A fundação do PAIGC foi a pior maldição que aconteceu à
Guiné-Bissau, tal como a desordeira independência que não trouxe qualquer tipo
de independência ao nosso país. É um partido constituído com base em patranhas,
segregações, absolutismos e derramamento de sangue. Guiou-se sempre por estes
malévolos vícios desde a sua génesis. E o Engenheiro Amílcar Lopes Cabral foi o
mentor de toda esta funesta situação, bem como do fuzilamento massivo dos ditos "insubordinados" na
vindicta do Congresso de Cassacá em 1964. A face visível do PAIGC, como bem a
conhecemos, ao longo dos tempos, é a do seu "querido líder" Cabral.
E tudo isto tem repercussões bastantes negativas na redutora mundividência
política do caduco partido, máxime nos métodos violentos que sempre empreendeu
para conquistar o poder e resolver os seus atritos internos. A raiz de todos os
males que nos afectam dramaticamente deriva do sanguinário PAIGC e da sua
incapacidade em adoptar os sublimes Princípios e Valores Democráticos.
A nosso ver a descolonização da Guiné-Bissau era tudo uma
questão de tempo. Cedo ou tarde Portugal não teria outra alternativa viável se
não abandonar mesmo o nosso país e, deste modo, outorgar-nos a tão almejada independência.
E fazia todo o sentido que esperássemos mais um pouco e tomássemos a nossa
independência pacificamente, sem qualquer tipo de derramamento de sangue, uma
vez que a Guiné-Bissau já estava sob o domínio português há mais de cinco
séculos. Esperar mais alguns anos não criaria os enormes transtornos que a
asquerosa luta armada acabou por nos criar. Afirmamos isto convictamente porque
estavam em curso em Portugal algumas pressões políticas que o governo de
Salazar vinha confrontando do ponto de vista interno e externo. Aqui, havia
praticamente unanimidade perante as potências mundiais, no que toca ao "Princípio
da Autodeterminação dos Povos" consagrado na Carta das Nações Unidas,
em 1945, somando ao facto que, na data da sublevação armada, Inglaterra e França
haviam perdido a generalidade das suas colónias em África. Ao passo que a
antiga União Soviética [URSS], Alemanha e China estavam na linha da frente para
que se acabasse de vez com a colonização. Ali, do ponto de vista interno,
existia um certo tipo de descontentamento na maioria dos sectores mais
progressistas da sociedade portuguesa para com o regime fascista do Estado Novo
e uma ânsia maior em aderir à Democracia Participativa, tal como outros
bem-sucedidos países europeus na altura. Todos estes factores acabariam por
condicionar decisivamente a política externa portuguesa e, em consequência
disso, a libertação dos países colonizados.
A Guiné-Bissau, no entanto, decidiu entrar numa guerra
para a qual não estava minimamente preparada. Não estava preparada, porque um
dos aparentes desígnios traçados pelo PAIGC consistia no "Programa
Maior", que é o desenvolvimento sustentável do país. E este importante
imperativo revelou-se um autêntico fracasso ao longo destas quatro décadas devido
à deriva político-governativa a que fomos miseravelmente adstritos. Acreditamos
piamente que podíamos tomar a nossa independência através de uma resistência
pacífica, e sem qualquer tipo de derramamento de sangue, diferentemente da
grosseira mentira que foi veiculada pelo PAIGC de que havia uma total
impossibilidade da resistência continuar por meios pacíficos. Esta astuta
alegação não corresponde à verdade, visando apenas ludibriar a opinião pública
guineense e internacional. A Guiné-Bissau tinha ao seu redor modelos
bem-sucedidos de países que conseguiram emancipar-se, sem necessitarem de
recorrer à via armada. Os exemplos mais próximos de nós são os do Senegal e da
Guiné-Conacri, etc. Era, simplesmente, uma questão de continuar a fazer pressão
até conseguirmos.
Não temos a mínima dúvida de que se tivéssemos conquistado
a independência de forma ordeira, tal como alguns países africanos sabiamente
optaram por fazer, a nossa sorte seria completamente diferente. Não estaríamos
hoje nestes constantes ziguezagues políticos. A nossa autonomia seria bastante
frutuosa e sairíamos todos a ganhar com isso, poupando assim inúmeras vidas que
se perderam em vão. Porém, de forma impensada e irresponsável, decidimos
enveredar pelo caminho da violência que acabou por deixar enormes sequelas nos
nossos Antigos Combatentes, fazendo-os depois entrar em grandes contradições
com os ideais que acerrimamente defendiam, passando a ser os primeiros
empecilhos ao desenvolvimento do país. A começar, desde logo, com o despotismo
atroz instaurado pós-independência, que se vai desdobrando no nepotismo,
ganância desenfreada pelo poder, corrupção generalizada dentro do aparelho de
Estado, ajustes de contas, perseguições políticas, golpes e contragolpes de
Estado, assassinatos de civis e de altas figuras de Estado e toda a sorte de
iniquidades sem fim à vista. Um autêntico império de futilidade,
consubstanciando na sua essência um completo triunfo das personalidades
medíocres e corruptas nos cargos da nossa Res Publica.
A rápida conclusão a que podemos chegar, com a falhada
luta de libertação nacional, é a seguinte: o povo guineense foi iludido por
oportunistas frustrados com a condição de vida que dispunham, lutando
exclusivamente pelos seus egocêntricos e insaciáveis caprichos, usando a
sagacidade para afirmar que estavam a lutar pela "causa
nacional". Não é preciso ser politólogo para reconhecer esta grande e
manifesta verdade. Basta pensarmos nos gritantes males que o PAIGC e os
políticos em geral causaram à Guiné-Bissau para compreendermos que, de facto,
esses patronos de fraude e filhos da perdição nunca pensaram nos superiores
interesses do país como reiteradamente propalam.
Como contra-argumentos alguns nos dirão que esse processo
que a Guiné-Bissau está a atravessar faz parte do percurso "natural" dos
países, tal como já pudemos constatar em várias ocasiões nos intensos debates
que temos travado sobre este assunto. Não comungamos com este entendimento desfasado
e redutor, visto que aquilo que se passa no nosso país ultrapassa todos os
limites daquilo que podemos considerar como "fases normais"
comum a muitos outros países que tiveram a mesma infelicidade de ter que passar
pelo difícil processo da consolidação do seu Estado de Direito Democrático.
Tínhamos outras alternativas bem melhores para trilhar do que propriamente este
desastroso percurso que optámos por enveredar. Vejamos a título de exemplo: nos ratings da
Organização das Nações Unidas (ONU) a Guiné-Bissau consta sempre em última
posição e figura ainda nos países mais pobres do mundo, somando isso à elevada
taxa de analfabetismo, pobreza e mortalidade materno-infantil que encerra. Se
isso são "fases" que alguns conformistas consideram "normais" para
a Guiné-Bissau então vivemos num mundo diferente, porque jamais nos
acomodaremos com estas péssimas evidências para o nosso país.
Vendo a realidade política actual da Guiné-Bissau, não
temos a mínima dúvida que levaremos ainda muito tempo para superar
definitivamente as profundas mazelas deixadas pela guerra colonial e, mais
tarde, pela fratricida guerra civil de 7 de Junho de 1998. Há, infelizmente, um
clima de ódio e de vingança que paira nos horizontes de alguns rancorosos
guineenses. E isto vai continuar a perseguir-nos, enquanto não pararmos para
auto-avaliar prudentemente a nossa condição como povo e colocarmos os superiores
interesses da nação acima de qualquer outro tipo de interesse, jamais
experimentaremos a verdadeira Paz, a Reconciliação e o Desenvolvimento Nacional
que a maioria dos guineenses ardentemente aspira.