A Revista Expresso da semana passada traçou um balanço
completamente negro sobre os dez anos do Professor Aníbal Cavaco Silva na Presidência
da República, espelhando assim o seu baixo índice de popularidade perante os
portugueses. Apesar de ser, tal como descrito na reportagem, «o político que
mais tempo se manteve no poder, como primeiro-ministro e mais como presidente
da República, e o único que conquistou quatro maiorias absolutas, e as das presidenciais
logo à primeira volta. Ao fim de dez anos, abandona, porém, o cargo de Supremo
Magistrado da Nação como o menos "amado" dos Presidentes» (LER).
A governação não é nada fácil, sobretudo a
administração do Estado. Ela é fonte de incompreensões onde se produzem rivalidades,
ódios, traições, invejas e cúmulos de inimizades sem fim à vista. Foi, justamente, por isso que Cícero, conhecendo de antemão tais realidades, advertiu o seu pupilo
Marco na sua obra "Dos Deveres (De
Officiis)" sobre os riscos associados ao poder, dando o seu testemunho
pessoal pela forma como foi manifestamente abandonado pelos seus aliados
próximos "quando tentava salvar a república".
O Presidente Cavaco Silva, por ser o seu último mandato, postergou
o desvelo que deveria manter durante toda a presidência com vista a
alcançar uma maior e abrangente legitimação popular. Por descurar esse importante pormenor
acabou por se tornar, aos olhos da generalidade dos portugueses, motivo de
atropelo a própria Constituição que jurou defender, perdendo a indispensável autoridade
política requerida a um Presidente da República para assegurar um magistério
bem-sucedido (ALI) e (AQUI).
Não se pode agradar a toda a gente ao mesmo tempo e tão pouco na política.
Infelizmente. Acreditamos que Cavaco Silva tudo fez o que estava ao seu alcance
para ajudar o país a avançar, independentemente do juízo final que cada um poderá
formar sobre o seu legado político (LER). No entanto, o melhor juiz de todos é a
História. E a pertinente pergunta que se coloca é: será que a História absolverá o Professor
Cavaco Silva e reconciliá-lo-á com os portugueses no futuro? Vexata quaestio.