A temática
da “doutrinação alimentar” tem ganhado nas últimas três décadas um
destaque cimeiro praticamente em todas as culturas e sociedades, entrando também
esta problemática na hermenêutica bíblica. Até aqui nada de anormal ou mal. É bastante
pertinente que os filhos de DEUS tenham as noções fundamentais sobre alimentação
e adoptem, com isso, nas suas rotinas diárias, hábitos alimentares equilibro-balanceados,
tal como sadiamente prescrevem as Escrituras Sagradas, evitando deliberadamente
cair no pecado de comezainas e glutonarias que afectam drasticamente a saúde
física, mental e espiritual do corpo – o templo do Espírito Santo. O problema
prende-se máxime com o facto de alguns teólogos extrapolarem na sua exegese
bíblica, veiculando equivocamente que no início da criação o propósito original
de DEUS para o Homem era que ele perfilhasse exclusivamente as dietas vegetarianas
no seu cardápio diário, sustentando esta tese com base em Génesis 1:30. O
referido texto versa da seguinte forma: “Deus continuou: «Dou-vos todas as
plantas que produzem semente e que existem em qualquer parte da terra e todas
as árvores de fruto, com a sua semente própria. É isso que devem comer”. Só posteriormente, formulam ainda os tais teólogos, que o Homem passou a incorporar o mundo animal na sua alimentação” (Génesis 9:3).
Da nossa
parte, refutamos manifestamente este entendimento redutor. Não comungamos dele.
Jamais podemos subscrevê-lo, uma vez que não tem qualquer tipo de suporte ou
acolhimento bíblico. O preceito sagrado em apreço, circunscreve uma sugestão
meramente facultativa de DEUS para com o Homem e não vinculo-imperativa. Isto
porque tudo aquilo que DEUS tinha criado era muito bom (Génesis 1:31) e
não havia qualquer problema que o Homem desfrutasse daquilo que achasse mais
conveniente para a sua alimentação quotidiana, excepto “a árvore do
conhecimento do bem e do mal” (Génesis 2:9). No dia em que dela
comer, advertia peremptoriamente o Eterno Jeová, fica condenado a morrer (Gênesis
2:17). Do resto, o Homem podia perfeitamente comer de tudo, uma vez que
tudo estava sob o seu domínio, inclusive a carne, “pois tudo aquilo que Deus
fez é bom. E nada merece desprezo, se nos servirmos disso dando graças a Deus.
Com a oração e a palavra de Deus, tudo fica santificado (1 Timóteo 4:4-5).
E mais, logo
depois da queda do Homem no jardim do Éden, DEUS planeou salvá-lo dos seus
pecados, proporcionando-lhe concomitantemente as túnicas de peles para vesti-lo
com vista a ocultar a sua nudez do pecado (Génesis 3:9-24). O sacrifício
de alguns animais fora preciso para tal providência Divina, tal como ficou
implicitamente em Génesis 3:21. Para alguns biblistas isto significava a
providência de DEUS por meio do Messias em face da Sua obra redentora na Cruz
do Calvário. O Todo-Poderoso DEUS vai usar assim, desta forma, um animal para
concretizar os seus soberanos propósitos salvíficos para com a Humanidade outrora
decaída. Animal este que, em última instância, representa o Senhor Jesus Cristo
e o Seu sacrifício expiatório na Cruz do Calvário, simbolizado no pão e no
vinho da Santa Ceia do Senhor, que todos precisam comer e beber para alcançarem
realmente a salvação (Mateus 26:26-30; 1 Coríntios 11:23-26). “Aquele que come o meu corpo e bebe o meu
sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois o meu corpo
é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem comer o meu corpo
e beber o meu sangue vive unido a mim e eu a ele”, formula o Senhor Jesus
Cristo aquando da Sua encarnação (João 6:54-56). A carne sempre fez
parte dos hábitos alimentares dos seres humanos desde os primórdios, estendendo
tal realidade até aos dias coevos e projectando-se na eternidade, através da
festa das “bodas do Cordeiro” (Apocalipse 19-7-10), obviamente numa
outra dimensão alimentar, isto é, a espiritual.
Naturalmente
que, depois da queda do Homem no Jardim do Éden, toda a natureza ficou
deteriorada por causa do pecado original. Perdeu-se significativamente o
brilho, a perfeição e a harmonia inicial que havia no universo, ficando a terra
amaldiçoada por causa de Adão e Eva, passando também a produzir espinhos e
cardos (Génesis 3:17-19). Por isso, nesta mesma esteira do pensamento, “sabemos
que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. E não
só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em
nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (Romanos
8:22-23), razão pela qual, “segundo a sua promessa, aguardamos novos
céus e nova terra, em que habita a justiça” (2 Pedro 3:13). O Homem ficou
drasticamente atingido pelo cancro do pecado, bem como pelo universo e tudo o
que nele há, criando assim um desequilíbrio estrutural na natureza sem
precedentes. E justamente por isso, a comida que extraímos na natureza para
comermos encerra fungos, parasitas, bactérias e vírus perniciosos à saúde. Da
mesma forma, o ar que respiramos está também poluído e contaminado,
independentemente de acção directa do Homem, tal como temos vindo a assistir mais
acentuadamente nos últimos séculos, mormente com a revolução industrial do séc.
XVIII. Toda a obra da criação passou a ser significativamente contaminada pelo
vírus do pecado, fazendo com que as coisas que precisamos para a nossa
sobrevivência sejam susceptíveis de criar-nos danos colaterais na nossa saúde
físico-mental. E esta realidade se aplica também em dimensões alimentares,
infelizmente. Somente a comida vegetariana não dispõe de nutrientes suficientes
para garantir uma boa saúde. Da mesma forma, a dieta exclusiva do mundo animal está
desprovida de garantir a uma pessoa a estabilidade desejada a nível da sua saúde.
Mesmo conjugadas as duas dietas no cardápio alimentar, elas continuam a ficar
bastante aquém daquilo que realmente o nosso organismo espera, tendo em conta a
contaminação que ambas incorporam, por causa do “pecado original”,
insistimos.
No início
da criação o Homem tinha toda a liberdade para comer aquilo que lhe aprouvesse,
exceptuando a árvore do conhecimento do bem e do mal. Não havia “exclusão”
dele optar pelo carnivorismo, tal como sustentam erradamente alguns teólogos.
Ele podia perfeitamente adoptar unicamente a comida do mundo animal, bem como
optar somente pelo vegetarismo ou, inclusive, conjugar os dois regimes alimentares
na sua dieta, pois tudo o que DEUS tinha feito era bom e não havia qualquer
tipo de inconveniências, desequilíbrios, falta, vírus, aversões e malignidade
na obra da criação. Foi o pecado que trouxe todos estes cancros no mundo,
criando assim patentes inimizades entre o Homem e a natureza, culminando funestamente
com a morte.
Mesmo assim, o Omnipresente JEOVÁ delineou o
projecto da salvação desde a eternidade, partilhando-o com a Humanidade. Nesta
partilha evidenciou aquilo que era a condição original que se esperava do Homem
– tanto a nível da sua imaculabilidade espiritual, moral, ética e forma de
viver e consequentemente cuidar do seu próprio corpo. E neste último ponto, tal
como se pode verificar nos textos sagrados sobre as ofertas alçadas ao SENHOR
que reflectem o processo da salvação, estavam incluídas as ofertas da vertente
vegetariana e também do mundo animal. Naquela através da apelidada “oferta
de cereais” composta por flor da farinha, azeite, incenso aromático e sal (Levítico
2:1-16; 6:14-15; 24:5-9). E nesta, conhecida por sacrifícios de
holocaustos, que envolvem pombos, rolas, cabrito, cordeiro e vaca (Levítico
1:5-17; 6-13; 12:6-8; 22:17-19). Todas essas ofertas eram “para ser
queimada em honra do Senhor e que será do seu agrado” (Levítico 2:2; 6:14-23).
Tudo isto para
concluir que as dietas vegetarianas e do mundo animal, desde os primórdios da
Humanidade, estavam inteiramente à disposição do Homem para ele deliberadamente
optar por aquilo que bem entendesse, mantendo esta opção no seu estado de pós
queda e, ao mesmo tempo, na eternidade junto com o nosso Soberano e
Todo-Poderoso Jeová. Por isso, não temos de ficar espantados com estas
artimanhas e heresias dos homens que induzem ao erro, antes pelo contrário, devemos
continuar sóbrios, vigilantes doutrinalmente e esperar pacientemente no Senhor
Jesus Cristo. E mais, sabemos que há pessoas que de forma ignorante e
inconsciente caem nestas heresias, fazendo a apologia de doutrinas que não têm
apoio bíblico. Outros, de forma deliberada e consciente, adulteram as
Escrituras Sagradas com o intuito de confundir os santos Filhos de DEUS.
De qualquer
das maneiras, temos de nos consciencializar que tudo isto evidencia os “sinais
dos tempos” que precederão o fim do mundo. Tal como oportunamente nos
advertem as Escrituras Sagradas, para finalizar, “que, nos últimos tempos,
alguns deixarão a fé, para prestar atenção a espíritos mentirosos e seguir
doutrinas de demónios. Hão de seguir os que lhes ensinam a mentira como se
fosse verdade, que abafaram a voz da sua consciência e impedem as pessoas de
casar e proíbem certos alimentos. Mas Deus criou todos os alimentos para que os
crentes que aceitaram a verdade se pudessem servir deles, dando graças a Deus.
Pois tudo aquilo que Deus fez é bom. E nada merece desprezo, se nos servirmos
disso dando graças a Deus. Com a oração e a palavra de Deus, tudo fica
santificado” (1 Timóteo 1-5). Que assim seja.