Considerações Pascais: A Via Dolorosa para o Calvário III


É extremamente importante salientar o paralelismo entre o patriarca Abraão e o Senhor Jesus Cristo no processo da salvação, especialmente o dever de obediência que caracterizaram ambos na decisiva trajectória a Jerusalém para ofertar sacrifício a DEUS. Não se pode falar do Messias Salvador sem, no entanto, falar previamente de Abraão e vice-versa. O primeiro é o grande precursor da Lei e o segundo e a perfeita personificação da Graça. As duas incontornáveis figuras bíblicas estão visceralmente ligadas a Teologia da Salvação. A promessa dada ao patriarca Abraão teria apenas a concretização plena com a encarnação, morte e ressurreição do Filho de DEUS. 

Tal como Abraão foi desafiado para se dirigir ao “Santo Monte”, em Jerusaléme ali sacrificar o seu único filho, assim também foi com o Senhor Jesus em relação à Sua vida oferecida para resgatar a Humanidade outrora perdida no lamaçal do pecado. Tanto um como o outro correspondeu, sem hesitação, à solicitação Divina. Abraão fez-se acompanhar, segundo o Teólogo Joseph Ratzinger, citando as Escrituras Sagradas, para a longa viagem ao Monte Mória, em Sião, Jerusalém, dos seus dois servos. Da mesma sorte Jesus levou com ele os seus discípulos, granjeando, durante o percurso, outros tantos peregrinos que seguiam rumo a Jerusalém para assistir à páscoa dos Judeus. Na sua oração em Getsémani, momentos antes de ser preso e condenado à morte, já apenas com um grupo restritos dos seus discípulos, levou apenas consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu (Mateus 26:37), equivalendo, deste modo, o mesmo número de pessoas que cercava Abraão na viagem (Génesis 22:3). 

Nas duas misteriosas histórias, prossegue ainda Ratzinger, o burro esteve presente. Abraão viajou para o local de burro e Jesus entrou triunfalmente em Jerusalém montado num burro. O patriarca Abraão levou apenas o seu filho Isaque para “o lugar de adoração”, que que iria servir para a oblação. O Senhor Jesus, nos momentos cruciais, esteve praticamente sozinho. No primeiro momento, ainda em Getsémani com os discípulos, o autor sagrado regista que “afastou-se deles a uma curta distância e, pondo-se de joelhos” a orar (Lucas 22:41; Mateus 26: 39). No segundo momento, depois de ter sido preso, foi desamparado até à Sua cruenta morte na cruz (Mateus 26:31-32). E mais, Abraão somente viu o lugar que DEUS lhe havia indicado já no terceiro dia da viagem. O Senhor Jesus, de acordo com as Escrituras, ressuscitou ao terceiro dia (Lucas 24:46)

O patriarca Abraão e o Senhor Jesus representam o pacto de DEUS com a Humanidade, bem como a sua concretização holística. Podemos apenas evidenciar uma única diferença substancial neles: foi com o Senhor Jesus que fomos definitivamente justificados e passámos a ter paz com DEUS (Romanos 5:1-2) que, aliás, é o Único que dispõe desse poder remidor. Com a vida e obra do Messias prometido, o Todo-Poderoso DEUS honrou dignamente a Sua imaculada promessa. 

Resta, pois, a cada um de nós, cumprir, igualmente, com a sua parte neste admirável processo da salvação. Somos todos desafiados, sem excepção, pelas Escrituras Sagradas, a subir ao “Santo Monte” de DEUS e ali oferecer o nosso sacrifício vivo, santo e agradável a DEUS (Romanos 12:1). Sacrifício que deverá traduzir o genuíno arrependimento, conversão, contrição e santificação (Actos 26:20), levando-nos com ajuda do Espírito Santo que “cheguemos à unidade da fé e ao pleno conhecimento do Filho de Deus, ao homem adulto, à medida completa da estatura de Cristo” (Efésios 4:13). Que assim seja.