Uns dias atrás numa conversa informal e animada que mantinha com um amigo e irmão na fé acerca da realidade sociopolítica universal dos nossos dias, nomeadamente a dos Estados Unidos, fui estranhamente surpreendido por este mesmo irmão que me interrogava preocupadamente sobre a posição da Convenção Baptista nas eleições americanas, com o intuito de saber qual é o candidato que esta instituição apoiaria. E a minha resposta foi logo imediata e peremptória: obviamente que não há, e jamais haverá, uma posição formal por parte da Convenção Baptista sobre quaisquer tipos de eleições, muito menos a dos EUA; ou de apoiar em concreto um determinado candidato, uma vez que o objecto finalístico da Convenção Baptista, visa única e exclusivamente alcances religiosos e não propriamente estar a imiscuir-se nos assuntos políticos (um Princípio unanimemente acolhido pelas igrejas evangélico-protestantes desde a Reforma Protestante do século XVI por Martinho Lutero).
De facto, à partida, pode parecer surreal a pergunta deste meu estimado amigo e irmão na fé; mas quem conhece bem a “mentalidade” dos evangélicos ditos tradicionais e a conjectura religiosa norte-americana, reconhecerá certamente a pertinência da pergunta e de toda a carga ideológica que lhe está subjacente.
Por maioria de razão - e também por uma questão de identidade religiosa - os protestante-evangélicos Norte-americanos têm mais tendência em apoiar candidatos republicanos, por entenderem que estes defendem melhor os princípios e valores bíblicos – embora tal seja discutível - e por serem acima de tudo, digamos assim, devotos praticantes do Cristianismo. Em certa medida com alguma razão. Basta pensarmos nos candidatos republicanos que governaram os EUA ao longo da sua história da independência nacional para constatarmos que todos eles foram predominantemente evangélicos-protestantes, excepto o primeiro presidente republicano na história do país, Abraham Lincoln, que não professava nenhuma crença religiosa, apesar de ter vindo de uma família oriunda e praticante da fé baptista.
Evidentemente, a identificação dos evangélicos norte-americanos com o partido republicano não se baseia somente nos argumentos acabados de se mencionar, mas também pelo facto de este partido ter tido ao longo da sua constituição uma posição altamente conservadora e tradicional no campo da ética, da moral, e na prática dos bons costumes que sempre nortearam a grande Nação Americana, diferente da posição um pouco liberal (para não dizer mesmo liberal) dos democratas que revelam sempre alguma precipitação e fragilidade nestas matérias, procurando conjugá-las com a moral e cultura dominante, o que certamente acaba por gerar certas reticências e até mesmo um preconceito generalizado na maioria dos evangélico-protestantes Norte-Americanos para com o partido democrata e os seus respectivos candidatos.
Falando agora directamente do programa eleitoral de ambos os candidatos, do democrata Barack Obama, Joe Biden e do republicano Mitt Romey, Paulo Ryan, e começando em primeiro lugar por este último candidato no que toca às propostas orçamentais avançadas por ele para conter a insuportável dívida soberana Americana, reduzir o défice público e consequentemente gerar a riqueza do país através da criação dos novos postos de trabalho para levar os EUA novamente ao ritmo de crescimento económico. Para Mitt Romey tudo isto passa na redução dos impostos e cortes significativos na despesa pública. Mas a proposta orçamental não fica somente por aqui, Mitt Romey, vai ainda mais longe, prometendo 20% de reduções adicionais em todos os escalões do imposto sobre rendimentos e diminuindo o imposto sobre sociedades de 35% para 25%, para não falar da sua promessa de limitar 20% os gastos dos governos federais.
Levando avante essa promessa eleitoral caso vença as eleições – como tudo indica se ganhar - isto implica, como diziam alguns analistas e especialistas na matéria, que se afectaria drasticamente três importantes áreas que promovem o crescimento e das quais dependem empregos de salários elevados: educação, infraestruturas e investigação. Estas áreas são responsáveis por menos de 8% dos gastos federais e esta proporção tem vindo a decair continuamente. Com Romney, cairiam para novos mínimos.
Ora esta proposta de Mitt Romey, a meu ver, é de todo inviável, uma vez que não só especificou concretamente que política tenciona aplicar para conseguir de volta as receitas que o Estado deixariam de obter com as cortes, bem como a causa-efeito dessas medidas acabariam por ter enormes implicações nas famílias norte-americanas, sobretudo nas famílias de rendimento baixo e médio. Por isso, a especialista nos assuntos económicos, Laura Tyson no seu artigo de opinião, concluiu que esse plano de Mitt Romey, “aumentaria o défice de emprego, o défice de investimento e o défice de oportunidades, com consequências negativas para o crescimento e prosperidade futuros” (LER).
Quanto à política externa de Mitt Romey, fazendo jus àquilo que tem demonstrado publicamente no seu último debate televisivo com Barack Obama e do périplo que fez recentemente a Inglaterra, Polónia e Israel, julgo que a sua agenda política externa – embora não tão diferente com a de Barack Obama – é um autêntico fracasso pelas seguintes razões. Primeiro, tem a ver sobretudo com o facto de Mitt Romey desconhecer completamente o dossier envolvente a crise Israelo Palestiniana, facto que se prova com o tremendo gaff que deu no seu discurso em Jerusalém, considerando esta cidade como capital de Israel (um insulto não somente para os israelitas bem como para os Palestinianos – sem entrar ainda na querela da disputa territorial que envolve os dois povos na criação do Estado Palestiniano sobre os limites da circunscrição territorial na base da proposta avançada por cada Estado – ignorando assim, as vicissitudes e implicações políticas que essa grave afirmação pode representar no consenso político entre os dois povos. Mitt Romey, demonstrou ainda impreparação nos assuntos ligados com a guerra fria, tendo uma posição um pouco radical no que toca o relacionamento de EUA com a Rússia, Iraque, Afeganistão, Correia do Norte e no combate ao terrorismo.
Falando do programa eleitoral de Barack Obama para reduzir o défice público Americano, contrariamente à posição defendida por Mitt Romey de fazer cortes nos impostos directos e indirectos, Obama tenciona aumentar a carga fiscal para os rendimentos mais elevados e com isso aliviar os rendimentos baixos e médios (a classe média baixa e média), e com isso, accionar as medidas fiscais adicionais e temporárias para promover a criação de emprego, através de subsídios adicionais aos governos estaduais e de gastos complementares em infra-estruturas. Uma proposta que mereceu reparos e duras críticas dos republicanos, sustentando que Obama está mais preocupado em repartir a riqueza do país com os pobres do que propriamente gerá-la, identificando-o com o modelo seguido pelos líderes dos países europeus, nomeadamente a Grécia, Espanha e Portugal que se confrontam com problemas de défice e graves riscos de falência e de bancarrota.
A meu ver, concordo em parte com este modelo traçado por Barak Obama, não só porque demonstra uma sensibilidade humanista, como também parece o mais razoável do ponto de vista social. Ao contrário do modelo de austeridade seguido aqui na Europa, no sentido de que todos devem pagar pela crise do país – embora de forma proporcional -, julgo-o um pouco desajustado, para não dizer injusto. Sem prejuízo, obviamente, do “Princípio de Igualdade”, parece-me não fazer nenhum sentido uma pessoa de rendimento mínimo estar a ser obrigada pelo Estado a contribuir na redução do défice público, uma vez que os rendimentos de que dispõe não dão para poder fazer esse mesmo sacrifício, tal como os outros com os rendimentos para tal. Por isso, concordo em parte com Obama no sentido de taxar mais os ricos para cobrir o défice aliviando desta forma as pessoas com os rendimentos mais baixos.
Embora, importa salientar, que a promessa eleitoral que Barack Obama fez há quatro anos atrás no sentido de relançar a economia Norte-Americana acabou por revelar um autêntico fracasso, visto que não só a sua Administração não conseguiu reduzir o número de desemprego nos EUA como até o aumentou por números galopantes como nunca vistos na história do país; ou seja, neste momento os EUA contam com mais de 28 milhões de desempregados. E para não falar ainda do descontrolo da dívida pública que a Administração de Obama não conseguiu conter, que levou neste verão uma depreciação de uma agência financeira sobre capacidade Norte-Americana de conseguir no futuro fazer face à dívida soberana.
Perante toda essa incapacidade económica demonstrada por Barak Obama, mesmo assim o ex-Presidente da República Português, Mário Soares, convicto admirador dele continua optimista quanto à sua reeleição, considerando que a sua vitória trará "um vento de mudança no mundo e em especial na Europa” (Ler). E ainda no seu artigo de opinião na revista Visão, Mário Soares reconheceu que de facto muitas das promessas eleitorais de Barack Obama há quatro anos atrás não se concretizaram tal como ele queria devido ao facto de estar “cercado como esteve pelos republicanos, racistas e incompetentes, não pôde cumprir algumas das suas promessas. É verdade. Mas agora é diferente. Vai fazer o que é necessário e mudar a América e a União Europeia, que tem ajudado” (Ler).
Quanto à política externa de Barack Obama, em princípio pode parecer bastante eficaz, uma vez que há um consenso generalizado no mundo inteiro sobre a Administração Obama no que toca à imagem dos EUA e relacionamento do país com o resto dos povos, acrescentando ainda o facto de ter cumprido uma das suas bandeiras eleitorais de retirar as tropas americanas no Iraque e ao mesmo tempo neutralizar as acções de Al-Qaeda que terminou mais tarde com a morte do seu líder número um, Osama Bin Laden no ano passado.
Portanto, vendo as coisas numa perspectiva pormenorizada, chegaremos à conclusão de que muitas das promessas que Obama fez há 4 anos atrás ficaram ainda por concretizar, o que alguns consideram como uma desilusão total, nomeadamente a guerra no Afeganistão, a crise nuclear Iraniana e Coreana, o relacionamento com o aliado Paquistão que cada vez mais está agudizar-se, o dossier Russo que ficou muito aquém, incluído no "Tratado de Redução de Armas Extratégicas (START)" – não resultaram numa “reiniciação” genuína nas relações bilaterais, fazendo-nos lembrar a guerra fria do século passado, e para não falar do insucesso da primavera árabe e a desumanidade atroz que está acontecer neste momento na Síria e o processo de paz Israelo-Palestina que a administração Obama demonstrou uma posição ambígua na sua resolução. Todos estes desafios, pelo menos a administração de Obama não lidou com eles de forma mais eficaz como esperaríamos do presidente Barack Obama, tendo em conta a confiança e o entusiasmo envolto dele há quatro anos atrás.
Por esta razão, o Professor de Relações Internacionais do Instituto de Estudos Políticos de Paris, Zaki Laïdi, não teve a menor dúvida em considerar a política externa de Obama ao longo de quatro anos de governação de insuficiente, justificando no entanto que embora “o primeiro mandato de Obama não possa ser considerado como uma decepção a nível da política externa, as suas conquistas – ainda que não triviais – foram limitadas. Se ele ganhar um segundo mandato, é provável que descubra que é cada vez mais difícil ganhar quando se joga para não perder” (LER).
Voltando novamente ao assunto dos protestantes-evangélicos Americanos nestas eleições cabe dizer o seguinte: de facto estarão com um profundo dilema no sentido em quem votar, visto que não têm desta vez – como nas outras eleições – nenhuma identificação com o candidato republicano, por este não ser evangélico-protestante, mas sim um devoto mórmon, que para os evangélico-protestantes não passa de mais uma seita que andam por aí a deturpar a mensagem do Evangelho. Enquanto que Barak Obama, um assumido evangélico-protestante da denominação Igreja Unida de Cristo, que presumidamente podemos considerar como um irmão em Jesus Cristo, no entanto não vai beneficiar dessa presunção, ou seja receber o apoio dos evangélicos-protestantes Americanos, não só pela encarnação das suas ideias liberais, que têm a ver sobretudo com a sua identificação com o casamento das pessoas do mesmo sexo, a questão do aborto e da eutanásia, mas também pelo preconceito de pertencer as origens muçulmanas e de ser acima de tudo um negro. Todos estes factores, levarão a maioria dos evangélicos Norte-Americanos a não votar nele, preferindo até votar no profano Mitt Romey, abster-se ou votar em branco.
Por conseguinte, fazendo fé às ultimas sondagens divulgadas nos EUA, as previsões avançadas pela Euronews (LER) e dos comentários dos blog “especializados” nestas eleições Americanas e nas suas apostas (LER) e também AQUI, parece-me - embora sem certeza absoluta – que Barack Obama vai ganhar como tudo indica (e assim estaremos a presenciar o cumprimento integral da profecia feita no século XIX por Alexis de Tocqueville na sua grandiosa obra “Da Democracia na América, II, III parte cap. 21º (p. 772)”, onde sustenta que “se algum dia houver grandes revoluções na América, serão geradas pelos negros, e não serão provocadas pela igualdade de condições, mas antes pela desigualdade das mesmas”. Estaremos nós perante uma revolução na América com a vitória esta noite de Barak Obama? Eis o mistério e a grande questão.
Em suma, até lá teremos que aguardar pacientemente o fecho das urnas dentro de algumas horas e conhecer o justo vencedor. Da minha parte, resta somente desejar maiores êxitos e felicidades para o novo presidente norte-americano, independentemente de quem ganhar as eleições, peço a DEUS a mais ricas bênçãos sobre ele; e que possa de facto conduzir EUA para um bom porto e ao mesmo tempo influenciar positivamente os outros líderes mundiais na luta e defesa de causas nobres e sublimes para o bem-estar de toda a Humanidade!
De facto, à partida, pode parecer surreal a pergunta deste meu estimado amigo e irmão na fé; mas quem conhece bem a “mentalidade” dos evangélicos ditos tradicionais e a conjectura religiosa norte-americana, reconhecerá certamente a pertinência da pergunta e de toda a carga ideológica que lhe está subjacente.
Por maioria de razão - e também por uma questão de identidade religiosa - os protestante-evangélicos Norte-americanos têm mais tendência em apoiar candidatos republicanos, por entenderem que estes defendem melhor os princípios e valores bíblicos – embora tal seja discutível - e por serem acima de tudo, digamos assim, devotos praticantes do Cristianismo. Em certa medida com alguma razão. Basta pensarmos nos candidatos republicanos que governaram os EUA ao longo da sua história da independência nacional para constatarmos que todos eles foram predominantemente evangélicos-protestantes, excepto o primeiro presidente republicano na história do país, Abraham Lincoln, que não professava nenhuma crença religiosa, apesar de ter vindo de uma família oriunda e praticante da fé baptista.
Evidentemente, a identificação dos evangélicos norte-americanos com o partido republicano não se baseia somente nos argumentos acabados de se mencionar, mas também pelo facto de este partido ter tido ao longo da sua constituição uma posição altamente conservadora e tradicional no campo da ética, da moral, e na prática dos bons costumes que sempre nortearam a grande Nação Americana, diferente da posição um pouco liberal (para não dizer mesmo liberal) dos democratas que revelam sempre alguma precipitação e fragilidade nestas matérias, procurando conjugá-las com a moral e cultura dominante, o que certamente acaba por gerar certas reticências e até mesmo um preconceito generalizado na maioria dos evangélico-protestantes Norte-Americanos para com o partido democrata e os seus respectivos candidatos.
Falando agora directamente do programa eleitoral de ambos os candidatos, do democrata Barack Obama, Joe Biden e do republicano Mitt Romey, Paulo Ryan, e começando em primeiro lugar por este último candidato no que toca às propostas orçamentais avançadas por ele para conter a insuportável dívida soberana Americana, reduzir o défice público e consequentemente gerar a riqueza do país através da criação dos novos postos de trabalho para levar os EUA novamente ao ritmo de crescimento económico. Para Mitt Romey tudo isto passa na redução dos impostos e cortes significativos na despesa pública. Mas a proposta orçamental não fica somente por aqui, Mitt Romey, vai ainda mais longe, prometendo 20% de reduções adicionais em todos os escalões do imposto sobre rendimentos e diminuindo o imposto sobre sociedades de 35% para 25%, para não falar da sua promessa de limitar 20% os gastos dos governos federais.
Levando avante essa promessa eleitoral caso vença as eleições – como tudo indica se ganhar - isto implica, como diziam alguns analistas e especialistas na matéria, que se afectaria drasticamente três importantes áreas que promovem o crescimento e das quais dependem empregos de salários elevados: educação, infraestruturas e investigação. Estas áreas são responsáveis por menos de 8% dos gastos federais e esta proporção tem vindo a decair continuamente. Com Romney, cairiam para novos mínimos.
Ora esta proposta de Mitt Romey, a meu ver, é de todo inviável, uma vez que não só especificou concretamente que política tenciona aplicar para conseguir de volta as receitas que o Estado deixariam de obter com as cortes, bem como a causa-efeito dessas medidas acabariam por ter enormes implicações nas famílias norte-americanas, sobretudo nas famílias de rendimento baixo e médio. Por isso, a especialista nos assuntos económicos, Laura Tyson no seu artigo de opinião, concluiu que esse plano de Mitt Romey, “aumentaria o défice de emprego, o défice de investimento e o défice de oportunidades, com consequências negativas para o crescimento e prosperidade futuros” (LER).
Quanto à política externa de Mitt Romey, fazendo jus àquilo que tem demonstrado publicamente no seu último debate televisivo com Barack Obama e do périplo que fez recentemente a Inglaterra, Polónia e Israel, julgo que a sua agenda política externa – embora não tão diferente com a de Barack Obama – é um autêntico fracasso pelas seguintes razões. Primeiro, tem a ver sobretudo com o facto de Mitt Romey desconhecer completamente o dossier envolvente a crise Israelo Palestiniana, facto que se prova com o tremendo gaff que deu no seu discurso em Jerusalém, considerando esta cidade como capital de Israel (um insulto não somente para os israelitas bem como para os Palestinianos – sem entrar ainda na querela da disputa territorial que envolve os dois povos na criação do Estado Palestiniano sobre os limites da circunscrição territorial na base da proposta avançada por cada Estado – ignorando assim, as vicissitudes e implicações políticas que essa grave afirmação pode representar no consenso político entre os dois povos. Mitt Romey, demonstrou ainda impreparação nos assuntos ligados com a guerra fria, tendo uma posição um pouco radical no que toca o relacionamento de EUA com a Rússia, Iraque, Afeganistão, Correia do Norte e no combate ao terrorismo.
Falando do programa eleitoral de Barack Obama para reduzir o défice público Americano, contrariamente à posição defendida por Mitt Romey de fazer cortes nos impostos directos e indirectos, Obama tenciona aumentar a carga fiscal para os rendimentos mais elevados e com isso aliviar os rendimentos baixos e médios (a classe média baixa e média), e com isso, accionar as medidas fiscais adicionais e temporárias para promover a criação de emprego, através de subsídios adicionais aos governos estaduais e de gastos complementares em infra-estruturas. Uma proposta que mereceu reparos e duras críticas dos republicanos, sustentando que Obama está mais preocupado em repartir a riqueza do país com os pobres do que propriamente gerá-la, identificando-o com o modelo seguido pelos líderes dos países europeus, nomeadamente a Grécia, Espanha e Portugal que se confrontam com problemas de défice e graves riscos de falência e de bancarrota.
A meu ver, concordo em parte com este modelo traçado por Barak Obama, não só porque demonstra uma sensibilidade humanista, como também parece o mais razoável do ponto de vista social. Ao contrário do modelo de austeridade seguido aqui na Europa, no sentido de que todos devem pagar pela crise do país – embora de forma proporcional -, julgo-o um pouco desajustado, para não dizer injusto. Sem prejuízo, obviamente, do “Princípio de Igualdade”, parece-me não fazer nenhum sentido uma pessoa de rendimento mínimo estar a ser obrigada pelo Estado a contribuir na redução do défice público, uma vez que os rendimentos de que dispõe não dão para poder fazer esse mesmo sacrifício, tal como os outros com os rendimentos para tal. Por isso, concordo em parte com Obama no sentido de taxar mais os ricos para cobrir o défice aliviando desta forma as pessoas com os rendimentos mais baixos.
Embora, importa salientar, que a promessa eleitoral que Barack Obama fez há quatro anos atrás no sentido de relançar a economia Norte-Americana acabou por revelar um autêntico fracasso, visto que não só a sua Administração não conseguiu reduzir o número de desemprego nos EUA como até o aumentou por números galopantes como nunca vistos na história do país; ou seja, neste momento os EUA contam com mais de 28 milhões de desempregados. E para não falar ainda do descontrolo da dívida pública que a Administração de Obama não conseguiu conter, que levou neste verão uma depreciação de uma agência financeira sobre capacidade Norte-Americana de conseguir no futuro fazer face à dívida soberana.
Perante toda essa incapacidade económica demonstrada por Barak Obama, mesmo assim o ex-Presidente da República Português, Mário Soares, convicto admirador dele continua optimista quanto à sua reeleição, considerando que a sua vitória trará "um vento de mudança no mundo e em especial na Europa” (Ler). E ainda no seu artigo de opinião na revista Visão, Mário Soares reconheceu que de facto muitas das promessas eleitorais de Barack Obama há quatro anos atrás não se concretizaram tal como ele queria devido ao facto de estar “cercado como esteve pelos republicanos, racistas e incompetentes, não pôde cumprir algumas das suas promessas. É verdade. Mas agora é diferente. Vai fazer o que é necessário e mudar a América e a União Europeia, que tem ajudado” (Ler).
Quanto à política externa de Barack Obama, em princípio pode parecer bastante eficaz, uma vez que há um consenso generalizado no mundo inteiro sobre a Administração Obama no que toca à imagem dos EUA e relacionamento do país com o resto dos povos, acrescentando ainda o facto de ter cumprido uma das suas bandeiras eleitorais de retirar as tropas americanas no Iraque e ao mesmo tempo neutralizar as acções de Al-Qaeda que terminou mais tarde com a morte do seu líder número um, Osama Bin Laden no ano passado.
Portanto, vendo as coisas numa perspectiva pormenorizada, chegaremos à conclusão de que muitas das promessas que Obama fez há 4 anos atrás ficaram ainda por concretizar, o que alguns consideram como uma desilusão total, nomeadamente a guerra no Afeganistão, a crise nuclear Iraniana e Coreana, o relacionamento com o aliado Paquistão que cada vez mais está agudizar-se, o dossier Russo que ficou muito aquém, incluído no "Tratado de Redução de Armas Extratégicas (START)" – não resultaram numa “reiniciação” genuína nas relações bilaterais, fazendo-nos lembrar a guerra fria do século passado, e para não falar do insucesso da primavera árabe e a desumanidade atroz que está acontecer neste momento na Síria e o processo de paz Israelo-Palestina que a administração Obama demonstrou uma posição ambígua na sua resolução. Todos estes desafios, pelo menos a administração de Obama não lidou com eles de forma mais eficaz como esperaríamos do presidente Barack Obama, tendo em conta a confiança e o entusiasmo envolto dele há quatro anos atrás.
Por esta razão, o Professor de Relações Internacionais do Instituto de Estudos Políticos de Paris, Zaki Laïdi, não teve a menor dúvida em considerar a política externa de Obama ao longo de quatro anos de governação de insuficiente, justificando no entanto que embora “o primeiro mandato de Obama não possa ser considerado como uma decepção a nível da política externa, as suas conquistas – ainda que não triviais – foram limitadas. Se ele ganhar um segundo mandato, é provável que descubra que é cada vez mais difícil ganhar quando se joga para não perder” (LER).
Voltando novamente ao assunto dos protestantes-evangélicos Americanos nestas eleições cabe dizer o seguinte: de facto estarão com um profundo dilema no sentido em quem votar, visto que não têm desta vez – como nas outras eleições – nenhuma identificação com o candidato republicano, por este não ser evangélico-protestante, mas sim um devoto mórmon, que para os evangélico-protestantes não passa de mais uma seita que andam por aí a deturpar a mensagem do Evangelho. Enquanto que Barak Obama, um assumido evangélico-protestante da denominação Igreja Unida de Cristo, que presumidamente podemos considerar como um irmão em Jesus Cristo, no entanto não vai beneficiar dessa presunção, ou seja receber o apoio dos evangélicos-protestantes Americanos, não só pela encarnação das suas ideias liberais, que têm a ver sobretudo com a sua identificação com o casamento das pessoas do mesmo sexo, a questão do aborto e da eutanásia, mas também pelo preconceito de pertencer as origens muçulmanas e de ser acima de tudo um negro. Todos estes factores, levarão a maioria dos evangélicos Norte-Americanos a não votar nele, preferindo até votar no profano Mitt Romey, abster-se ou votar em branco.
Por conseguinte, fazendo fé às ultimas sondagens divulgadas nos EUA, as previsões avançadas pela Euronews (LER) e dos comentários dos blog “especializados” nestas eleições Americanas e nas suas apostas (LER) e também AQUI, parece-me - embora sem certeza absoluta – que Barack Obama vai ganhar como tudo indica (e assim estaremos a presenciar o cumprimento integral da profecia feita no século XIX por Alexis de Tocqueville na sua grandiosa obra “Da Democracia na América, II, III parte cap. 21º (p. 772)”, onde sustenta que “se algum dia houver grandes revoluções na América, serão geradas pelos negros, e não serão provocadas pela igualdade de condições, mas antes pela desigualdade das mesmas”. Estaremos nós perante uma revolução na América com a vitória esta noite de Barak Obama? Eis o mistério e a grande questão.
Em suma, até lá teremos que aguardar pacientemente o fecho das urnas dentro de algumas horas e conhecer o justo vencedor. Da minha parte, resta somente desejar maiores êxitos e felicidades para o novo presidente norte-americano, independentemente de quem ganhar as eleições, peço a DEUS a mais ricas bênçãos sobre ele; e que possa de facto conduzir EUA para um bom porto e ao mesmo tempo influenciar positivamente os outros líderes mundiais na luta e defesa de causas nobres e sublimes para o bem-estar de toda a Humanidade!