Numa altura em que toda a comunidade Católica mundial anseia ver uma mudança significativa no pontificado do agora recém-eleito Papa Francisco, sobretudo no que toca à reconfiguração total da Igreja aos desafios presentes de um mundo coevo, importa tecer algumas observações da minha real expectativa sobre aquilo que gostaria que ocorresse nos próximos tempos com a nova liderança no seio do Vaticano.
Antes de mais, associo-me plenamente à maioria das vozes
críticas que se têm levantado no catolicismo, apelando a urgente mudança de
paradigma na abordagem prática que a igreja tem que ter para com os fiéis nos
dias que correm com vista atrair as inúmeras
pessoas que andam insatisfeitas e trasviadas com a postura adoptada pelo
Vaticano; e acima de tudo, alcançar os não crentes para a fé Cristã.
Perante esta clara onda de mudança verificada na
liderança da Igreja, penso ser necessário que o Vaticano reconsidere seriamente
algumas das suas posições teológicas e ético-cristãs que tem assumido
publicamente ao longo dos séculos e que não têm qualquer suporte bíblico para a
sua continuidade.
Do ponto de vista teológico, é preciso abandonar por
completo as várias doutrinas sucessivamente introduzidas dentro da igreja, e
que não passam de meras heresias destruidoras de vidas humanas, tais como: a
prática do culto mariano (adoração da figura de Maria), a veneração dos santos,
o baptismo dos bebés, o racionalismo e o liberalismo teológico, e o ecumenismo
bíblico reiteradamente apregoado nas últimas décadas. Cumprindo
estas exigências e reformas teológicas, penso que a Igreja possa de facto
adoptar na íntegra a doutrina da inerrância bíblica como sendo a única regra de
fé e de prática em todos os domínios e convivência social, relegando para
o segundo plano as demais tradições, centralizar adoração única e
exclusivamente na Trindade – no DEUS PAI, DEUS FILHO, DEUS ESPIRITO SANTO, tal
como mandam escrupulosamente as Sagradas Escrituras.
A nível ético-cristão, espero que se possa abolir
definitivamente a imposição do celibato no clero, que se aceite o divórcio dos
fiéis estritamente nos moldes preestabelecidos por Jesus Cristo – em caso de adultério
(Mateus 19:9) –, que se abandone o dogma da infalibilidade papal e
toda a capa no sentido de o considerar como sendo representante máximo de DEUS
na terra, que se estimule os católicos na prática do estudo e na meditação da
Palavra de DEUS, que proceda a alguma abertura quanto ao uso de métodos
contraceptivos nos casais, excepto no que toca à pílula do dia seguinte, que
consubstancia, na maioria dos casos, a prática flagrante do aborto. Espero da
mesma sorte, que se assuma uma posição firme e muito bem delineada sobre a
reprodução medicamente assistida, desmarcando-se dos excessos que se tem
cometido neste âmbito, principalmente no que toca às manipulações das células
estaminais, que são de todo de rejeitar.
Do resto, quanto à questão do aborto, da temática da
eutanásia e a distanásia/obstinação terapêutica, do suicídio assistido, da
engenharia genética (a começar com a clonagem e outros métodos usados neste
âmbito), da homossexualidade, e do papel das mulheres na igreja, nomeadamente
se podem ou não serem ordenadas Sacerdotes, julgo que o Vaticano tem tido uma
postura irrepreensível. Por isso faço votos que ela continue a reforçar esta
firme convicção demonstrada até aqui.
De uma forma sumária, procurarei em breves palavras
justificar a minha concordância com a posição da Igreja Católica (que entendo
ser a bíblica) sobre a não ordenação das mulheres ao sacerdócio e a questão da
homossexualidade, por serem temas fracturantes e controversos na nossa sociedade,
que têm sido objecto de várias reflexões e posições no mundo ocidental.
Como é do conhecimento da maioria dos Cristãos, toda a
história da Bíblica Sagrada, particularmente da liderança, é recheada de
figuras masculinas, evidenciando assim as linhas orientadoras dos propósitos
divinos quanto aos papéis de um homem e de uma mulher na criação e no processo
da salvação que DEUS projectou para a Humanidade antes da
fundação do mundo. Apesar de terem havido casos pontuais ou excepcionais de
mulheres que desempenharam posições primárias de relevo a nível da liderança no
governo da história do povo de DEUS, como a rainha Atalia, que reinou como
única monarca no reino de Judá (2 Reis 11:1-20), e juízas - a
Débora em Juízes 4:5 e 2Reis 22:14-20, e ainda profetisas como
a referida Débora e Hulda (Juízes 4:5; 2Reis 22:14-20), respectivamente. No entanto, estes
exemplos ilustrados não podem de modo nenhum servir-se como regra prática de
admissão das mulheres ao ofício sacerdotal.
Basta constarmos as posições expressas do Apóstolo Paulo
em 1 Timóteo 2:11-14; 3:1-7, e em 1 Coríntios
14:33b-36, para reconhecermos a realidade dos factos como ela é
apresentada na Bíblia Sagrada, que é a da limitação completa das mulheres a
cargos do sacerdócio. Um argumento ainda de peso que pode ser trazido aqui à
colação, prende-se com o facto de Jesus Cristo na escolha dos seus doze
apóstolos, optou voluntariamente a não integrar nenhuma figura feminina,
estabelecendo de forma clara o paradigma masculino como ideal para a liderança
máxima da Sua amada Igreja. São estes doze apóstolos que, segundo a Bíblia
Sagrada, assentarão nos doze tronos para julgar as doze tribos de Israel
(Mateus 19:28). Toda esta verdade bíblica pode de facto servir-nos de orientação
para uma melhor compreensão e tomada de posição acertada nesta matéria.
Embora existem teólogos e intérpretes bíblicos que discordam liminarmente deste
entendimento, objectando que Jesus não integrou nenhuma figura feminina nos
círculos dos apóstolos por uma questão cultural, tendo em conta a
desvalorização das mulheres naquele tempo, uma vez que a cultura dominante
daquele época não permitia que Jesus escolhesse seis homens e seis mulheres, ou
ainda seis casais, como apóstolos.
Em contra-argumento, o reconhecido Teólogo Wayne Grudem
no seu manual de Teologia Sistemática, sustenta "que
tal objecção impugna a integridade e a coragem de Jesus. Ele não temia
desobedecer a normas sociais quando um princípio moral estava em vista: ele
criticou os fariseus publicamente, curou no sábado, purificou no templo, falou
com uma mulher samaritana, comeu com publicanos e pecadores e comeu sem lavar
as mãos. Se tivesse desejado estabelecer um princípio de igual acesso para
homens e mulheres à liderança da igreja, Jesus certamente o teria feito, apesar
da oposição cultural, se esse fosse o modelo que ele desejava estabelecer em
sua igreja. Mas ele não o fez”.
Um outro argumento comummente usado nos nossos dias e
nas nossas igrejas para defender com unhas e dentes a
ordenação das mulheres ao ministério sacerdotal, tem a ver com a ideia de que
se DEUS de facto chamou uma mulher ao pastorado, ela não deve ser impedida de
assumi-lo. Respondendo a tal objecção, o ainda Weyne Grudem, contra-argumenta,
considerando que “uma alegação individual de ter recebido um chamado de
DEUS sempre precisa ser provada pelas palavras de DEUS nas Escrituras. Se a
Bíblia ensina que Deus quer que apenas os homens tenham a responsabilidade
principal do governo e do ensino, relativa ao pastorado, a implicação é que a
Bíblia também ensina que DEUS não chama mulheres para serem pastoras”. E
assim, vai concluindo, “que muitas vezes o que uma mulher discerne como
chamado divino para o pastorado pode ser de facto um chamado para um ministério
cristão de tempo integral e não para tornar-se pastora/presbítera de uma igreja”.
Dito isto, concordo inteiramente com a posição
evidenciada de Weyne Grudem, com a da Igreja Católica, bem como a de muitas
outras denominações Evangélico-protestantes que vedam por completo o ministério
sacerdotal às mulheres. Com efeito, esta orientação bíblica, não deve ser
entendida como de supremacia do homem face à mulher. Nada disso. O homem não é
superior em nada em comparação a uma mulher. Ambos são dignos filhos de DEUS, e
ambos têm os mesmos direitos, privilégios e oportunidades. Trata-se, simplesmente,
de uma questão de mera atribuição de papéis no processo da criação, que vai
percorrendo toda a fase da salvação. Um dia quando estivermos na glória, na
presença do nosso amado SENHOR Jesus Cristo, provavelmente esta questão deixará
de existir.
Quanto à homossexualidade, foi uma prática sempre
reprovada e condenada em toda a Bíblia Sagrada. Certamente que os leitores
lembrar-se-ão muito bem da trágica história da cidade de Sodoma e Gomorra no
Antigo Testamento, que foi completamente dizimada por causa da sua conduta
sadomasoquista e homossexual (Génesis 1:27).
No Velho Testamento tanto o lesbianismo como a
homossexualidade são atitudes consideradas abominações aos olhos de DEUS
(Levítico 18:22); e o capítulo 20:13 do mesmo livro condena a morte de quem
comete o tal pecado. E ainda no livro de Reis, o autor sagrado fala em “prostitutos-cultuais”,
referindo-se a israelitas que, por influência de costumes pagãos, se dedicam a
este tipo de vida (1 Reis 14:24; 15:12e 22:47).
Retomando a abordagem da homossexualidade no Novo
Testamento, o Apóstolo Paulo condena veemente tal prática, apelidando-a como “acções
vergonhosas”, que traduz em “mudanças as relações naturais por
relações contra a natureza", desonrando o próprio corpo na sua essência
(Romanos 1:24; 26). Nos versículos subsequentes, não somente condena à
morte dos que assim vivem, bem como os que aprovam os outros que têm essa
conduta de estar na vida (Romanos 1:32). A mesma convicção é
novamente assumida nos trechos de 1 Coríntio 6:9; 1 Timóteo 1:10, respectivamente.
Perante os argumentos expostos em relação às duas
temáticas – a ordenação das mulheres ao ministério sacerdotal e a questão da
homossexualidade -, não obstante esta minha formal posição que acabei de
afirmar, entendo que é preciso abrir um debate sério e profundo dentro do
Cristianismo para melhor esclarecimento dos fiéis, que muitas das vezes
formulam opiniões precipitadas sobre este e demais assuntos, influenciados pela
cultura e moral dominante, baseada nos modelos da pós-modernidade, descabidos
no seu todo de Princípios e Valores Bíblicos.
Sou ainda da opinião de abrir mais oportunidade às
mulheres nas igrejas para elas puderem exercitar os seus talentos e dons
espirituais na proporção que DEUS as conferiu, principalmente na liderança das
igrejas, desde que seja plenamente assegurada a autoridade máxima da igreja a
um homem. É importante ter também uma postura de abertura, usando as palavras
de um grande teólogo, de "compaixão e compreensão para com aqueles
que nascem com uma tendência homossexual, mas declara claramente que são
chamados à castidade". Subscrevo essa advertência inclusiva,
embora não deixo de acrescentar, que mesmo assim, acredito plenamente no poder
restaurador de DEUS, para curar definitivamente estas pessoas do seu desvio
sexual.
Também subscrevo a opinião de integrar em comunhão, sem
quaisquer tipos de reservas, os casais divorciados, principalmente os que foram
vítimas de traição pelos seus respectivos cônjuges através de infidelidade
matrimonial. Os que violaram os deveres de fidelidade, levando o casal à
ruptura e consequentemente ao divórcio, devem igualmente ser integrados na
comunhão da igreja, depois de passarem primeiramente por um processo de
disciplina eclesiástica, que deverá servir ao mesmo tempo de restauração para
que o infractor assuma e reconheça plenamente o seu erro e pecado. São estes conjuntos de desafio que gostava que fossem atendidos na nova
liderança do Vaticano, chefiado agora pelo novo papa, o Francisco.
Espero que tal venha acontecer num futuro breve ou longínquo nas piores das hipótese, apesar de não ter a mínima ilusão, nem tão-pouco ser ingénuo ao ponto de pensar que tudo isto se vai processar de forma fácil sem qualquer tipo de oposição da própria cúria romana, principalmente nas matérias teológicas que supra enumerei, e que têm gerado enormes resistências ao longo dos séculos. Tudo isto resume-se num vício de forma a nível de funcionamento da Igreja Católica, que somente a graça de DEUS pode remendar.