E se de repente a Guiné-Bissau desse um sobressalto
abismal de reconversão na sua degradada imagem, tanto
a nível interno como externo? E se o fizesse ao ponto de superar
definitivamente os graves problemas de governação que vêm confrontando ao longo
da sua história de independência nacional, através da adopção de políticas
exequíveis a curto, a médio, a longo prazo para o desenvolvimento sustentável
do País?
Há muito que chegou o momento de os militares ganharem a
devida consciência e se submeterem inteiramente ao Poder Político nos termos
consagrados na Constituição da República; há muito que chegou o momento de se
acabar, definitivamente, com as sucessivas conspirações, golpes de estados e
atentados ao Estado de Direito Democrático; há muito que chegou o momento de se
melhorar, de forma progressiva, a qualidade do Ensino em todos os ciclos, e de
se erradicar o surto da mortalidade, seja ela materno-infantil ou adulta; há
muito que chegou o momento de por um fim à corrupção generalizada no aparelho
de Estado, à exclusão social, à pobreza extrema, ao narcotráfico que a tem
assolado desmesuradamente, e de alcançar a Paz Social, a Harmonia, a Justiça,
ao Desenvolvimento. E para concretizar este desígnio nacional, é necessário que surja uma conjugação de
esforços de todas as forças vivas do País, com a finalidade última de o fazer
trilhar o caminho do avanço económico-social.
Dando este gigantesco passo qualificativo de governação,
obviamente que não haveria mais fome para os nossos patrícios: poria um fim às
ininterruptas instabilidades governativas, aos assassinatos de pessoas e de
altas figuras de Estado, à falta de justiça nos tribunais, à impunidade
desmedida, ao abuso e à usurpação de poder, ao nepotismo, ao tráfico de
influências e aos desvios de erários públicos; da mesma sorte, dissipava-se completamente a
celeuma étnico-tribal que tem pairado nos horizontes de alguns Guineenses nos
últimos tempos e tantas outras querelas desnecessárias, que em nada abonam para
a nossa maturidade colectiva. A Guiné-Bissau seria uma nação em que reinava apenas a
Paz perpétua, a Fraternidade, a Solidariedade e o Bem-estar para todos
os seus filhos. Ninguém teria suficientes razões de queixas, e, muito menos,
ficar aborrecido com o curso galopante que o País prosseguiria. Qualquer
Guineense, sem excepção, sentir-se-ia bastante honrado por pertencer um povo
trabalhador.
Oh, como seria bom alcançar estes sublimes ideais! Seria
tudo diferente para o nosso humilde povo. Ter-nos-ia poupado de imensos
sacrifícios vãos que fizemos, e continuamos a fazer, ao longo dos tempos.
Teríamos poupado vida de milhares de inocentes que pereceram por coisas
insignificantes. Não haveria margem de dúvida que viveríamos, de facto, num
Estado de Direito Democrático, onde todos ficariam bastante satisfeitos e
felizes com a condição da vida espectável. Entraríamos numa excitação nacional
tal que, subconscientemente, encarnar-mos-íamos a máxima um só povo, um só
caminho, uma só causa e único objectivo de vida. Pára de viver na utopia,
Térsio Vieira! Deixa de sonhar! Desperta para a realidade...!
Dói-nos voltar à realidade! Atermo-nos àquilo que nenhum
cidadão patriótico quer para seu País. Não há outro remédio senão o próprio
remédio curável que ninguém neste momento quer vislumbrar na Guiné-Bissau. As
coisas são o que são, dizia sabiamente Heráclito. E porque razão não encará-las
de uma vez por todas ao invés de estarmos permanentemente a evitá-las e a
adiá-las? Mais cedo ou mais tarde elas acabam sempre por se impor.
Por isso, da nossa parte, não estamos de modo nenhum
resignados com o estado calamitoso que nô terra se encontra impotentemente
mergulhada. E jamais estaremos nesse estado. Rejeitamos peremptoriamente esta
sépia conjuntura de sufoco nacional. A única realidade que aceitamos de muito
bom agrado, e sem hesitação prévia, é esta: A Guiné-Bissau não pode continuar a
ser um País falhado como tem sido sistematicamente até aqui. Chega de
infindáveis ziguezagues políticos, que configuram manifestamente manobras
dilatórias. Abaixo a demagogia reinante. Basta dos urubus políticos e militares
foleiros que abundam as nossas praças públicas. Chega de esmagamento metódico
ao nosso povo sofredor. Estamos cansados das inimizades e séries instabilidades
político-governativas que não nos levam a lado algum. Estamos fartos de
promessas irrealistas. Que sejam confundidos todos os malfeitores que não
querem o progresso da Guiné-Bissau. Ficam inutilizados todos os seus maléficos
intentos. Devolvam-nos a dignidade outrora perdida. Não podemos continuar num
experimentalismo fanático. Já falhámos o suficiente. Queremos a Paz, a Unidade,
a Reconciliação e um futuro Venturoso para os nossos estimados irmãos.
A Guiné-Bissau precisa urgentemente de um "saneamento" sucessivo, com vista a reencontrar-se consigo mesmo num novo registo de
identidade. Um reencontro que visa apenas imprimir uma nova dinâmica
governativa, através das reformas estruturais nas importantes áreas da Educação, Saúde, Justiça, Defesa, Segurança, Economia, Infra-estruturas, Cultura, Turismo, Desporto, tal como defendemos pormenorizadamente aqui (LER). É hora de todos nós arregaçarmos as mangas e trabalharmos arduamente para cumprir
este imperativo nacional. Só trabalhando com coragem, com dedicação e com
excelência é que estaremos em condições necessárias de reescrever positivamente
uma história diferente e muito bem-sucedida para o nosso famigerado País. E tal
deve, impreterivelmente, começar Já!