Estive no domingo passado a pregar no culto da tarde da
minha igreja, a Evangélica Baptista da Amadora. A mensagem foi "Saber Discernir
o Tempo" (LER), tendo como texto de apoio Mateus 24:1-14. Este capítulo, segundo alguns
reputados biblistas, é um dos mais difíceis de interpretar do Novo Testamento, tal
como o livro de Apocalipse, visto que envolve complexos temas escatológicos.
Mesmo assim procurei não entrar demasiadamente em considerações dogmáticas,
bem como especulações teológicas e ater-me apenas aos aspectos
práticos de cada um dos versículos em apreço.
Talvez o texto decisivo para compreendermos holisticamente
toda a teologia por detrás das afirmações proféticas do Senhor Jesus Cristo,
foi o facto d`Ele ter livremente saído do templo (Mateus 24:1). Esta saída coincidiu
com a Nova Aliança pré-estabelecida por DEUS, desde os primórdios, e revelado no Antigo Testamento. Por isso, não foi uma saída vulgar como Ele fez em outras ocasiões do Seu ministério. O Filho do Homem retirou definitivamente do templo para nunca mais voltar a entrar nele. Abandonou-o provavelmente triste
com a adulteração do culto a que ele foi reduzido pelas autoridades judaicas,
permitindo assim o sacrilégio dos vendilhões (LER), somando a incredulidade do povo em relação à Sua pessoa. São factores
determinantes que condicionaram esta inevitável saída, mormente
a concretização do Reino Messiânico na Terra. Podemos extrair, de forma
cristalina, esta conclusão nos últimos dois versículos do capitulo anterior que
expressamente diz: "eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta; porque eu vos
digo que, desde agora, me não vereis mais" (Mateus 23:38-39). A Glória do Senhor
foi-se embora do pomposo templo (Marcos 13:1-2). O outrora espaço sagrado de shekiná
ficou definitivamente desabitado pelo Eterno Jeová. Em consequência disso, foi destruído nos anos 70 d. C pelo império romano.
E tal como sustenta o agora emérito papa Bento XVI: "Jesus
amara o templo como propriedade do Pai (cf. 2, 49) e comprazera-Se em ensinar
nele. Defendera-o como casa de oração para todas as nações e tinha procurado
prepará-lo para tal fim. Mas sabia também que o período desse templo terminara
e que algo de novo chegaria, relacionado com a sua morte e ressurreição" (in
Jesus de Nazaré [Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição], Principia,
Cascais, p. 39, 2011). Este algo novo é a instauração da era dos gentios, que
se traduz na universalidade do Evangelho para todos os povos à face da Terra e
a inauguração espiritual do novo templo no coração dos eleitos filhos de DEUS. O
judaísmo passaria para um estado de desuso religioso em detrimento da ascensão
universal do Cristianismo.
Os discípulos, de acordo com o texto sagrado, perguntaram-Lhe: "dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim
do mundo?" (Mateus 24:3). Extraio aqui
três importantíssimas perguntas feitas a Jesus, diferentemente de alguns intérpretes
que têm outra leitura. A primeira pergunta prende-se com os acontecimentos
anunciados por Jesus sobre a destruição do templo; a segunda que sinal haverá da
Sua vinda e, a última, o tempo exacto do fim do mundo. Aliás, os discípulos, voltaram
a interrogá-Lo sobre esta mesma pergunta momentos antes da sua ascensão aos céus (Actos 1:
6). Apesar de toda esta curiosidade humana Jesus não revelou,
com total precisão, o dia e a hora em que Ele há-de vir (Mateus 25:13), porque ninguém
mesmo sabe: nem os anjos no céu, nem o Filho. Só o Pai é que conhece este recôndito mistério (Mateus 24:36).
O Senhor Jesus, sentado no Monte das Oliveiras, com
autoridade divina para ensinar e não como a dos doutores da lei (Mateus 7:29), respondeu
às referidas questões com a advertência "acautelai-vos, que ninguém vos engane" (Mateus 24:4). A constante vigilância espiritual é extremamente fundamental para
o sucesso da vida Cristã. Ela é, sem margem para dúvida, o antídoto para
discernirmos correctamente os pseudo-messias, saber compreender plenamente
em que tempo estamos a viver (Mateus 24:42; Romanos 13:11) e detectar os dissimulados profetas. Isto porque surgirão falsos cristos e aparentes profetas, e farão tão
grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos
de DEUS (Mateus 24:24; Marcos 13:7; 22; 2 Tessalonicenses 2:9-11). E, de seguida, o
palco será de guerras e rumores de guerras ao redor do mundo, máxime a implacável
perseguição e o martírio dos Cristãos. Por aumentar, de forma galopante, a
iniquidade o amor de muitos esfriará. Nesta altura inúmeras pessoas apostatarão a fé. A traição, o ódio, a heresia, o escândalo, a falsidade,
as guerras, serão comuns no seio dos humanos, inclusive dentro das igrejas. Os autênticos
Cristãos sentirão na pele o preço de ser o testemunho fiel do Senhor Jesus Cristo.
Mesmo assim, a Igreja triunfará e as portas do inferno não prevalecerão
contra ela (Mateus 16:18 ; 2 Tessalonicenses 2:8).
O discurso escatológico do Senhor Jesus já se cumpriu
parcialmente. Nos anos 70, tal como supra
mencionado, Jerusalém foi conquistada pelos romanos, e, consequentemente, o
templo profanado e destruído. Segundo o historiador Flávio Josefo mais de
1 100 000 pessoas perderam a vida com a estrondosa queda de
Jerusalém. Outros entenderam que o número dos mortos é um pouco inferior
relativamente ao que Josefo registou. Qualquer das maneiras, não deixa de ser
uma autêntica carnificina.
Por conseguinte, tudo isto configura apenas "o principio das
dores", que terá ápice com o grande acontecimento do fim do mundo. O cenário geral
será tremendamente catastrófico. A humanidade assistirá ainda aos piores
horrores, que cairão sobre a face da Terra. A começar com fomes, pestes e terramotos em
vários lugares (Mateus 24:7). As potências dos céus serão profundamente abaladas (Mateus 24:29). O livro de Apocalipse relata, com maior alcance
prático-teológico, esta monstruosa situação, sendo óbvio que tudo procederá com
a soberana permissão divina. E, se o Senhor não abreviasse aqueles dias, diz o evangelista Marcos, nenhuma carne se salvaria; mas, por causa dos escolhidos,
que escolheu, abreviou aqueles dias (Marcos 13:20). Neste cenário caótico e maquiavélico, da era dos gentios,
próximo já do fim do mundo, coincidirá com a predestinada salvação dos judeus,
pois todo o Israel será salvo (Romanos 11:26-27;
Isaías 59:20-21). Acabarão por converter-se ao Cristianismo e reconhecerão o
Messias como "bendito o que vem em nome do Senhor" (Mateus 23:39).
Não obstante essas terríficas adversidades, que
os Cristãos terão que enfrentar no seu testemunho de vida, a vitória estará
sempre do nosso lado, porque"somos mais que vencedores, por aquele que nos amou" (Romanos 8:37). Tais obstáculos não serão causas impeditivas para a propagação
do Evangelho e o seu significativo avanço até aos confins da Terra. Ele, de
acordo com a Santa Palavra de DEUS, será poderosamente "pregado em todo o
mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim" (Mateus 24:14). Que
assim seja.