Mãe Negra


«A mãe negra embala o filho
Canta a remota canção
Que seus avós já cantavam
Em noites sem madrugada. 

Canta, canta para o céu
Tão estrelado e festivo. 

É para o céu que ela canta,
Que o céu
Às vezes também é negro. 

No céu
Tão estrelado e festivo
Não há branco, não há preto,
Não há vermelho e amarelo.
Todos são anjos e santos
Guardados por mãos divinas. 

A mãe negra não tem casa
Nem carinhos de ninguém…
A mãe negra é triste, triste,
E tem um filho nos braços… 

Mas olha o céu estrelado
E de repente sorri.
Parece-lhe que cada estrela
É uma mão acenando
Com simpatia e saudade…»[1]


[1] Aguinaldo Fonseca, em Linha do Horizonte, UCCLA, Lisboa, 2014, p.41, 42