O Peregrino no Mundo

Qualquer oportuna ocasião seria um pretexto legítimo para um momentâneo escapismo em outras latitudes, especialmente nestes ansiosos e terríficos tempos pandémicos a que estamos impotentemente submergidos. É isto que vou fazer nos próximos dias: peregrinando por terras distantes. Terras bem distantes das que estou agora. Já tenho comigo o calçado nos pés, a túnica no corpo, a mala nas costas, a Bíblia e lâmpada na mão, o farnel e o bordão pronto para seguir a estrada, andando contemplativamente por ali, por acolá e andando acima de tudo por sítios longínquos. Deixar-me-ei levar na “força do destino”, fazendo uma longa travessia em busca do apaziguamento, procurando resolutamente trilhar caminhos rectos. Não vou para os afamados caminhos de Santiago de Compostela e, tão pouco, de Fátima. Também não enveredarei para os caminhos de Jerusalém ou sequer para Roma. Já estive, noutras ocasiões, nestes três últimos lugares numa grande peregrinação “evangelístico-missionária”. Vou agora por outras circunscrições territoriais no desejo ardente de respirar ares mais puros e descontaminados, libertar-me do tédio do confinamento e reconciliar-me comigo e com tudo à minha volta. Preciso desconfinar um pouco da minha rotina diária, desconfinar a minha mundividência, desconfinar a minha mente para, deste modo, desprender da máscara, da sequidão, da presunção e todo o pecado. Preciso desconfinar do peso da hipocrisia, da indiferença deliberada, do pessimismo e autoflagelo colectivo, da contradição grunha e da maldade do Homem que reina no mundo. Preciso, da mesma sorte, de desconfinar do mundanismo e todos os seus depravados valores para viver plenamente na pacificação Divina.       

Por isso, vou peregrinando inconformadamente neste mundo de trevas, assumindo despudoradamente o epíteto do “cavalheiro andante” ou, numa versão Cristã, “o missionário itinerante” ou até mesmo “o santo pecador” em busca da purificação, da libertação e reconciliação total. 

Ciente das constantes dificuldades, marasmos, perigos, oposições e males que atravessarei na minha longa jornada de vida até à Terra Prometida, mesmo assim sei que não estou sozinho nesta árdua luta carnal e espiritual. Não estou sozinho. Jamais estarei sozinho. O meu Todo-Poderoso DEUS está e estará sempre comigo em todas as minhas peregrinações neste “Vale de Lágrimas”, suprindo todas as minhas insuficiências e falhas, protegendo-me e livrando-me de todo o perigo e mal. Sou um inconformado peregrino no mundo em busca da transcendência da Pátria Celestial. É lá que vou, em última instância, entrar com a ajuda e permissão do Espírito Santo. Que assim seja. E assim sempre será pela fé no Senhor e Salvador Jesus Cristo.