As nações são reflexos visíveis das
sociedades que emanam. Da mesma sorte estas espelham a imagem dos seus
respectivos cidadãos. Mede-se o calibre de um país mediante as pessoas que dele
fazem parte. E a Guiné-Bissau não está fora desta inequívoca regra de
apuramento.
Por vicissitudes várias e supervenientes,
mormente pelo esmagamento sistemático a que o nosso humilde Povo foi
reiteradamente submetido ab initio, isto acabou por arrastá-lo
forçosamente para um estado de letargia social e de série complexidades. E não
estamos a falar de uma situação que surgiu acidentalmente, mas sim que foi
propositadamente criada pela vileza moral dos sucessivos governantes (kabalidus) que conduziram os destinos
sociopolíticos do país ao longo dos tempos.
Há um vício maléfico e extremamente
degenerativo que ameaça cada vez mais a sociedade Guineense de forma
galopante. Não há hierarquia de Princípios e Valores e as pessoas,
tão-simplesmente, postergam-nos para segundo plano nas suas opções de escolhas.
Ninguém respeita as regras estabelecidas, e muito menos preocupam-se em
aplicá-las no seu quotidiano. Vende-se, facilmente, a dignidade a troco de
qualquer preço com o intuito de sobressair rapidamente na vida. Os compromissos
com a ética, a moral, a verdade exauriram-se. Perdemos a noção do respeito e do
bom senso de uma sociedade que se preze. Não temos referências de pessoas que
possam emergir como modelos inspiradores para a nossa carente adolescente-jovens.
O modelo passou a ser o dos valores materialistas, traduzindo-se num completo
relativismo moral, virado para a avidez do lucro fácil, na ostentação da
riqueza, na corrupção generalizada dentro e fora do aparelho de Estado
e no vício insaciável pelo poder.
As nobres virtudes da honra, do respeito, da
decência, da humildade, da dignidade, da honestidade, da tolerância e de
tudo aquilo que outrora foram as grandes Regras-Condutas norteadoras da nossa genuína
sociedade foram postas em causa, sem que surgissem quaisquer alternativas
credíveis para preencher o vazio das referências que foram obliteradas. E assim, de
forma flagrante, a força vai-se sobrepondo ao Direito, o interesse à Verdade, o
dinheiro à Consciência. Ipso facto assiste-se indiferentemente ao triunfo da futilidade, que nos direcciona cada vez mais para um precipício
social irreversível.
O grande desafio que se coloca neste momento
à Guiné-Bissau é o da possibilidade de uma mudança drástica em todos os
domínios da sociedade e, sobretudo, na sua mundividência e postura para encarar
as elevadas exigências da pós-modernidade. O estado calamitoso que está patente
aos olhos de todos remete-nos, sem excepção, para um cálculo objectivo, no
sentido de readoptar medidas exequíveis a curto, médio e longo prazo a fim de
expurgar definitivamente estes flagelos ameaçadores da nossa unidade, coesão e
desígnio nacional.