Não podia deixar de concordar com Rita Ferro Rodrigues
pela sua intrepidez em denunciar veementemente o teor misógino da canção do afamado C4 Pedro que, de forma explicita, incita a violência
sexual contra as vulneráveis mulheres (LER).
Não acredito que a letra da música tenha o intuito pedagógico de alertar a
consciência social para o drama e o risco que milhões de mulheres correm
diariamente neste âmbito, tal como poderá induzir à primeira vista uma
leitura descuidada. O objectivo subjacente na intenção do artista angolano é
mesmo chocar o público e ganhar, com isso, ainda mais notoriedade. Foi, sem
margem de dúvida, um acto propositado e ignóbil.
Já há muitos anos que me desprendi do kizomba. Não faz
parte da minha rotina musical, bem como dos meus estilos favoritos. Raramente o
ouço. Não sei dança-lo e nem faço questão disso, tendo em conta o seu carácter demasiadamente lascivo.
A música está associada à poesia, à harmonia e à beleza (LER),
razão pela qual espera-se que se revista de conteúdo valorativo para enriquecer
a sociedade e não, inversamente, resvalar na vacuidade moral como tem sucedido
nos nossos tenebrosos dias.
C4 Pedro foi extremamente infeliz com a sua machista
música – o azar foi dele e não da inofensiva Belita. A única forma que dispõe agora para
redimir-se deste escusado imbróglio é pedir, humildemente, desculpa as mulheres
pelos danos causados. Ainda vai a tempo de fazê-lo.