O Ministério do Púlpito (5)


A família é o alicerce básico e imprescindível para a evolução de qualquer sociedade. É uma das melhores bênçãos que DEUS soberanamente outorgou à Humanidade para o seu fortalecimento e enriquecimento. Nela recaem todos os legítimos anseios e o futuro dos povos. Se ela for bem estruturada isso refletir-se-á, sem dúvida, na vida dos seus membros e na sociedade em geral. Esta regra de apuramento, por analogia, na perfeição, aplica-se às igrejas do Senhor Jesus Cristo. Somente teremos congregações salutares se as famílias que delas fazem parte procurarem no seu quotidiano encarnar os impolutos Princípios e Valores do Evangelho. Uma igreja fragmentada, em termos familiares, certamente, deixará sequelas profundíssimas que terão implicações extremamente negativas na sua absorção doutrinária e crescimento espiritual. Ciente desta inequívoca verdade soteriológica, o Diabo tem infringido duros golpes ao instituto da família ao longo dos tempos, através de leis e práticas infames, que vão consubstanciando na relativização do casamento e banalização do divórcio e aborto, com o intuito último de destruí-la e concomitantemente à Igreja de Cristo. 

No passado dia catorze do corrente mês, imbuído pelo Espírito Santo, preguei sobre a questão do divórcio, na Igreja Evangélica Baptista de Mem-Martins, como tinha previamente anunciado AQUI. O texto bíblico que usei para transmitir a Palavra de DEUS foi o de Mateus 19:1-12. Logo nos primeiros dois versículos do referido capítulo, o autor sagrado destaca o relevante facto do Senhor Jesus Cristo ter concluído com êxito o Seu discurso e deixado a Galileia para o território da Judeia, bem como de ter sido seguido, nesta deslocação missionária, por uma enorme multidão. O discurso do Senhor Jesus Cristo centrava-se sobre os mistérios do Reino dos céus. ELE procurava, em todos os sítios que passava, transmitir todos os desígnios de Deus. E fazia-O com notória autoridade Divina, diferentemente dos escribas e fariseus (Mateus 7:28-29). Por isso, a Sua poderosa mensagem tinha um acolhimento bastante favorável por parte do povo. 

Depois de cumprir com o êxito o Seu ministério nas circunscrições da Galileia, por ter feito tudo o que era necessário para ganhar as almas para DEUS, seguiu para as regiões da Judeia com vista a proporcionar às populações desta localidade a oportunidade de ouvir também a Boa Nova da Salvação. O Senhor Jesus tinha uma consciência missionária muito bem apurada. Não se limitava apenas a considerações teórico-dogmáticas. Traduzia, na prática, aquilo que ensinava.  Acontece que, nessa mudança, a multidão fazia questão de segui-Lo (Marcos 10:1). Obviamente, na generalidade dos casos, seguiam-No por motivações completamente interesseiras e erradas, máxime para verem satisfeitas as suas necessidades básicas (João 6:26). Mesmo assim, o Filho do Homem nunca deixou de atender os seus anelos de alma, dando-lhes de comer e curando-lhes toda a sorte de enfermidades. Esta coerente conduta remete-nos para uma importante verdade bíblica: de tratarmos piedosamente todos aqueles que se aproximam de nós, independentemente de professarem a mesma fé connosco ou de serem calculistas. Somos encorajados, nas Escrituras Sagradas, a ajudar incondicionalmente todas as pessoas que se aproximam de nós. E o Senhor Jesus Cristo deu-nos um belo testemunho neste sentido, isto é, de não amar somente os nossos amigos, ou aqueles que nos fazem o bem, mas estender a bondade, a misericórdia e o perdão até para com os nossos inimigos (Lucas 6:27-36). Isto implica amar e ajudar qualquer pessoa que estiver ao nosso redor, sem discriminar ninguém pela sua condição sociocultural (Deuteronómio 1:17; Tiago 2:8-9), porque o Eterno DEUS não faz excepção de pessoas (Deuteronómio 10:17; Romanos 2:11)

É curioso ainda notar o forte elo entre o Senhor Jesus e a multidão durante todo o Seu ministério terreno. Apesar dos muitos defeitos que se podem apontar à multidão, como já supra mencionamos, foi ela que DEUS usou para, digamos, assim,“proteger” provisoriamente o Messias perante várias intentonas falhadas dos líderes religiosos de prendê-Lo e, deste modo, tirar-Lhe a vida antes de chegada a Sua hora. Sabemos, em abono da verdade, que o Senhor Jesus não poderia ser preso e morto antes do tempo pré-determinado (João 7:30). No entanto, para concretizar esta verdade bíblica, o Eterno DEUS usou a multidão para travar o ímpeto maléfico dos líderes religiosos, que queriam a todo o custo prendê-Lo. E quando chegou de facto a hora do Messias passar desta vida para o além, a mesma multidão que tanto lhe venerava retirou-Lhe o devido apoio e concludentemente levou à Sua prisão e crucificação. Remetemos, desde já, para o artigo que escrevemos sobre esta temática há meses – relação entre Jesus e a multidão no Seu ministério terreno, com ênfase mais acentuado na Sua entrada Triunfal em Jerusalém (LER)

Nesta mudança do Senhor Jesus Cristo, com a multidão para o território da Judeia, infiltraram-se também alguns dos fariseus para O experimentar perguntando-Lhe: “será permitido a um homem divorciar-se da mulher por qualquer razão”? A pergunta aparentemente parece bastante fácil de responder, se não fosse a cilada que encerrava. Esta armadilha só se consegue aferir através de um apurado discernimento espiritual, sob pena de resvalar em tramoia astutamente bem montada. E isto deve fazer-nos pensar muito sobre a nossa caminhada Cristã. Muitas vezes, o Diabo tenta-nos objectivamente com situações que julgamos fáceis de superar, levando-nos ingenuamente a dispensar do imprescindível apoio do Espírito Santo, optando-nos por confiar meramente nas nossas limitas forças. O resultado acaba sempre por ser fatal. Não há nenhuma tentação que consigamos superar sozinhos, sem a preciosíssima ajuda Divina. Somente vencemos as ciladas do inimigo, revestindo-nos de toda a armadura de DEUS, tal como sugerido pelo Apóstolo Paulo em Efésios 6:10-18, razão pela qual precisamos estar sempre sintonizados com o Espírito Santo, “orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos” (Efésios 6:18 ; 1 Tessalonicenses 5:17), estando assim imunes à queda. 

Para compreender melhor o alcance prático da pergunta em apreço, segundo alguns conceituados biblistas, havia uma patente divergência doutrinária no seio dos judeus, nomeadamente os seguidores da opinião dos rabinos Hilel e de Shammai. Aquele defendia o divórcio por razões mais fúteis, com base nos preceitos do Deuteronómio 24:1-4. Ao passo que este, refugiando-se na sua concepção conservadora, tinha uma posição mais intransigente a nível da separação entre os casais. Admitia o divórcio apenas em situações de indecências gritantes. E na região da Judeia, onde Jesus agora se encontrava, diziam ainda os mesmos teólogos, eram povos mais liberais pelo que se inclinavam mais pela posição permissiva de Hilel. Os fariseus fizeram a Jesus esta subtil pergunta com o intuito de colocá-Lo contra o povo desta localidade. Isto porque presumiam qual seria a Sua resposta, visto que Ele já o tinha manifestado publicamente na Galileia (Mateus 5:31-32). 

O Senhor Jesus Cristo, como conhecedor da mente humana, transcendeu as suas querelas doutrinárias que induziam ao erro, através da magnífica resposta: “não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, E disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá à sua mulher, e serão dois numa só carne? Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem” (Mateus 19:4-6). Com isso evitou atribuir razão a uma das partes no debate em apreço, ultrapassando as suas redutoras mundividências espirituais, mas, simplesmente, lembrando a finalidade última pela qual o casamento foi instituído pelo o Todo-Poderoso Jeová aquando da criação do Homem no jardim do Edem. E assim, o Senhor Jesus estava a vincar a importância teológica de Génesis 1:27; 2:24; 5:2. Sobressai, ainda, aqui, a necessidade de conhecermos bem as Escrituras Sagradas e podermos fundamentar todas as nossas respostas com base nelas, especialmente a todos aqueles que nos peçam a razão da fé (1 Pedro 3:15), evitando assim correr o risco de cair em heresias de perdição. Durante todo o ministério terreno do Senhor Jesus, Ele não respondia a nada que não fosse com base nas Escrituras Sagradas. Vemos isso nessas passagens, bem como aquando da Sua tentação no deserto (Mateus 4:1-11; Lucas 4:1-13) e nos inúmeros confrontos que teve com os escribas e fariseus.  Procuremos igualmente trilhar este infalível método nas nossas vidas, pois só assim sairemos vitoriosos perante qualquer situação adversa e cilada do Diabo. 

A elucidativa resposta do Senhor Jesus, pelos vistos, não foi nada convincente para os fariseus que retorquiram: “então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la?” (Mateus 19:7). O Senhor Jesus respondeu-lhes: “Moisés permitiu-vos deixar as vossas mulheres por saber que vocês têm coração duro”. Os fariseus queriam agora colocá-Lo contra o patriarca Moisés, que tinha escrito o seguinte: “Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então será que, se não achar graça em seus olhos, por nela encontrar coisa indecente, far-lhe-á uma carta de repúdio, e lha dará na sua mão, e a despedirá da sua casa”. O preceito sagrado vai estender-se até ao versículo quatro do mesmo capítulo (Deuteronómio 24:1-4). O Senhor Jesus imediatamente fez correcção de “Moisés mandou dar carta de divórcio” para “Moisés vos permitiu por causa da dureza do vosso coração”. O verbo “mandar” e “permitir” têm significados e alcances completamente distintos. O primeiro é um imperativo, ao passo que o segundo é uma opção. Moisés em circunstância alguma lhes mandou abandonar as suas mulheres, mas sim permitiu-lhes. Este importante pormenor faz toda a diferença no elemento da interpretação. Os fariseus fingiam não vislumbrar a finalidade última do preceito sagrado, acabando sempre por adulterá-lo como os ignorantes e instáveis na fé deturpam para a sua própria condenação (2 Pedro 3:16)

E mais, essa permissão deve-se, segundo o Senhor Jesus Cristo, à dureza dos seus corações, tendo em conta a marginalização grosseira que muitas mulheres sofriam nas mãos dos seus violentos maridos, levando em muitos casos à morte de algumas delas. E para evitar esta extrema situação e poupar as vidas das inofensivas mulheres, Moisés permitiu-lhes separar delas, uma vez que a vida é mais importante do que propriamente o divórcio. A única alternativa viável que o patriarca Moisés encontrou naquela altura, para minimizar esta fatídica situação e consequentemente poupar vidas das inofensivas mulheres, foi a de permitir-lhes divorciar-se das suas mulheres. A dureza do coração é a pior coisa que poderá acontecer ao ser humano, porque leva-o à insensibilidade e cegueira espiritual, mormente a praticar as piores atrocidades contra o seu próximo. O coração do ímpio está cheio de toda a rapina e maldade. E tudo isto acaba por ter repercussões negativas no contexto em que esteja inserido. Somente a milagrosa graça de DEUS poderá curá-lo, transformando-lhe desta transgressora forma de estar na vida, convertendo-lhe o seu coração de pedra para coração de carne (Ezequiel 36:26-28)

No entanto, é preciso frisar que o divórcio não era o propósito inicial de DEUS. Não fazia parte do Seu plano, tal como vincou o Senhor Jesus (Mateus 19:8, Marcos 10:6-10). E vai ainda ao ponto de advertir peremptoriamente: “quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra comete adultério [e o que casar com a repudiada comete adultério]” (Mateus 19:9). Este versículo tem sido objecto de várias interpretações ao longo dos tempos. Reconhecemos, sem qualquer tipo de rodeios, que tem um grau de compreensão bastante difícil. Antes de esmiuçarmos o seu significado teológico, importa salientar que o Senhor Jesus depois de argumentos e contra-argumentos com os fariseus, introduziu um novo elemento à discussão, que é “eu, porém, vos digo”, evidenciando assim a Sua inquestionável Divindade como sendo o próprio Jeová que conferiu a Lei a Moisés e legisla todo o universo criado pela obra das suas mãos (Actos 7:49:50 ; 17:24). Com isso, o Senhor Jesus não estava de todo a pôr em causa a Lei Mosaica, mas sim a esclarecer o seu sentido último, que os doutores da lei distorciam para ajustar aos seus caprichos carnais (Mateus 23:13-25). Até porque, tal como já havia dito em outras ocasiões, “não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim abrogar, mas cumprir” (Mateus 5:17). O Senhor Jesus Cristo acaba assim por assumir manifestamente o protagonismo de ser o autor e consumador da nossa fé Judaico-Cristã (Hebreus 12:2; 8-1), esclarecendo todas as dúvidas existentes sobre a revelação bíblica. E neste pertinente esclarecimento, Ele admitiu o divórcio apenas em caso de relações sexuais ilícitas, isto é, todos os pecados que envolvem a imoralidade sexual, nomeadamente a prostituição, a homossexualidade, a pedofilia, a pornografia, o incesto, a violação, o sadomasoquismo, as orgias, a zoofilia, bestialidade, etc. 

E mais, o adultério que era sentenciado com a pena de morte (Levítico 20:10; Deuteronómio 22:22) passou agora a ser o legítimo fundamento para o divórcio e não à pena capital como outrora. E interrogamos: não será por causa disso que o Senhor Jesus não condenou a mulher adúltera (João 8:1-11)? Ou é por haver uma grosseira injustiça objectiva, levando à provável absolvição do homem adúltero em detrimento da mulher? Ou tal deve-se apenas à preterição das formalidades legais, que vedava os judeus aplicação da pena de morte (João 18:31)? Eis as pertinentes questões para reflexão. Por conseguinte, somente em condições extremamente excepcionais aceitamos o divórcio. Aliás, um entendimento também defendido pela Profissão da Fé Baptista Portuguesa, que subscrevemos na íntegra, que versa o seguinte: “a Escritura repudia o divórcio; não o recomenda como solução, recomenda a reconciliação e o perdão entre os cônjuges. Admite-o apenas em condições de excepcionalidade” (LER). Não comungamos, desta forma, da opinião libertina daqueles que consideram igualmente a violação doméstica como sendo o justo fundamento para o divórcio. Tal redutora mundividência não tem qualquer tipo de acolhimento bíblico. Apesar de repudiarmos veemente este aversivo e vil comportamento humano, que não se coaduna com o decoro social e de civilidade, jamais iremos legitimar o divórcio pela violação doméstica. Isto porque abriria portas para outra série situações, designadamente a violência psicológica e crime de importunação, a privação de um dos elementos do débito conjugal, a impotência e insatisfação sexual, o défice excessivo no dever de coabitação, etc. Tudo isto serviria de pretextos aparentemente “justificáveis”, numa concepção secularista e pós-moderna, para legitimar o divórcio. E todas essas realidades, não temos dúvidas, o Senhor Jesus sabia perfeitamente delas de antemão quando estipulou este preceito inovador. Por isso, não somos nós que vamos acrescentar pontos que não estão contemplados na Sua afirmação. Somente consentimos o divórcio em casos extremamente excepcionais, insistimos. Ou, tão-simplesmente, em casos manifestamente dramáticos de vida ou morte para um dos cônjuges, aplicando sempre a justiça do caso concreto, dando assim a inteira primazia a inviolabilidade da vida. O conselho que sempre damos é dos nubentes procurarem certificar, com ajuda do Espírito Santo, se o parceiro em causa é a pessoa mais indicada para partilhar toda a vida. E isto passa, acima de tudo, por amar profunda e incondicionalmente a pessoa eleita como se deve esperar de um lar Cristão (Efésios 5:21:33). Dito por outras palavras, ter DEUS permanentemente presente no lar, uma vez “se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela” (Salmo 127:1-5). Só assim ambos conseguirão superar situações adversas, que inevitavelmente vão surgir no percurso matrimonial, e continuar fiéis ao compromisso de honra que assumiram diante do Altíssimo, porque o amor “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Coríntios 13:7). 

Perante esta peremptória explicação e simultânea estipulação do Senhor Jesus Cristo sobre o matrimónio foi agora a vez dos seus discípulos replicarem-No: “Se essa é a condição do homem relativamente à sua mulher, não convém casar” (Mateus 19:10). Esta resposta dos discípulos espelha muito bem a nossa limitada mundividência: muitas das vezes, não estamos minimamente preparados para “pagar o preço” e, como tal, tentamos refugiar-nos em descabidas utopias. Os discípulos, em vez de vislumbrar os benefícios espirituais que o novo preceito do Senhor Jesus acarretaria nas suas vidas, estavam a encará-lo como sendo um mal e obstáculo ao seu distorcido conceito de liberdade. Quantas vezes, na nossa caminhada Cristã, não enveredamos também nestas artimanhas com o intuito de nos esquivar dos nobres propósitos Divinos nas nossas vidas? Ser discípulo do Senhor Jesus Cristo envolve renúncia de tudo aquilo que não se coaduna com os seus mandamentos, bem como carregar a cruz todos os dias e determinadamente segui-Lo (Lucas 9:23). Isto não é uma tarefa fácil, mas é possível com a graça e ajuda do Espírito Santo. Precisamos apenas deixar moldar o nosso carácter pelo poder de DEUS, e não estar a ver isso como um fardo pesado e difícil de suportar, tal como revelaram os discípulos na sua limitada e egocêntrica resposta. 

O Senhor Jesus Cristo, conhecedor de todas as coisas, não censurou directamente a sua resposta. Apesar dela revelar motivações completamente equivocadas do ponto de vista espiritual. Ele limitou-Se meramente a uma importante achega: “Nem todos são aptos para receber este conceito, mas apenas aqueles a quem é dado” (Mateus 19:11). Com isso, o Senhor Jesus estava a mostrar que se por um lado o celibato é algo bom e aconselhável, à luz da revelação Divina, nem todos estão habilitados a não casar. Há, de facto, uma grande vantagem espiritual em não se casar, porque “quem não é casado cuida das coisas do Senhor, de como agradar ao Senhor”, escrevia o Apóstolo Paulo à Igreja de Corinto. E vai ainda ao ponto de considerar que “o que casou cuida das coisas do mundo, de como agradar à esposa, e assim está dividido. Também a mulher, tanto a viúva como a virgem, cuida das coisas do Senhor, para ser santa, assim no corpo como no espírito; a que se casou, porém, se preocupa com as coisas do mundo, de como agradar ao marido” (1 Coríntios 7:32-34). Foi por isso que incentivou os fiéis a não ter relações sexuais, isto é, que todos os homens sejam celibatários como ele (1 Coríntios 7:1; 79). No entanto, para evitar o perigo da imoralidade sexual, caso a pessoa não se consiga dominar, é mais preferível casar a arder em desejos, advertia (1 Coríntios 7:8-9). Tendo presente estas importantes verdades soteriológicas, sobretudo a implicação prática que o dom do celibato envolve, o Senhor Jesus explicou-lhes ainda pacientemente as três formas de celibato que existem, nomeadamente “eunucos de nascença; há outros a quem os homens fizeram tais; e há outros que a si mesmos se fizeram eunucos, por causa do reino dos céus”, pondo definitivamente termo ao debate com a admoestação: “Quem é apto para o admitir admita" (Mateus 19:12)

O casamento é um dos institutos mais sagrados na Palavra de DEUS. Não há nada que se possa igualar no seio dos humanos ao vínculo sagrado entre o marido e a mulher. Parafraseando um reputado biblista, é mais importante espiritualmente do que o dos filhos que geramos. Estes, dizia ainda, não fazem parte integrante do nosso corpo (Génesis 2:22-24; Mateus 19:5-6; Marcos 10:7). Ao passo que os cônjuges são parte um do outro pela união que fizeram (Efésios 5:31). Os filhos um dia terão que sair de casa para fazer as suas vidas. Os casados estão condenados, no bom sentido do termo, a viverem juntos para todo o sempre. Precisamos interiorizar esta indubitável verdade para o nosso próprio bem e da Humanidade. Os tempos pós-modernos que vivemos não são nada fáceis, máxime para os casais. Há uma pressão enorme a que muitos não conseguem resistir, acabando por recorrer à penosa via do divórcio, infelizmente. Os números avassaladores de separação, dentro e fora da Igreja, devem preocupar-nos bastante (LER). Sabemos que o Diabo está por detrás de todas esses malefícios familiares, visando destruir a vida das pessoas e dos crentes no Senhor Jesus. Esta é a razão pela qual tem havido, nas últimas décadas, paradigmas perniciosos sobre a família que entram flagrantemente em contradição com o infalível modelo bíblico. A legalização do aborto, do casamento homossexual e a sua co-adopção de infantes, a liberalização do divórcio e das barrigas de aluguer, à ênfase acentuada na união de facto e na ideologia de género são autênticas manifestações visíveis de adulteração do conceito tradicional da família nos nossos tenebrosos dias. 

Por isso vemos cada vez mais famílias desestruturadas, até mesmo nas nossas igrejas, e com prejuízos enormes na educação dos filhos e no avanço do Evangelho. Muitos crentes já nem sequer têm aversão ao divórcio e acabam por encará-lo como sendo algo natural no percurso de vida. Banalizamos a Palavra de DEUS, a família e a santidade da vida Cristã. A consequência é a frustração, depressão e infelicidade a que todos os dias assistimos no nosso círculo de convivência. A Igreja precisa reflectir seriamente sobre o importante assunto da família e procurar coadjuvar, de acordo com as Escrituras Sagradas, os nossos casais. Só assim estaremos em condições necessárias de vencer esta importante batalha contra o divórcio e, consequentemente, ser agentes de mudança nesta ímpia sociedade em que estamos submergidos. E tudo isto passa por construirmos famílias saudáveis, que devotamente sirvam ao Senhor de corpo e alma, tal como dizia expressamente Josué: “eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Josué 24:15). Aqui assim seja.