Advertência de Uma Feminista às Outras Feministas (II)

 
“Sou descendente de uma família de emigrantes italianos. Nessa altura, lembro-me perfeitamente, tudo estava organizado à volta de dois mundos, o das mulheres e o dos homens. As mulheres cozinhavam. Ficavam em casa, tratavam dos filhos. Os homens saíam e ganhavam dinheiro. Este foi um sistema que funcionou durante milhares de anos. 

REVISTA EXPRESSO: Porque é que o sistema atual não está a funcionar?

Porque estamos neste período urbano e industrial, estamos em plena era tecnológica, em que as tarefas profissionais se tornaram exatamente as mesmas para homens e mulheres. E ainda por cima trabalha-se com a cabeça, não com o corpo. As diferenças sexuais esbateram-se. As mulheres pensam que como têm igualdade no local de trabalho e no mundo da política, acham que as coisas vão mudar também em termos da forma como comunicam com os homens nas suas relações privadas. E estão infelizes. Não se sentem realizadas. Sentem-se sozinhas.

REVISTA EXPRESSO: Qual a verdadeira razão para isso?

A perda da solidariedade entre elas com a competição profissional. Perderam a partilha dos problemas de cada uma. Perderam o desabafo sobre o fardo que é ter um filho e criá-lo. Perderam a companhia umas das outras, o apoio umas das outras, e até coscuvilhice — a minha mãe e a minha avó tinham tudo isso — e agora querem que os homens, os maridos, as satisfaçam de todas as maneiras." 

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(Camille Paglia, in entrevista a Revista Expresso (LER). Conteúdo disponibilizado, por enquanto, apenas para os assinantes do jornal).