Já tive, felizmente, a grata satisfação de conhecer inúmeras cidades europeias; mas de todas elas Madrid ficará eternamente gravada na minha memória como sendo uma das minhas cidades predilectas. Esta preferência e eleição não foi um caso acidental; lembro-me perfeitamente nos meus já idos tempos de infância, em que eu tinha um especial carinho e admiração imaginária pela cidade de Madrid e, principalmente, pelo magnífico clube que a cidade ostentava e ostenta ainda pelo mundo inteiro: o Real Madrid (que continuo ainda hoje a ser leal e incondicional adepto). Não sei explicar todo este mistério e obcecada simpatia que tenho em torno da mítica cidade madrilena.
Quando ando pelas ruas de Madrid sinto-me completamente como se estivesse na minha cidade residencial, Lisboa. É em Madrid que me reencontro comigo mesmo nos mais diversos registos, que dificilmente adoptaria de forma natural e espontânea em qualquer outra cidade europeia, tal como a minha versão moral de "Jansenista", numa vertente rígida de Mores Maiorum, associado a uma visão secular de pessimismo antropológico – propriamente, no meu dia-a-dia, não me revejo tanto numa mundividência pessimista das coisas, muito menos do homem. Considero-me muito além da sombra de Voltaire, na sua célebre obra “Cândido”, como sendo um puro optimiste, embora eu não deixe de ser um convicto defensor da predestinação, que evidência manifestamente a minha faceta cristã de "Calvinista Moderado", na forma de estudar, e de compreender e interpretar as verdades teológicas, revelada nas Sagradas Escrituras e, sobretudo, a liberdade condicionada do homem no processo da salvação. Trata-se, simplesmente, de uma contradição circunstancial - obviamente sanável - nas simbioses das realidades concepcionais.
Não à mais de dois meses que vim de Madrid, depois da minha deliciosa estadia no médio oriente, concretamente em Israel e na Cisjordânia – a actual Palestina -, passando pela Grécia e Bulgária. Confesso que foi com muita pena não ter ficado mais tempo em Madrid como gostaria, para assim poder desfrutar com mais tempo da beleza da cidade e passear por ela como habitualmente faço quando estou por aquelas andanças. Apesar de ter saído de lá num passado recente, anseio novamente reencontrá-la e poder viver da intensidade que ela proporciona.
De facto, devo reconhecer, sem quaisquer reservas, que há uma experiência agradável e de proximidade relacional para com a cidade de Madrid, fruto das razões inexplicáveis supra apontadas, que me deixa reiteradamente satisfeito e bastante feliz quando a visito.
Tem havido, por parte dos meus amigos próximos, observações e pontuais reparos, procurando a todo o custo convencer-me do fascínio das outras cidades espanholas, nomeadamente Sevilha, Barcelona, Valência, e Salamanca, demonstrando convictamente que o encanto não reside somente em Madrid, mas sim nas mais diversas cidades do território espanhol, mormente as que foram elencadas; infelizmente a larga maioria não conheço. Talvez tal facto corresponda à realidade; no entanto, prefiro continuar a não abdicar da minha incondicional preferência por Madrid.
Já estive em Barcelona de passagem. Acontece que a sensação e a experiência que pude extrair de lá, fica muito aquém com a que costumo ter quando estou em Madrid. Madrid é uma cidade de vivacidade, brilho, encantamento e de pessoas voltadas para a rua. Tantas são as pessoas na rua – a começar no período da manhã, tarde e noite – que não se compara praticamente com outras atraentes cidades europeias, pelo menos, nas que já tive o privilégio de estar.
É este conjunto de factores misteriosos bem patente no meu ânimo, que faz com que eu fique com bastante entusiamo e ansiedade desmedida de voltar a Madrid, visto que a minha estadia por lá não se limita apenas a um mero programa turístico, assente no vício da ociosidade e de bel-prazer, ou de uma mudança espacial rotineira da vida, mas sim numa torrente de experiências únicas, indescritíveis e arrebatadores da alma, traduzindo, em termos práticos, em profundas marcas sensacionais e sentimentais do ponto de vista da transformação e crescimento individual.