Reflexão Proustiana


Li algures, em tom de assentimento, que toda a existência e o percurso do Homem se baseiam meramente no factor tempo. É um entendimento minimalista, redutor e bastante discutível do ponto de vista antropológico. Confesso publicamente que não sou proustiano. Não lamento a nostalgia do tempo e nem tão pouco fico ansioso por ele. 

Para mim, não existe “o tempo perdido” e “o tempo reencontrado”. Da mesma sorte, “o tempo medido” e “o tempo contado”, tal como convencionado unanimemente pelos seres humanos, são configurações diferentes da mesma realidade, consubstanciando simples fenómenos naturais que o próprio tempo encarna e processa no seu âmago. Qualquer tempo é tempo. Logo, nesta ordem de ideias, tudo é tempo. Considero-me mais salomónico a nível do tempo, máxime na sua pré-determinada implicação teleológica e teleológica. “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”, observava inspiradamente o sábio Qohelet na sua construção dogmática no livro de Eclesiastes (Ec 3:1). 

Não tenho qualquer tipo de preferência por nenhuma estação do ano em concreto – nem pelos fusos horários que se vão alternando no universo. Gosto da manhã, da tarde e da noite. Sou do calor e, simultaneamente, do frio. Tropicalista por nascença e …por afinidade. Tanto que, por esta razão, maravilho-me com o Inverno, a Primavera, o Verão e o Outono. Gosto, igualmente, de períodos de chuva e de seca. As mudanças climatéricas não passam, a meu ver, de meras ocorrências cíclicas resultantes do movimento de rotação e de translação da Terra. Nada mais. Tudo o que extravasa este raio de compreensão é pura especulação e raciocínios falazes. Por isso, aprecio imenso todas as épocas do ano, procurando, na medida do possível, ajustar as suas cómodas e/ou incómodas particularidades naturais. 

É o destino que marca a hora e esta, por sua vez, traça o tempo. Sem o destino não há horas e tão pouco agendas temporais. São as duas primeiras conjugações que formam e caracterizam o tempo que concebemos e idealizamos. A existência do Homem é o produto da providência Divina que se veio concretizar milagrosamente no âmago do tempo. Talvez seja por esta mesma razão que damos demasiada primazia ao tempo, sem nos apercebermos disso. Ansiamo-lo, a cada momento que passa, e vivemos toda a nossa vida dependentes dos seus sinais e condicionalismos, conformando-nos com a subtil ideia de que somos produtos casuísticos do tempo, até ao dia que o tempo nos consuma para sempre no curso infinito do tempo.