Estou duplamente preocupado com a deriva consuetudinária
em que o regime democrático português se deixou enveredar nas últimas eleições
legislativas, culminando ontem com a pré-anunciada moção de rejeição do
programa do governo PSD-CDS interposta pelo PS (LER).
Temo pelos danos colaterais que esta inoportuna decisão terá no equilíbrio
político entre a esquerda e a direita (LER),
máxime na obstrução do frágil semipresidencialismo guineense onde os
politiqueiros da nossa praça pública estão astutamente à espera para virem
depois dar "o golpe no sistema" invocando, de forma
analógica e distorcida, a mudança verificada em Portugal.
Sem prejuízo de colocar em causa a legitimidade política
do Partido Socialista (PS) de se coligar com o Bloco de Esquerda (BE), Partido
Comunista (PCP) e Partido Ecologista os Verdes (PEV), para derrubar o governo
do Dr. Passos Coelho (ALI) e (AQUI),
contudo, entendo que esta opção não passa de mero oportunismo político. O que o
PS fez não dispõe de qualquer tipo de consentimento popular para o fazer. A
generalidade das pessoas que votou nele não o fez para liderar uma "coligação
de perdedores" e, deste modo, assumir a liderança do país a todo
o custo. Isto é uma autêntica "fraude eleitoral", como
peremptoriamente sentencia a Economista Manuela Ferreira Leite (LER).
Ademais, nem tudo o que é lícito é honesto. Na Política
não vale tudo e, muito menos, os fins devem justificar os meios. O programa
eleitoral do PS foi claramente rejeitado nas urnas pela generalidade dos
portugueses. E não pode vir agora refugiar-se numa "batota
esquerdista" para conquistar o poder a todo o custo, usando a "astúcia
da razão" para o efeito. Há moralidade na política, sobretudo o
dever de respeitar determinados tipos de princípios e valores ético-morais. O
desejo obstinado pelo poder só causa confusão na vida daqueles que não
conseguem resistir ao seu encanto. Na política é preciso saber ganhar e
concomitantemente saber perder. Decoro de que o actual PS não dispõe,
infelizmente.