PIROGA FANTASMA (19): Os Inimigos do Povo


Faz hoje 17 anos que alguns insubordinados militares guineenses, coadjuvados por politiqueiros que abundam na nossa praça pública, fizeram a sublevação militar que ceifou a vida de inúmeras pessoas deixando, em consequência disso, sequelas indeléveis no país que ainda hoje se repercutem negativamente na vida dos pobres guineenses. Indivíduos desta estirpe não são parentes, nem patriotas, nem concidadãos, nem religiosos, nem podem ser humanos: são, sem margem para dúvidas, autênticos animais selvagens. 

Sete de Junho de 1998 ficará definitivamente registada nos anais da história da Guiné-Bissau como uma data fatídica, que contribuiu decisivamente para agravar o elevado índice de pobreza e de mortalidade, que já vinham afectando os cidadãos de forma drástica. 

Quero, do fundo do meu coração, lembrar aqui e prestar uma singela homenagem a todos os amigos, conhecidos, desconhecidos, guineenses e não guineenses, que tombaram injustamente na fratricida guerra civil, bem como aos que foram prejudicados por ela e continuam a carregar o enorme fardo dos seus efeitos diariamente. Da mesma sorte agradecer – profundamente – ao meu Eterno DEUS por me ter poupado a vida, juntamente com toda a minha família. A título de exemplo: ficamos em Bissau nos momentos mais intensos e críticos da guerra, nomeadamente a violação do cessar-fogo de 31 de Janeiro do ano seguinte, e, posteriormente, o massacre perpetuado deliberadamente no campo eclesiástico do CIFAB que acolhia aproximadamente cinco mil pessoas, aquando da tomada de Bissau e o triunfo final dos rebeldes da Junta Militar sobre o governo. Foram lançadas ali quatro bombas, três caíram literalmente em cima dos inofensivos refugiados, matando um número incontável de pessoas. Eu e parte considerável da minha família estávamos abrigados no referido local, e presenciamos todo este horror humano, para não falar de outras flagrantes situações em que encontrávamos mesmo perante o vale da sombra da morte, correndo sérios riscos de vida. Mesmo assim, pela maravilhosa graça de DEUS, nenhum mal nos sobreveio. Felizmente. O SENHOR protegeu-nos e livrou-nos da morte certa que se teria abatido sobre nós. Por isso, estou-Lhe penhoradamente grato por tudo que fez por mim e pela minha família. DEUS muito obrigado pelo teu incondicional cuidado e protecção!