A Barbárie Humana


«O sangue e a destruição serão tão banais
E os objectos terríveis tão familiares
Que as mães não poderão deixar de sorrir quando virem
Os seus filhinhos esquartejados por mãos guerreiras,
Toda a piedade abafada pela rotina das proezas cruéis.» 

(Shakespeare, Júlio César, III, i, 265-72, citado por Robert Fisk, in A Grande Guerra pela Civilização [A Conquista do Médio Oriente], Edições 70, Lisboa, 2009, p. 515). 


Na minha recente estadia na cidade de Munique, Alemanha, tive a oportunidade de visitar o Campo de Concentração de Dachau para inteirar melhor da desumanidade cometida pelo regime Nazi no período da Segunda Guerra Mundial (LER). Foi, de facto, um terrível reencontro com a História. Fiquei extremamente chocado durante toda a visita que efectuei nas macabras instalações e concomitantemente o que constatei in loco. Apesar de ter estudado exaustivamente sobre os gigantescos danos da Segunda Guerra Mundial e lendo ainda hoje muitos livros, bem como vendo séries, documentários, filmes que relatam sobre os contornos e implicações práticas que a referida guerra teve para a Humanidade, contudo, em abono da verdade, nunca tinha tido uma percepção holística da brutalidade cometida pelos Nazis ao longo da maldita Guerra. Foi mesmo um despertar da consciência para a tenebrosa realidade. Pude, ali mesmo, compreender o horrível cenário a que muitos presos foram inofensivamente submetidos. 

No Campo de Concentração de Dachau, à semelhança de tantos outros Campos espalhados pela Europa fora, está tudo registado e patente ao olho nu dos visitantes (LER). Os prisioneiros foram reduzidos a nada. Literalmente nada. Em consequência disso, exterminaram-nos por aquilo que são. A começar, desde logo, por execuções sumarias, genocídios em massa, limpezas étnicas e religiosas. Um autêntico Holocausto de inocentes. Tudo feito em nome da inquestionável ideologia que se inspirava na hegemonia da raça ariana sobre as demais e o ódio declarado ao povo Judeu. 

Na visita ao Campo de Dachau podemos constatar as dependências onde os prisioneiros eram mantidos cativos, os banheiros, a prisão, as celas, o crematório e também a câmara de gás. Segundo consta, a câmara de gás de Dachau não chegou a ser usada. Ali era manifesta a vil insensibilidade humana a todos os níveis – as pessoas que sofreram grosseiras injustiças, os inocentes que foram humilhados, o silêncio dos que foram discriminados pelo facto de serem como são. Todos condenados por um juízo arbitrário e tirânico, sem terem cometido qualquer tipo de delito que lhes incriminassem. Os mais vitimados dessa chacina sem precedentes foram os judeus, polacos, soldados soviéticos, ciganos, homossexuais, pessoas portadoras de deficiência, Cristãos de várias denominações e alguns opositores do regime vigente. Antes de serem assassinados, a maioria foi submetida a várias experiências degradantes e os que conseguiram resistir acabavam posteriormente por serem mortos. 

Calcula-se que tenham morrido no referido Campo de Concentração, desde a sua criação em 1933, mais 40.000 pessoas. E tudo indica que este número peca por defeito relativamente às mortes que realmente aconteceram, uma vez que muitos defuntos não foram contabilizados nos dados oficiais. Perante todo este pesaroso cenário que vivi por algumas horas no Campo de Concentração de Dachau fez-me pensar seriamente na miséria e precariedade da vida, sobretudo na crueldade que o ser humano é capaz de praticar. Lembrei-me de inúmeros outros casos semelhantes ao longo da História, que culminaram na morte de inúmeros inocentes, tudo por conta de ideologias utópicas e luta insaciável pelo efémero poder. Confirma-se, assim, a máxima de Thomas Hobbes, teorizada no séc. XVI, que afirmava peremptoriamente “o homem é o lobo do homem”. Este postulado é, sem dúvida, verdadeiro. O mundo, como dizia Einstein, “é um lugar perigoso para se viver”. Senti-me muito mal com tudo o que ouvia e observava à minha volta. E matutava comigo próprio: como é possível acontecer tamanha barbárie durante uma década, sem que ninguém fizesse nada para reverter este quadro macabro? A culpa não é apenas daqueles que cometeram tais atrocidades, mas igualmente dos que podiam e nada fizeram para inverter esta funesta situação. 

Ainda na mesma localidade visitei primeiramente a Sinagoga Judaica, a Igreja Católica, dirigindo-me em seguida à pequena Igreja Evangélica situada igualmente no mesmo lugar, remetendo-me num profundo silêncio. Silêncio que se traduzia numa conversa a sós com o meu Eterno DEUS. Orei pela Paz e Concórdia no Mundo, mormente que o SENHOR derrame a Sua Maravilhosa Graça sobre os homens e mulheres que tanto carecem do Seu incondicional Amor, Paz e Perdão. Por fim, deixei um registo num dos cadernos destinados para o efeito mais ou menos nestes termos: «DEUS perdoa-lhes porque não sabiam o que faziam. Receba no Vosso Reino as almas que aqui foram injustamente exterminadas. Térsio Vieira, Guiné-Bissau, 23 de Dezembro de 2014». 

Espero, com a ajuda de DEUS, que jamais o nosso Mundo globalizado tenha de passar por hedionda crueldade, tal como a de um genocídio em razão da raça, sexo, religião, orientação sexual e diferenças ideológicas. Que a Humanidade, no seu todo, tenha a capacidade suficiente de unir e envidar esforços para erradicar qualquer tipo de mundividências extremistas que ponham em causa a sobrevivência da Espécie Humana e os Direitos Fundamentais que lhe são inerentes. Never Again!