«A nação francesa (que Deus devasta as suas moradas e
derrube as suas bandeiras, pois são infiéis tirânicos e malfeitores dissidentes)
não acredita na unicidade do Senhor do Céu e da terra nem na missão do
intercessor no Dia do Juízo Final; abandonaram toda a religião e negam a vida
no além e os seus castigos […]. Afirmam que os livros que os Profetas trouxeram
são erros manifestos, que o Alcorão, a Tora e os Evangelhos não passam de
mentiras e de conversa fiada, que todos os que se disseram Profetas mentiram a
pessoas ignorantes […] e que todos os homens são iguais em humanidade e como
homens, que ninguém é superior em mérito a ninguém e que toda a gente dispõe da
sua própria alma e é senhora do seu destino nesta vida. E com base nesta vá e ridícula
opinião, criaram novos princípios e definiram leis, estabeleceram aquilo que
Satã lhes sussurrou, destruíram a base das religiões, legalizaram coisas proibidas,
fazem tudo o que lhes dita o desejo, atraíram para a sua iniquidade pessoas
simples que se tornaram loucos varridos, semearam a sedição entre as religiões
e têm semeado a discórdia entre reis e Estados.»
(Sultão Otomano Al-Jabarti, citado por Anthony Pagden, in
Mundos em Guerra [2500 anos de conflito entre o Ocidente e o Oriente], Edições
70, Lisboa, 2009, p.374).