«O homem está na
terra a cumprir duro serviço,
os seus dias são
semelhantes aos de um assalariado.
Como um escravo,
suspira pela sombra,
como um
assalariado, anseia pela paga.
A sorte que me
coube foram meses a esperar em vão,
o que me deram
foram noites e noites de sofrimento.
Quando me deito,
penso:
“Quando
conseguirei levantar-me?”
A noite é longa e
farto-me de dar voltas até de manhã.
O meu corpo está
coberto de vermes e pó,
a minha pele,
cheia de chagas purulentas.
Os meus dias
passam mais rápidos que uma lançadeira
e chegam ao fim
sem qualquer esperança.
Lembra-te de que a
minha vida é como o vento
e nunca mais
voltarei a ver a felicidade.
Quem olhar para
mim deixará de me ver,
porque o teu olhar
caiu sobre mim e me aniquilou.
Como nuvem que se
desfaz e desaparece,
também o que desce
ao sepulcro não volta a subir.
Não regressa mais
à sua casa
e a sua morada
nunca mais o reconhecerá.
Por isso, não vou
deixar de falar;
falarei da
angústia que me oprime,
darei a conhecer a
minha amargura.
Será que sou algum
dos monstros marinhos,
para voltares
contra mim o teu olhar?
Ainda pensei que,
se me deitasse, estaria sossegado,
que isso aliviaria
as minhas queixas.
Mas tu
aterrorizas-me com pesadelos,
fazes-me ver
coisas que me metem medo,
de modo que eu
preferia morrer estrangulado
a viver com este
meu horrível esqueleto
Não posso viver
para sempre;
deixa-me, que os
meus dias não passam de uma ilusão!»
(Queixa de Job a DEUS, in A Bíblia Sagrada, Job 7:16, A Boa Nova Em
Português Corrente, Lisboa, Sociedade Bíblica de Portugal, 2004).