Guiné-Bissau: Um País à Procura de Identidade Democrática


Costuma-se dizer que as nações são reflexos manifestos das sociedades que emanam e estas, por sua vez, espelham a imagem dos seus respectivos cidadãos. Mede-se o calibre de um país mediante as pessoas que dele fazem parte. E a Guiné-Bissau, sem dúvida, não está fora desta inequívoca regra de apuramento. Por vicissitudes várias, e também supervenientes, máxime pelo esmagamento metódico, a que o nosso povo foi reiteradamente submetido desde a sua história de auto-determinação (LER), tal acabou por arrastá-lo forçosamente para um estado de letargia social e de profundas complexidades. E não estamos a falar de uma situação que surgiu acidentalmente, mas sim que foi deliberadamente criada pela vileza moral dos sucessivos governantes que conduziram funestamente os destinos políticos do país ao longo dos anos. 

Há um vício maléfico e extremamente degenerativo que ameaça cada vez mais a sociedade guineense de forma galopante e preocupante. Não há hierarquia de Princípios e Valores e as pessoas tão-simplesmente postergam-nos para segundo plano nas suas opções de escolhas. Ninguém respeita basicamente as regras democráticas estabelecidas e, muito menos, preocupa-se em aplicá-las no seu quotidiano. Vende-se facilmente a dignidade a troco de qualquer preço com o intuito de sobressair rapidamente na vida. Os compromissos com a Ética, a Moral, os Bons Costumes e a Verdade exauriram-se. Perdeu-se literalmente a noção da Liberdade, da Decência e do Bom senso de uma sociedade que se preze. Não há pessoas com autoridade pública suficiente que possam emergir como modelos inspiradores para os nossos carentes adolescentes e jovens. O modelo passou a ser meramente o dos valores materialistas, traduzindo-se num completo relativismo moral, virado sobretudo para a avidez do lucro fácil, na ostentação da riqueza material, na corrupção generalizada dentro e fora do aparelho de Estado e no vício insaciável pelo poder. As virtudes da Honra, do Respeito, do Recato, da Humildade, da Dignidade, da Honestidade, da Tolerância e de tudo aquilo que outrora foram as grandes Regras-Condutas norteadoras da nossa genuína sociedade foram manifestamente postas em causa, sem que surgissem quaisquer alternativas credíveis para preencher o vazio das referências que foram propositadamente obliteradas. E assim, nesta deriva perigosíssima a que estamos votados, a força vai-se sobrepondo ao Direito, o interesse à Verdade, o dinheiro à Consciência. Ipso facto assiste-se indiferentemente ao triunfo da nulidade, que nos direcciona paulatinamente para um precipício social irreversível. 

O grande desafio que se coloca neste momento à Guiné-Bissau é o de um saneamento sucessivo, com vista a libertar-se e consequentemente encontrar um novo substrato identitário, isto é, mutatis mutandis, na sua caduca mundividência, para assim melhor encarar as elevadas exigências da Democracia Participativa e a realidade de um Mundo pós-moderno. O estado calamitoso que está patente aos olhos de todos remete-nos, sem excepção, para um cálculo objectivo, no sentido de perfilhar com carácter de urgência medidas exequíveis a curto, médio e longo prazo a fim de expurgar definitivamente este cancro obstrutivo que ameaça a nossa unidade, coesão e desígnio nacional.