«Que vem a ser esta história de Fantina? É a sociedade comprando uma
escrava. A quem? À miséria. À fome, ao frio, ao isolamento, à nudez. Dolorosa
negociação! Uma alma por um pedação de pão. A miséria oferece, a sociedade
aceita! A sagrada lei de Cristo governa a nossa civilização, mas ainda não a
penetrou; dizem que desperecerá a escravidão da civilização europeia: é um
erro. Existe ainda; mas não pesa senão sobre a mulher, e chama-se a
prostituição. Pesa sobre a mulher, isto é, sobre a graça, sobre a fraqueza,
sobre a beleza, sobre a maternidade. Não é esta uma das mais pequenas vergonhas
para o homem.»
(Victor Hugo, in Os Miseráveis, Primeiro Volume, pág. 261, Círculo de
Leitores, Lisboa, 1976).