“Sou descendente
de uma família de emigrantes italianos. Nessa altura, lembro-me perfeitamente,
tudo estava organizado à volta de dois mundos, o das mulheres e o dos homens.
As mulheres cozinhavam. Ficavam em casa, tratavam dos filhos. Os homens saíam e
ganhavam dinheiro. Este foi um sistema que funcionou durante milhares de anos.
REVISTA EXPRESSO: Porque é que o sistema atual não está a
funcionar?
Porque estamos
neste período urbano e industrial, estamos em plena era tecnológica, em que as
tarefas profissionais se tornaram exatamente as mesmas para homens e mulheres.
E ainda por cima trabalha-se com a cabeça, não com o corpo. As diferenças
sexuais esbateram-se. As mulheres pensam que como têm igualdade no local de
trabalho e no mundo da política, acham que as coisas vão mudar também em termos
da forma como comunicam com os homens nas suas relações privadas. E estão
infelizes. Não se sentem realizadas. Sentem-se sozinhas.
REVISTA EXPRESSO: Qual a
verdadeira razão para isso?
A perda da
solidariedade entre elas com a competição profissional. Perderam a partilha dos
problemas de cada uma. Perderam o desabafo sobre o fardo que é ter um filho e
criá-lo. Perderam a companhia umas das outras, o apoio umas das outras, e até
coscuvilhice — a minha mãe e a minha avó tinham tudo isso — e agora querem que
os homens, os maridos, as satisfaçam de todas as maneiras."
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(Camille Paglia, in entrevista a Revista Expresso (LER). Conteúdo disponibilizado, por enquanto, apenas para os assinantes
do jornal).