos passageiros, para depois lhes ser emitido um visto de entrada no país, cuja validade é de apenas três meses de estadia. Superadas todas essas incomodas formalidades e demoradas interrogações a que fomos sujeitos (nem o facto de viajarmos com o passaporte Português, que se aplica ao regime dos cidadãos da União Europeia (UE), nos isentou de sermos “passados a pente fino” pelos serviços aeroportuários), lá seguimos nós, super-felizes para o nosso desconhecido mundo oriental. 

Primeiramente estivemos na cidade de Telavive, durante três dias, e, posteriormente, continuamos a excursão de norte a sul de Israel, abarcando algumas cidades da Cisjordânia, nomeadamente a cidade de Nazaré, Caná da Galileia, Tiberíade, Cafarnaum, Acre/Pletomania, Aifa, Jerusalém, Belém da Judeia, Hebron. Visitamos todos os grandes lugares históricos do Judaísmo, bem como os do Cristianismo. Falámos com inúmeras pessoas de diferentes culturas, nacionalidades e religiões – a nossa viagem calhou na mesma altura da páscoa judaica, e da celebração da Páscoa Cristã, eventos que costumam atrair muitos turistas por aquelas paragens, principalmente os fiéis de várias confissões religiosas, vindos de diferentes cantos do mundo a fim de fazerem a peregrinação. 

Procurámos inteirar-nos, na medida do possível, da real situação sociopolítica do país, particularmente do conflito israelo-palestiniano, tentando perceber no fundo o âmago de todo o problema, as motivações e rivalidades existentes entre os dois povos irmãos, separados profundamente pelas concepções ideológicas, políticas e religiosas, completamente distintas umas das outras, e, sobretudo, o porquê daquelas renhidas disputas territoriais que ambos travam ininterruptamente, ao longo dos tempos e sem fim à vista. 

Caminhámos imenso e reflectimos sobre a verdade do Evangelho (tínhamos sempre a Bíblia Sagrada na mão, em caso de alguma eventual dúvida que pudesse surgir nos lugares que estávamos a visitar). Uma das nossas inquietações era descobrir, pelo testemunho tanto dos judeus como dos palestinianos, por que razões eles não acreditam liminarmente em Jesus Cristo como Messias vindo da parte de DEUS. Queríamos também saber o que cada povo acha um do outro – os judeus dos muçulmanos e vice-versa -, e, acima de tudo, como vêm o desfecho final do conflito político-armado que travam há décadas. As respostas que ouvimos de ambas as partes não podiam ser mais incriminadoras. Cada povo reclama por si a verdade dos factos e tenta imputar a culpa na parte contrária. Os judeus não querem saber literalmente nada sobre os palestinos, e, da mesma sorte, os palestinianos detestam completamente os judeus. Um problema extremamente difícil de resolver do ponto de vista político-diplomático. 

Viajando praticamente em todo o território de Israel, fiquei com uma imagem muito negativa dos Judeus, ao contrário da visão que tinha antes de estar por lá. Além de serem demasiado presunçosos e terem uma postura de supremacia em relação aos outros povos, julgo que a maioria dos israelitas vive num mundo totalmente diferente do mundo real. Falam muito mal dos Cristãos e são, na generalidade, anti Jesus Cristo. Consideram-No uma pessoa a quem DEUS conferiu imensos poderes mas que, infelizmente, acabou por os usar para o mal, assumindo o protagonismo – que nunca chegou a ter – de ser o Salvador do mundo, arrogando-se da grandiosa promessa que é dada exclusivamente ao Patriarca Abraão, que será concretizada na pessoa do messias prometido, que eles ainda estão pacientemente a esperar. Para a maioria dos judeus, Jesus Cristo não passava de um impostor, cheio de si, que teve, felizmente, o destino trágico que bem lhe merecia. Recebemos este relato de um judeu emigrante na Argentina, que nos deu boleia da cidade de Cafarnaum até Tiberíade, uma vez que já não tínhamos como conseguir transportes públicos que nos levassem para Nazaré, onde nos encontrávamos hospedados, por ser num sábado – cujo significado no hebraico shabat (não imaginam as imensas inconveniências que o shabat nos criou durante toda a nossa viagem. Alterou, de forma significativa, as agendas de visitas que, à priori, tencionávamos efectuar. Só quem teve alguma vez em Israel consegue compreender na íntegra a implicação prática do shabat na vida das pessoas, principalmente nas de turistas. Fica tudo fechado a partir das 5:00h de sexta-feira até às 6:00h do dia seguinte. O calendário judaico muda-se ao pôr do sol e não como a aqui e no resto do mundo, que é às 00:00h). 

De facto os judeus não diferem tanto dos muçulmanos. A única diferença substancial que ambos têm é que estes traduzem a sua forma de pensar – em caso de oposição religiosa – em actos de violência, nomeadamente os fundamentalistas islâmicos, ao passo que os judeus, neste aspecto, são mais passivos e tolerantes, não obstante terem a firme convicção do judaísmo antiquado, voltado para um legalismo exacerbado na sua convivência diária, e detestarem totalmente os muçulmanos - o ódio é mútuo entre os dois povos. 

O pior pesadelo dos judeus é a mesquita do Omar ou “Cúpula da Rocha”, construída no séc. VII em pleno coração de Jerusalém, no "Monte do Templo", concretamente no lugar onde era o Templo Sagrado do rei Salomão, a escassos metros do “Muro das Lamentações”. É a terceira mesquita mais importante do mundo islâmico, depois de Meca e de Medina. Os muçulmanos construíram a referida mesquita em 685-691 sob pretexto do que foi ali que o Patriarca Abraão foi provado por DEUS para oferecer o seu filho Isaque em sacrifício vivo, contrariamente ao que consta nos relatos bíblicos, que tal acontecimento teve lugar na região do Monte Mória, aos redores do Sião (Génesis 22:1-2). Os ultraconservadores judeus fazem de tudo para arrasar definitivamente a “Cúpula da Rocha” mas são, no entanto, constantemente travados pelas autoridades através de uma barreira de separação e de um controle extremamente apertado pelo MOSSAD - os judeus não podem entrar lá. Isto ocorre porque qualquer tentativa por parte dos judeus contra a "Cúpula da Rocha”, segundo o que nos disseram, desencadearia automaticamente uma luta armada sem precedentes no Médio Oriente, ou seja, todos os países muçulmanos possivelmente atacariam a Israel, visto que foi aí que, para eles, se deu o Al Miraaj – viagem ao céu realizada pelo profeta Moahmmed e para não falar do "sítio sagrado" do patriarca Abraão que eles tanto veneram. 

Uma outra realidade bastante preocupante em Israel tem a ver com o número reduzido dos Cristãos, que não ultrapassa os 2%. A religião predominante é o Judaísmo e de seguida o Islamismo. Como já ficou referido as duas religiões odeiam-se mutuamente. Todos estes factores acabam por acentuar as tensões e rivalidades já existentes entre as duas comunidades. É um país praticamente sem paz e carente dela, apesar de ser uma das palavras mais proferidas na Terra Santa, encarnando-se na efectuosa e distintiva saudação hebraica, shalom. Em todos os sítios é manifestamente notório a presença da MOSSAD fortemente armada, temendo eventuais atentados dos radicais islâmicos. 

Aos olhos humanos, aquela região jamais experimentará a estabilidade e, muito menos, a duradoura paz; só mesmo um milagre de DEUS para reverter este curso funesto das coisas. Nota-se isso mesmo na sensação das pessoas na rua. Os palestinianos reclamam a todo custo a posse da maioria das terras de acordo com a divisão feita em 1967 – que vieram a perder na guerra dos seis dias e na expansão sucessiva e massiva da política dos colonatos desencadeado pelo governo judaico depois da referida guerra - e, principalmente, da parte oriental de Jerusalém, opondo-se a criação de dois estados na base dos critérios da ocupação actual, por Israel possuir mais terras do que aquilo que outrora tinha. Por conseguinte, fazem de tudo para entrar em território israelita e perpetuar os atentados contra os seus cidadãos sendo, em consequência disso, severamente punidos e controlados, passando a viver encarcerados, praticamente sem contacto físico com o mundo exterior, numa gritante miséria que desperta a atenção especial de qualquer ser humano. Estivemos na parte da Cisjordânia sob alçada das autoridades de Ramallah, e fiquei bastante sensibilizado pela forma como eles foram reduzidos pelos israelitas no seu impingido muro de sofrimento. É tudo vedado, sendo que o "Muro da Vergonha” ou “Muro do Apartheid”, como peremptoriamente alguns círculos árabes o intitulam, não se limita apenas a parte da Cisjordânia, mas também vai ganhando outra configuração - de Bloqueio à Faixa de Gaza, que não deixa nada escapar o MOSSAD, estando integralmente controlada pelas autoridades israelitas, excepto o canal que os liga com o Egipto, que por vezes é aberto para lhes proporcionar algumas ajudas pontuais de produtos básicos essenciais e, ocasionalmente, produtos ilícitos como armamentos provenientes do Líbano e do Irão, países declarados inimigos de Israel. 

Um dos momentos altos da nossa viagem foi a estadia em Jerusalém (visitamos o Jardim das Oliveiras, o Muros das Lamentações, o Monte de Sião, O Santo Sepulcro, Lugar da Caveira, Sinédrio, etc) – uma cidade extremamente fantástica e, ao mesmo tempo, a “pólvora” do Médio Oriente. Tal como ela foi fatalmente descrita por Amos Oz, “Jerusalém é uma velha ninfomaníaca que esmaga amante após amante, e a seguir os afasta com um bocejo entediado; uma viúva negra que devora os machos no próprio acto de acasalamento” (Simon Sebag Montefiore, in Jerusalém [A Biografia], pág. 5, Alêtheia, Lisboa, 2011). De facto, continua a ser uma cidade que atrai amores, ódios e vinganças entre os Judeus e os Palestinianos, somando outros países árabes ao redores. 

Aprendi imenso durante os 15 dias que fiquei no Médio Oriente: fez-me pensar seriamente em muitas coisas que dantes não tomava muito em consideração, sobretudo na miséria e precariedade da vida humana. Tomei consciência plena do clima de terror instaurado entre os Judeus e os Palestinianos. Reflecti imenso na história do Novo e do Velho Testamento e de forma muito especial na maneira como vivo a minha espiritualidade diária. Emocionei-me imenso a visitar os sítios históricos que falam muito das nossas origens Cristãs e da forma tremenda como DEUS actuou no curso da História Humana para a nossa salvação. A minha oração durante a viagem foi para que DEUS abrisse os olhos daquelas pessoas, no sentido de enxergarem e verem o quão urgente precisam da Sua maravilhosa graça nas suas vidas e simultaneamente da paz no Médio Oriente. 

Foi tanta viagem, foi tanta aventura, foi tanta demanda, foi tanta odisseia, foi tanta emoção, foi tanta espiritualidade que enriqueceu, de forma significativa, a minha mente. Foi um autêntico momento de encontro e reencontro com a História Bíblica e com as mundividências filosóficas e Cristãs em torno do Senhor Jesus Cristo e a Sua Santa Palavra. Cresci bastante a todos os níveis. Saí de Israel com a minha fé em DEUS ainda mais reforçada, pronto para continuar diariamente, com o ânimo forte, o combate espiritual contra as forças do mal que influenciam este mundo tenebroso, anunciando incansavelmente Jesus Cristo dentro e fora do tempo no meu testemunho Cristão diário, tal como o Apóstolo Paulo nos insta constantemente a fazer. Felizmente, só tenho mesmo que agradecer imensamente a DEUS por me ter dado esta nobre e distinta oportunidade de conhecer e compreender melhor a realidade do Médio Oriente, e, de forma especial, a Terra Santa.