Faz hoje precisamente 19 anos que alguns insubordinados
militares guineenses, coadjuvados por politiqueiros que grassam na nossa praça
pública, fizeram a sublevação militar que ceifou prematuramente a vida de
inúmeras pessoas, deixando sequelas indeléveis e rastos de destruição que ainda
hoje se repercutem negativamente na vida quotidiana da generalidade dos
guineenses. 7 de Junho de 1998 ficará definitivamente registado nos anais da
História da Guiné-Bissau como uma data funesta, que contribuiu decisivamente
para agravar o elevado índice de pobreza e de mortalidade que já vinham
afectando o nosso povo.
Apesar do despotismo político-governativo implementado por
João Bernardo Vieira (Nino) ao longo dos anos no país era, de todo, dispensável
a hedionda guerra civil. Não fazia qualquer tipo de sentido. Foi uma
opção irresponsável e errada por parte dos nossos broncos militares e políticos, tal
como os anos subsequentes vieram manifestamente a provar. A pacóvia classe
castrense imbuída pelos seus egocêntricos caprichos – como sempre – decidiu
enveredar unilateralmente pelo caminho da violência sem, no entanto, dispor de
agenda patriótica e alternativa política credível para fazer avançar o país.
Usurparam o poder pela força e locupletaram-se ilicitamente, fazendo no curto espaço do
tempo pior do que o regime anterior tinha feito. Em suma, eis abreviadamente a penosa receita da guerra 7 de Junho de 1998: a mortandade sem precedentes, o anarquismo absoluto, o esvaziamento do poder e
autoritarismo governativo, a corrupção generalizada dentro e
fora do aparelho do estado, tremendas desigualdades sociais, miséria galopante,
nulidade das instituições do país, o abuso de poder, a inexistência de classes sociais e o
triunfo da mediocridade. Retrocedemos, como se pode ver, a todos os níveis. Perdemos
literalmente tudo, inclusive a esperança média de vida e ficamos cada vez mais vulneráveis, sem qualquer tipo de benefício
concreto para o povo. Que má sorte a nossa!
Quero, do fundo do meu
coração, prestar uma singela homenagem a todos os guineenses e não guineenses
que tombaram nesta fratricida guerra, bem como aos que foram prejudicados por
ela e continuam ainda hoje a carregar o enorme fardo dos seus efeitos
colaterais. Agradeço profundamente ao meu Eterno e Todo-Poderoso DEUS por me
ter poupado a vida, juntamente com toda a minha família e amigos[1]. DEUS
seja eternamente louvado!
[1]Ficámos
em Bissau, a título de exemplo, nos momentos mais intensos e críticos da
guerra, nomeadamente a violação do cessar-fogo de 31 de Janeiro do ano seguinte
e posteriormente o massacre perpetrado deliberadamente no campo eclesiástico do
CIFAB, que acolhia aproximadamente cinco mil pessoas, aquando da tomada de
Bissau e o triunfo final dos rebeldes da Junta Militar sobre o governo. Foram
lançadas ali quatro bombas. Três delas caíram literalmente em cima dos
inofensivos refugiados, matando um número bastante significativo de pessoas. Eu
e parte considerável da minha família estávamos abrigados no referido local da
Igreja Católica. Presenciámos todo este horror humano – para não falar de
outras flagrantes situações em que nos encontrávamos mesmo perante "o vale da sombra da morte". Mesmo
assim, pela maravilhosa graça de DEUS, nenhum mal nos aconteceu, confirmando
assim a célebre afirmação bíblica que expressamente diz: "muitas são as aflições do justo, mas o
Senhor o livra de todas" [Salmos 34:19]. O SENHOR, de facto,
protegeu-nos e livrou-nos da morte certa que se teria abatido sobre nós no
decorrer da guerra. Por isso, estou-Lhe penhoradamente grato por tudo o que fez
por mim e pela minha família e amigos.